Orquestra de Sopros da UFRJ apresenta obras de compositores brasileiros em concerto da série “Brasilianas”

No dia 10 de julho, às 19h, o Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, recebe a Orquestra de Sopros da UFRJ para o concerto de abertura da série Brasilianas 2025. A regência será do maestro Marcelo Jardim e a entrada é franca.

A série “Brasilianas” integra a programação comemorativa dos 80 anos da Academia Brasileira de Música (ABM), instituição fundamental para a memória e o desenvolvimento da música de concerto no Brasil. Em sua edição de 2025, o projeto apresenta um panorama abrangente da produção musical brasileira vinculada à ABM, destacando compositores que fazem parte da história da Academia como patronos, fundadores ou sucessores.

O concerto da Orquestra de Sopros será dividido em três partes. A primeira contempla obras de câmara, com Miri-Miri, pequena suíte para oboé solo de Kilza Setti, interpretada por Queren Souza, e Oriens III para três flautas, de Ronaldo Miranda, com Jean Gabriel, Arthur Figueiredo e Júlia Martins.

A segunda parte destaca o universo das bandas de música, com dobrados de Sérgio de Vasconcellos-Corrêa e do maestro recentemente falecido Ernst Mahle, além da Suíte Retreta, de Ricardo Tacuchian. Já a terceira parte do programa foca no repertório da banda sinfônica e nas trilhas sonoras, com The Joy of Living de Amaral Vieira, Cine-Teatro 5 de Junho de Liduíno Pitombeira e a estreia de Ênnio, obra inédita em homenagem ao compositor italiano Ennio Morricone, composta por Tim Rescala especialmente para a ocasião.

A apresentação reforça o compromisso da Escola de Música da UFRJ e da ABM com a difusão da música brasileira e a valorização de seus compositores.

Serviço
Concerto da Orquestra de Sopros da UFRJ – Brasilianas 2025
Data: 10 de julho de 2025 (quinta-feira)
Horário: 19h
Local: Salão Leopoldo Miguez – Escola de Música da UFRJ
Endereço: Rua do Passeio, 98 – Centro (RJ)
Entrada franca

Informações:
📧 abmusica@abmusica.org.br

Em 02/09, Orquestra Sinfônica da UFRJ faz concerto de sua 100ª temporada com obras brasileiras e estreia de Ernani Aguiar

Em 02 de setembro, às 19 horas, a Orquestra Sinfônica da UFRJ retorna ao palco do Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, para mais um concerto da sua centésima temporada. Desta vez, a apresentação contará exclusivamente com obras de compositores brasileiros. A regência será do vice-diretor da EM/UFRJ, o maestro Marcelo Jardim.

O “Batuque” da Suíte Reisado do Pastoreio, de Lorenzo Fernandez, abre o programa com especial significado por representar as mais de 200 obras executadas pela orquestra em estreia mundial ao longo de sua trajetória artística. A obra teve sua estreia exatamente no palco do Salão Leopoldo Miguez em 29 de agosto de 1930. Mais relevante se torna a execução por ter o “Batuque” se consagrado como uma das obras orquestrais mais conhecidas e executadas de compositor brasileiro, tanto no país quanto no exterior.

A estreia da noite é a Sinfonia “Serrana”, de Ernani Aguiar, obra com textos de poetas nascidos em Petrópolis e que traz para o concerto a participação do Coro Sinfônico da UFRJ, grupo formado pela junção de todas as turmas de Canto Coral da Escola de Música, sob a responsabilidade das professoras Maria José Chevitarese (Brasil Ensemble), Valéria Matos (Sacra Vox), Juliana Melleiro Rheinboldt e do professor André Protásio (classes de Canto Coral), abrilhantados pela participação especial do professor e barítono Marcelo Coutinho como solista.

O programa finaliza com uma obra emblemática de Villa-Lobos, um ex-aluno da Escola de Música que se consagrou internacionalmente como um dos grandes compositores do século XX. O Choros no10 apresenta uma espécie de quadro sonoro da natureza e da cultura brasileira, amalgamando, de certa forma, os ambientes rurais e urbanos. Na primeira parte se ouve uma “variedade de pássaros que existem em todo o Brasil, sobretudo os que vivem nos bosques e florestas e os que cantam à madrugada e ao entardecer nos infinitos sertões do Nordeste”. Na segunda parte, melodias “à maneira dos cânticos de rede que os índios Parecis entoam” se juntam aos vocalizes do coro “sem nenhum sentido literário”, mas “apenas servindo de efeitos onomatopaicos, para formar ambiente fonético característico da linguagem dos aborígenes”. O elemento urbano é a melodia da schottish “Yara”, de Anacleto de Medeiros, outro ex-aluno da Escola de Música, reconhecido como um dos mais importantes nomes na consolidação do choro como forma musical instrumental típica do Rio de Janeiro no início do século XX. Um elemento a mais é a letra incorporada pelo poeta seresteiro Catulo da Paixão Cearense, cuja passagem pelo Instituto Nacional de Música, a convite de Alberto Nepomuceno, o fez merecedor de uma placa em sua homenagem.

A entrada é gratuita e a apresentação está marcada para as 19h, no Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, que fica na Rua do Passeio, 98, próximo à estação Cinelândia do metrô.

 

PROGRAMA

1. Oscar LORENZO FERNANDEZ (1897-1948) – Batuque da Suíte Reisado do Pastoreio (1930) 4’

2. Ernani AGUIAR (1950) – Sinfonia “Serrana” (2024) 20’ estreia

I- “Ária do Forte” (Allegro) – Texto de Reynaldo Chaves
II- “Antúrios” (Lento) – Texto de Wolney Aguiar
III- “Noturno” (Andante calmo) – Texto de Raul de Leoni
IV- “Aquela Serra” (Allegro molto) – Texto de Hélio Chaves

3. Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959) – Choros no10 “Rasga Coração” (1926) 13’
Texto de Catulo da Paixão Cearense

Marcelo Coutinho (barítono)
Coro Sinfônico da UFRJ
(Classes dos professores Maria José Chevitarese, Valéria Matos, Juliana Melleiro Rheinboldt e André Protásio)
Orquestra Sinfônica da UFRJ
Regência de Marcelo Jardim

 

Escola de Música entrevista o maestro e compositor colombiano Rubén Darío Gómez Prada

Entre os dias 20 e 27 de maio, a Escola de Música da UFRJ receberá o maestro e compositor colombiano Rubén Darío Gómez Prada, diretor do programa de bandas da Southern Illinois University-Edwardsville (EUA) para uma intensa agenda de atividades junto ao Projeto de Extensão Sistema Pedagógico de Apoio às Bandas de Música.

Em 20/05, Rubén dará aulas de regência para a classe de Regência de Banda, bem como para as classes de Introdução à Regência. Em 22/05, o maestro oferecerá uma oficina de composição para banda sinfônica, a qual contará com a coordenação do professor Liduino Pitombeira. Em ambos os dias, bem como em 23/05, Rubén estará também envolvido nos ensaios da Orquestra de Sopros da UFRJ. Finalmente, para completar as atividades, no dia 27, às 19h, o maestro regerá a Orquestra de Sopros da UFRJ no Salão Leopoldo Miguez num concerto que contará com obras do repertório contemporâneo para banda sinfônica.

Além de gratuito, o concerto em questão integrará a campanha de solidariedade com a população impactada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Serão aceitas doações de itens como: água mineral; alimentos não perecíveis; itens de higiene e limpeza; botas e roupas impermeáveis para equipe de salvamento; roupas e calçados limpos e em bom estado de conservação; colchonetes e cobertores; além de ração para cães e gatos.

Por conta de sua visita ao Rio, os professores da Escola de Música da UFRJ, Marcelo Jardim e Gabriel Dellatorre, fizeram uma entrevista com o maestro. Confira:

Marcelo Jardim: Rubén, nos conhecemos há praticamente duas décadas e digo que é um imenso prazer recebê-lo como professor convidado em nossa Escola de Música da UFRJ. Conte-nos um pouco da sua trajetória com o trabalho com as bandas, desde a Colômbia até os dias atuais.

Rubén Darío Gómez: O prazer é meu também, Marcelo. Meu primeiro instrumento foi a clarineta, quando comecei a tocar na banda da minha universidade, em Bucaramanga, Colômbia. Em 1998 ingressei no Ministério da Cultura como conselheiro para as atividades vinculadas às bandas e atuei nas áreas de teoria musical e regência. Em 2003 comecei a escrever obras especificamente para bandas sinfônicas e desde então não parei de compor para as diversas formações das bandas. Entre 2003 e 2015 atuei na regência de diversas bandas na minha cidade, incluindo a banda da minha própria escola de música (uma banda infantojuvenil) e a banda da universidade onde eu trabalhava, formada basicamente por estudantes de música. Em 2015 fui para os Estados Unidos, onde fixei residência, fiz mestrado e doutorado em regência de banda, além de me dedicar mais ao estudo de composição. Foi uma grande mudança em minha vida, e desde 2020 sou o Band Director, coordenador das atividades de bandas, da Southern Illinois University-Edwardsville. Minhas funções na universidade incluem a regência e coordenação musical da wind ensemble (orquestra de sopros) e das aulas de regência para alunos de graduação e pós-graduação. Também sou regente assistente da Banda Municipal de Edwardsville e regente associado da Saint Louis Wind Symphony.

MJ: O que você planejou para as atividades que irá desenvolver aqui, com nossos estudantes da EM/UFRJ?

RDG: Temos várias ações para esta semana. Para a Orquestra de Sopros da UFRJ, que é um grupo de alunos avançados e com experiência na prática de banda sinfônica, pretendo fazer uma programação com obras de compositores dos Estados Unidos e algumas de minhas composições. Conforme conversamos, em nossa troca de informação que antecede a esta programação, minha ideia foi a de expor os alunos ao contato de obras de compositores que podem ser desconhecidos para eles, como Julie Giroux ou David Maslanka, mas que são de grande importância para o universo das bandas atuais, bem como a oferecer a todos os estudantes da banda a oportunidade em trabalhar com um compositor-regente, o que é uma experiência sempre gratificante para ambos os lados.

Para os alunos de regência, planejei dois workshops de regência de banda, um para os alunos de regência de banda, diretamente, e outro, aberto a todos os estudantes com interesse em regência, de uma forma geral. Nestes workshops, poderemos trabalhar alguns aspectos de técnica de regência, interpretação e estudo da partitura. Pretendo também trabalhar com algumas obras padrão do repertório da banda universal que são de estudo obrigatório para todos os regentes.

Haverá uma outra atividade ainda, em formato de palestra, sobre repertório para bandas de compositores latino-americanos, no qual vou abordar também o tema sobre composição para bandas. Nesta palestra apresentaremos obras de compositores historicamente importantes, bem como algumas obras mais recentes de compositores mais jovens.

Gabriel Dellatorre: Rubén, eu atuo bastante com grupos jovens, com edição de partituras e percebo ainda um longo caminho no Brasil para uma melhor compreensão sobre a questão do nivelamento técnico para as composições. O que você poderia falar sobre este ponto, na organização pedagógica por níveis de dificuldade, na escrita para as bandas?

RDG: Gabriel, excelente ponto e para o qual precisamos dar toda a atenção. Quando o repertório é organizado por níveis de dificuldade, toda a organização e planejamento do trabalho fica mais sistemático e o progresso dos alunos pode ter um melhor acompanhamento. O repertório, quando escrito levando-se em consideração o nível técnico a que se pretende, permite explorar o potencial interpretativo dos alunos porque quando as obras estão ao nível dos alunos e os aspectos técnicos podem ser vencidos com alguma facilidade, o regente ou o educador musical pode explorar aspectos interpretativos ou técnicos que seriam impossíveis de se alcançar com obras que ultrapassem as capacidades técnicas musicais dos estudantes.

Outra vantagem do repertório classificado por níveis técnicos é que os regentes e gestores de projetos podem encomendar obras de acordo com as habilidades musicais de seus alunos, tendo a certeza de que as obras poderão ser executadas de forma adequada. Isso favorece o crescimento do repertório e quando as obras são efetivas, significa também que outras bandas podem programá-las, favorecendo a circulação da música deste compositor.

GD: Foi uma experiência muito gratificante ter sido o preparador do grupo para este concerto, pois tive um contato direto com duas de tuas obras, Latinoamerica Despierta e Montaña Mágica, e vou poder te acompanhar no prosseguimento a esta preparação inicial. Gostaria que você falasse um poco sobre elas.

Fico feliz que tenha gostado de trabalhar as duas obras com o grupo, Gabriel. Latinoamerica Despierta foi escrita em 2020 para comemorar o 50º aniversário da banda Boston Winds, sediada na cidade de Boston, nos Estados Unidos. A obra é baseada nos movimentos de protesto social que ocorreram em diversos países da América Latina, os quais sofreram por anos com governos que procuram apenas o benefício de pequenos grupos e enriquecimento pessoal em detrimento de encontrarem soluções para os problemas do cotidiano da população, o que resultou em pobreza e sofrimento. Diante desta situação, o povo procurou sempre se manifestar e, em alguns casos, ‘acordou’ e conseguiu estabelecer governos mais justos e socialmente responsáveis, e que não se posicionam somente do lado dos poderosos. A Montaña Mágica (A Montanha Mágica) é inspirado em um lugar muito bonito, com uma imponente montanha, localizado no município de Santa Elena, no Departamento de Antioquia e muito próximo da cidade de Medellín. Conheci esse lugar em 2006 e ali encontrei tranquilidade, paz e… silêncio. Depois de passar alguns dias lá, me senti impelido a escrever sobre a experiência que tive e decidi que deveria escrever uma obra que pudesse retratá-la musicalmente.

MJ: Ruben, você estará conosco na Escola de Música da UFRJ, que é a mais antiga instituição oficial de música fundada no Brasil, e que formou várias gerações de músicos. O curso de regência de banda que temos é relativamente novo, mas foi o primeiro curso de bacharelado em regência de banda em uma universidade federal no Brasil, e em um país com milhares de bandas de música e bandas sinfônicas. Qual conselho você daria aos estudantes de regência e novos regentes que planejam se tornar regentes de bandas ou orquestras?

RDG: O principal conselho que é: prepare-se muito bem para cada momento que estiver a frente de uma banda, orquestra ou coro. Os músicos com os quais atuamos e a música que dirigimos merecem todo nosso respeito e a forma de demonstrarmos isso é com a nossa melhor preparação. E a preparação não deve ser somente na parte técnica da regência (gestual) mas principalmente nos aspectos intelectuais. Estudar a partitura, conhecer a história da música, a orquestração, os princípios da afinação, o equilíbrio, o treinamento auditivo para que se possa ouvir muito bem o que vem do grupo musical e poder oferecer ajuda em todos os aspectos da música, tudo isso faz parte da preparação intelectual do regente.

Procure conhecer e se familiarizar sobre estilos musicais diversos, para que possa conhecer e reconhecer que tipo de estilo tem a música que irá ser preparada e como atingir o melhor resultado desse estilo na prática de conjunto. As músicas não precisam soar iguais, pois se diferem em forma, estrutura e estilo e o regente que se familiariza com o maior número possível de estilos musicais terá maior capacidade em desenvolver trabalhos mais direcionados na preparação de cada obra musical.

Adquira e desenvolva uma boa bagagem de ferramentas pedagógicas. Este aspecto da preparação do regente precisa ser observado com cuidado e perseverança, pois isso não é conquistado da noite para o dia, e é algo que se consegue com o tempo, através de experimentação, pesquisa e contato com colegas, professores e especialistas. Devemos ter ferramentas pedagógicas precisas para cada situação, para cada tipo de formação musical e muitas vezes, especificamente, para cada grupo musical. Vários são os fatores que nos obrigam a dispor de diferentes abordagens pedagógicas, tais como idade média do grupo, nível mediano de preparação musical, tamanho e tipo de formação, instrumental etc.

Esteja preparado para todos os diferentes contextos e situações (favoráveis ou desfavoráveis), quando for atuar como regente, seja em uma escola ou em um grupo avançado. É sempre muito difícil para os regentes preverem o que pode ocorrer em uma preparação musical. Por fim, uma dica valiosa: fale sempre com os músicos em uma linguagem positiva. Mesmo quando as coisas aparentemente não parecem ir bem, há sempre uma maneira positiva de lidar com cada situação. Nenhum músico quer ser tratado de forma desrespeitosa e se sentir desqualificado. Assim, pense antes de tomar uma atitude que pode provocar uma ruptura no trabalho em equipe, e procure sempre encontrar uma forma criativa e positiva de dizer o que é necessário.