176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Vida a serviço do repertório nacional

Matéria publicada no site da Revista Concerto (01/03/2019) entrevista Ernani Aguiar, maestro, compositor, professor e pesquisador, homenageado ao lado de Guinga no Festival de Música Contemporânea Brasileira.

Vida a serviço do repertório nacional
Por Irineu Franco Perpetuo

Uma conversa com Ernani Aguiar, homenageado ao lado de Guinga no Festival de Música Contemporânea Brasileira

Homenageado, neste mês, em Campinas, pelo Festival de Música Contemporânea Brasileira (FMCB), o compositor Ernani Aguiar, de 68 anos, está empenhado na composição de seu projeto mais ambicioso: a ópera O Aleijadinho, com libreto de André Cardoso.

“Não sei se vou conseguir terminar, mas já comecei”, afirma. Sua segunda incursão no gênero (a primeira foi O menino maluquinho, de 1989, baseada no livro infantil homônimo de Ziraldo) não se deve a encomenda nem a demanda externa, mas a uma necessidade interior. “O menino maluquinho eu fiz por dinheiro. O Aleijadinho é um velho sonho, estou fazendo por amor”, sintetiza.

Chegando, em 2019, à sexta edição, o Festival de Música Contemporânea Brasileira consiste em cinco dias de atividades gratuitas, unindo performances artísticas e atividades acadêmicas com a presença dos compositores homenageados. Promovido pela CPFL Energia e dirigido por sua criadora, a pianista Thais Nicolau, o evento deste ano tem apresentações, entre 26 e 30 de março, de atrações como o Quinteto da Paraíba, Unicamp Cello Ensemble, Coro Contemporâneo de Campinas e a cantora Monica Salmaso, além do tradicional concerto de encerramento com a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, sob a regência de Ricardo Bologna.

A cada edição, é homenageado um par de compositores, e, em 2019, quem forma dupla com Aguiar é o músico popular Guinga – fluminense como Ernani e igualmente nascido em 1950 (o vascaíno Guinga, de junho, é dois meses mais velho que o botafoguense Aguiar, de agosto). “Telefonei uma vez para Guinga, e parecia que a gente já se conhecia havia 38 anos”, conta Ernani, que, dada a afinidade com o colega, até sugeriu o termo “Aguingar” como síntese de ambos. “Não o conhecia pessoalmente, mas é claro que a música dele, sim. Com a facilidade do YouTube, hoje ouço todo tipo de música. E cobro isso de meus alunos”, diz.

Sua atividade docente remonta a 1987 e, nessas três décadas, já formou incontáveis alunos de regência na Escola de Música da URFJ. “Quando me formei em regência, eu só tinha quatro sinfonias de Beethoven, que deu muito trabalho conseguir. Hoje, com a internet, os alunos têm tudo à disposição – e não estudam”, exaspera-se.

Aguiar foi aluno de Paulina d’Ambrosio e Santino Parpinelli (violino e viola) e Carlos Alberto Pinto Fonseca (regência), no Brasil, e estudou no Conservatório Cherubini, em Florença (Itália). Conterrâneo e discípulo, na composição, de Guerra-Peixe (ambos são naturais de Petrópolis, embora Ernani goste de se declarar mineiro de Ouro Preto), ele vem obtendo bastante êxito com obras escritas em um idioma acessível. Algumas de suas peças tiveram, inclusive, boa difusão internacional, como Quatro momentos nº 3 (1979), para cordas, que serão tocados pelo Quinteto da Paraíba no dia 27, ou o Salmo 150 (1993), que o Coro Contemporâneo de Campinas apresenta no dia 28. No mesmo concerto, Isaac Emerick toca a mais recente criação do compositor: Monodia nº 2 para trompa solo, concluída nos últimos dias de 2018.

Divulgação
ernani

“Há muito tempo decidi fazer música para que quem toque goste e quem ouça também”, define. “Descartei todos os ismos. Sou acusado de compositor de sambinha e fico feliz da vida com isso.”

Falando em samba, no concerto de encerramento do FMCB será tocada sua Sinfonietta seconda carnevale (2003), que prevê a participação do público ao cantar a melodia do último movimento, intitulado, sintomaticamente, Escola de samba. A apresentação traz ainda a Abertura Minas Gerais, escrita em 2017, para a XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, que brinca com a ambiguidade da origem do compositor (um fluminense que se reivindica mineiro) e homenageia o compositor colonial Emerico Lobo de Mesquita, patrono da cadeira 4 da Academia Brasileira de Música, que é ocupada por Aguiar.

Em sua carreira de regente, ele fez muito pela divulgação da música brasileira do período colonial, estando especialmente associado à gravação de obras do Padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830). Em 2017, para homenagear os 250 anos de nascimento do compositor, regeu a estreia contemporânea das Matinas de Santa Cecília, em edição de Aluízio Viegas.

Neste ano, contudo, a prioridade, no pódio orquestral, é dar muita vida à obra de um contemporâneo com o qual sente bastante afinidade. Como regente, Aguiar faz, em maio, no Rio de Janeiro, com a Orquestra Sinfônica da UFRJ, a estreia da Sinfonia em dó, do compositor carioca Sérgio di Sabbato, de 64 anos. “Ele tem quatro sinfonias para cordas, eu estreei todas; e agora ele está explorando as possibilidades do dó nessa obra”, conta.

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