176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

O Album de Autographos que Alberto Nepomuceno organizou

O acervo de manuscritos da Biblioteca Alberto Nepomuceno guarda um volume que expõe uma parte da presença de compositores e instrumentistas de diferentes nacionalidades, na hoje denominada Escola de Música da UFRJ, assim como registra a de uma pianista brasileira, cuja carreira foi consolidada no exterior.

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A existência desse volume tem por data a segunda gestão-1906-1916-, de Alberto Nepomuceno, no Instituto Nacional de Música, e trata-se de um Album de Autographos (foto).

Após sua organização, para que a partir daquele ano de 1911 fossem coligidos os autógrafos daqueles que na Escola estiveram em missões oficiais, intercâmbios, ou mesmo, para apresentações artísticas, constam nele quarenta e oito assinaturas.

Sobre os Autógrafos

O primeiro autógrafo que nele consta, com data de 12 de agosto de 1911, pertence ao compositor polonês Ignacy Jan Paderewski-1860-1941-. Desse compositor conhecido como Padereswski, pode ser dito que, muito embora, tenha sido um compositor muito aplaudido pela crítica e tenha sido considerado um dos mais famosos pianistas entre os séculos XIX e XX, sua vida não se manteve limitada às margens de partituras: na 1ª Guerra Mundial foi membro do Comitê Polaco que defendia a formação do Estado polonês e, na 2ª Guerra Mundial, assumiu, em Paris, o cargo de Presidente da Polônia em exílio, até que a França fosse ocupada pelos nazistas.

No exame dos autógrafos inscritos na década dos anos de 1920, assim como na dos anos trinta e também na dos anos da década de 1940, observa-se que junto às assinaturas, muitos compositores e instrumentistas desenharam no Album de Autographos pentagramas e citaram temas de suas obras. Entre os que assim fizeram, destaca-se o autógrafo  de José Vianna da Motta–1868-1948-, compositor de  muitas valsas, mazurcas, polcas, marchas e fantasias. Ele foi também maestro e pianista e um dos últimos discípulos de Liszt, em Weimar. A presença de Vianna da Motta no Instituto Nacional de Música aconteceu na gestão de Abdon Milanês, ou seja, apenas cinco anos antes de Guilherme Fontainha, um de seus alunos, assumir a direção do instituto-1931-1937-.

Ainda na década de 1920, de relevância singular, o compositor, violista, violinista, musicólogo e pianista Ottorino Respigli-1879-1936-, esteve no Instituto Nacional de Música, em 1927, quando este era dirigido por Fertin de Vasconcellos. Respigli compôs  óperas, baladas, concerto gregoriano para violino, várias peças para música de câmera, além de ser autor do poema sinfônico intitulado Trilogia Romana composta pelas peças As Fontes de Roma, Os Pinheiros de Roma e As Festas de Roma. Na busca de reprimir os excessos do Verismo Triunfalista na Itália e recuperar as tradições musicais daquele país, entre as quais, os cantochões, as informações recolhidas fazem referência às dificuldades enfrentadas por ele frente ao fascista Benito Mussolini.

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 Autógrafo, com data de 12 de agosto de 1911, do compositor polonês Ignacy Jan Paderewski.

No elenco dos compositores e instrumentistas que com suas assinaturas no Album de Autographos se inscreveram na memória da História dessa instituição de ensino musical que é a mais antiga do país, a leitura do volume que já se encontra digitalizado e disponível na Base MINERVA da UFRJ, permite verificar que entre aqueles que estiveram na hoje denominada Escola de Música da UFRJ, alguns deles também ocupavam cargos de dirigentes ou professores em instituições dedicadas ao ensino musical, ou em cargos de direção em espaços dedicados a espetáculos do mundo da música.

Esses  foram os casos: do Diretor do Teatro Nacional da Ópera Cômica de Paris, Loui Masson-1925-1932; do Sub-Diretor do Conservatório de Lisboa, Hermínio do Nascimento-1890-1972-; do professor do Liceo Musicali di Bologna, Nino Rossi-1890-1972-; de Sergei Dorenski-1931-2020- pianista e professor  do Conservatório de Moscou; e Emil Frey- 1889-11946- compositor suíço também professor do Conservatório de Moscou.

Ainda no âmbito da observação de alguns autógrafos, além de desenhos de pentagramas e citações das respectivas obras que compositores e instrumentistas fizeram constar no Album de Autographos, outros deixaram assinalado o incentivo aos compositores e instrumentistas do Instituto Nacional de Música, assim como a aprovação ao trabalho ali desenvolvido, e as congratulações aos resultados obtidos pela Escola Nacional de Música. A ver:

Emil Frez deixou junto a seu autógrafo, o incentivo aos compositores e instrumentistas do Instituto Nacional de Música, desejando que: “os executores e compositores sejam sempre maiores artistas brasileiros para a sua glória e a glória do Brasil”. Hermínio do  Nascimento agradeceu a acolhida e observou: “a serenidade com que se pratica nessa casa os melhores métodos de ensino musical e a dedicação com que cultuam as gloriosas tradições do Instituto”.

 Magdalena Tagliaferro que foi recebida quando, no governo de Getúlio Vargas por determinação da Lei 452, o nome do Instituto Nacional de Música já havia sido alterado para Escola Nacional de Música, escreveu: “com a mais viva emoção e infinitamente grata felicito ao eminente Diretor Antonio de Sá Pereira da Escola Nacional de Música  como  seus professores pelos brilhantes resultados obtidos”

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 Autógrafo de Leo Brouwer, compositor, violonista e regente da orquestra cubano;

Entre os alunos de Magdalena Tagliaferro-1893-1968-, pianista de consolidada carreira internacional, que com apenas 13 anos de idade foi admitida no Conservatório de Paris e onde na Cátedra do mesmo conservatório, no ano de 1937, havia sucedido a Isidor Philipp- 1863-1958-, na classe de aperfeiçoamento e virtuosidade, cabe destacar o nome do concertista, compositor e professor Heitor Alimonda, da Escola de Música da UFRJ, que assim passou a ser nomeada em conseqüência do Decreto-Lei de número 53, durante o governo do general Castelo Branco, na ditadura militar. Como suas alunas constam também os nomes de Maria Josephina Mignone e Eudóxia de Barros.

As lacunas dos Autógrafos

Em 1942, na administração do Diretor Antonio Sá Pereira-1938-1946-, no Album de Autographos foi registrada a última assinatura do século XX. Ou seja, nas subsequentes gestões de: Joanídia Sodré-1946-1967-; Yolanda Ferreira-1967-1971-; Maria Luiza Priolli-1976-1980-; Andrely Quintella de Paola-1980-1985-;Diva Mendes Abalada-1985-1989-; Maria Célia Machado-pro-tempore; Colbert Hilgenberg Bezerra- 1990-1991-; Sônia Maria Vieira-1992-1994-;José Alves-1992-1994-; não houve mais nenhum registro naquele álbum.

Mas, tal ausência de assinaturas de próprio punho no Album de Autographos não significa que a Escola de Música da UFRJ não tenha em todas essas décadas recepcionado compositores e instrumentistas. Exemplifica esta afirmativa, o registro da presença da consagrada pianista Guiomar Novaes, no Instituto Nacional de Música não constar no Album de Autographos, mas de ter sido noticiada e registrada pela revista Fon Fon, assim como a presença do violinista Jascha Heifetz não constou naquele álbum como demonstrado na foto desse artigo. Seja como for, o fato é que, somente quando, a Escola de Música da UFRJ passou a ser administrada por João Guilherme Ripper-1999-2003-, Sergei Dorensk, que muito antes de se fazer presente na Escola de Música da UFRJ em 2002, já havia sido agraciado, em 1957, com o 2º Prêmio do Concurso Internacional de Piano no Rio de Janeiro, faz constar no Album de Autographo a sua assinatura.

Uma outra lacuna e outros autógrafos

A partir do término da gestão de João Guilherme Ripper, não houve mais no volume que Alberto Nepomuceno organizou nenhum outro autógrafo, até que na segunda gestão de André Cardoso–2011-2015-, eles voltam a ser novamente coligados aos anteriores. Um pertence ao compositor e violonista Leo Brower- 1939-, o outro a Philip Glass-1939-. um dos mais influentes compositores do século XX.

Philip Glass tem no rol de suas composições: concertos, sinfonias, óperas, entre as quais, Einstein on the beach, e trilhas sonoras para os seguintes filmes: O Show de Truman: o show da vida; O Ilusionista e Notas sobre um escândalo que valeu a ele a indicação ao Oscar. A ele pertence também a trilha sonora do filme Nosso Lar, lançado em novembro de 2010 que trata da vida pós-morte. Com o grupo instrumental mineiro Uakti compôs as músicas do disco que tem por título As águas da Amazônia, entre outras muitas composições. 

Depois dessas duas assinaturas, nenhuma outra foi registrada. Como antes sinalizado nesta matéria, não se sabe se a ausência dos registros deve-se ao esquecimento, ao não conhecimento do Album de Autographos, ou, a quaisquer outras razões.

Referências
Album de Autographos. Biblioteca Alberto Nepomuceno.
Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro: História & Arquitetura. Andrely Quintella de Paola, Helenita Bueno Gonsalez. Rio de Janeiro: UFRJ, SR5,1998.
Diferentes sites
Foto da Revista Fon Fon e do artigo a respeito da presença do violinista Jascha Heifetz, cedidas por André Cardoso.

Correspondência

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