Categorias
Informes

Aluno de Regência Orquestral da EM/UFRJ vence Concurso Novos Sons Brasileiros, da São Paulo Chamber Soloists

Tiê Kühl conquistou o primeiro lugar com a Suíte Ibirapuera, obra inspirada na natureza e na diversidade brasileira

O aluno Tiê de Kühl e Machado, do curso de Bacharelado em Regência Orquestral da Escola de Música da UFRJ, conquistou o primeiro lugar no Concurso Novos Sons Brasileiros, promovido pela São Paulo Chamber Soloists (SPCS), que recebeu mais de cem obras inscritas de todo o país.

Criada em 2020, a SPCS é formada por 14 solistas de cordas que se apresentam em diversas formações. O grupo vem ganhando destaque no cenário nacional e internacional, com um currículo que inclui apresentações em Nova York e Londres. Prova desse reconhecimento é a indicação ao Grammy Latino 2025, que reforça o impacto artístico do grupo e de iniciativas como o Concurso Novos Sons Brasileiros, voltado à descoberta de novos talentos da composição no país.

O concerto de encerramento do concurso aconteceu em 04 de outubro, no Teatro Cultura Artística, reunindo diversidade estética e gerações distintas. Foram apresentadas as obras dos finalistas Felipe Jacob (compositor e violonista paulistano, finalista de duas edições do Festival Tinta Fresca, da Filarmônica de Minas Gerais), Igor Maia (compositor e regente, doutor pelo King’s College London e professor da UFMG) e Tiê Kühl (multi-instrumentista e aluno de Regência Orquestral da EM/UFRJ).

Mesmo concorrendo com compositores mais experientes, foi a obra Suíte Ibirapuera, de Tiê, a escolhida como vencedora pelo júri formado por Esteban Benzecry (um dos principais compositores argentinos da atualidade); Clarice Assad (pianista e compositora indicada ao Grammy e reconhecida por transitar entre o clássico, o jazz e a música popular) e Catarina Domenici (pianista e professora da UFRGS, referência na música contemporânea brasileira).

A premiação é fruto de uma trajetória na EM/UFRJ que começou muito antes da graduação. Conforme contou em entrevista ao podcast Som do Passeio, aos sete anos, Tiê ingressou no Coral Infantil da UFRJ, sob a direção da professora Maria José Chivitarese, onde permaneceu por nove anos. “Foram os melhores anos, aprendendo com a melhor professora e participando de dezenas de óperas e concertos nos mais importantes palcos do Rio”, recorda. “O Coral Infantil da UFRJ é um trabalho de musicalização primoroso, base de inúmeros músicos profissionais. Devo muito do que sou hoje à querida Zezé.”

Atualmente cursando o quinto período de Regência Orquestral, Tiê vive intensamente a vida musical da Escola. “Me sinto num verdadeiro parque de diversões”, conta o aluno que não esconde o afeto instituição. “Tenho aulas com grandes músicos, canto no Coral Brasil Ensemble, da professora Zezé Chivitarese, toco violino na Camerata de Cordas da UFRJ, sob a direção do professor Fernando Pereira, e aprendo regência na prática junto à Orquestra Sinfônica da UFRJ.”

Segundo ele, a inspiração para a Suíte Ibirapuera, sua obra premiada, nasceu da pergunta instigante proposta pelo concurso: “O que te inspira?”. A resposta veio de forma imediata: a natureza. “Quando soube que o objetivo era homenagear São Paulo, pensei de cara no Parque Ibirapuera. Os parques sempre foram meus quintais, espaços de convivência, introspecção e contato com a natureza”, explica.

Pesquisando a história do parque, Tiê descobriu a presença marcante de nordestinos na sua construção e decidiu homenagear essa contribuição. Assim nasceu o primeiro movimento, Ibirá-obi, um baião em reverência ao Nordeste e à árvore pau-ferro, símbolo de resistência. Os demais movimentos — Lago das Garças, Jequitibá Rosa e Encontros no Ibira — retratam a diversidade e a convivência democrática que o parque acolhe. “O chorinho Encontros no Ibira teve influência direta das aulas que tive com o professor e compositor Carlos Almada”, destaca.

Com a serenidade de quem valoriza o caminho tanto quanto a conquista, o jovem compositor também revelou que o momento da apresentação foi para ele algo tão marcante quanto a vitória em si: “Ouvir o som ao vivo foi, para mim, um verdadeiro troféu”. Ele também fez questão de agradecer e dedicar a obra ao seu orientador ao longo de todo este processo, o professor Liduíno Pitombeira, bem como à pianista Patrícia Espinoza, sua namorada, também aluna de Regência Orquestral.

Entre os próximos passos, Tiê revela estar trabalhando em sua primeira sinfonia, “A Floresta Atlântica”, e na edição ilustrada do livro de partituras “Jobinianas – O Concerto”, em homenagem a Tom Jobim. Já a premiada Suíte Ibirapuera deverá ser lançada em breve nas plataformas digitais.

Encerrando com entusiasmo, Tiê recomendou ainda que o público conheça o álbum Radamés, da São Paulo Chamber Soloists, atualmente indicado ao Grammy Latino. “Agradeço à São Paulo Chamber Soloists pela oportunidade e por criar pontes. Essa experiência foi inesquecível.”

A entrevista completa com Tiê Kühl vai ao ar no episódio de 10/10 do podcast Som do Passeio.