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Orquestra Sinfônica da UFRJ celebra centenário em concerto histórico na Sala Cecília Meireles

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foto: Fábio Caffe

 

Em 25/09, a Sala Cecília Meireles foi palco de um concerto histórico: o centenário da Orquestra Sinfônica da UFRJ. Exatos 100 anos antes, em 25/09/1924, deu-se no Salão Leopoldo Miguez a primeira apresentação da então Orquestra do Instituto Nacional de Música (primeira encarnação da atual OSUFRJ).

"A ocasião era uma solenidade de entrega de prêmios a alunos laureados, na qual esteve presente, inclusive, o então presidente da República Arthur Bernardes. Dirigida pelo professor Ernesto Ronchini, a orquestra contou com 33 alunos, vários dos quais viriam depois a se destacar no cenário musical brasileiro, como o violoncelista Iberê Gomes Grosso, o violinista Oscar Borgerth, a violinista Mariuccia Iacovino e Yolanda Peixoto, a primeira spalla da Orquestra. Foram executados dois números de uma suíte do compositor Leopoldo Miguez, Cenas Pitorescas, e duas pequenas danças de autoria do próprio maestro Ronchini", comenta o maestro André Cardoso, diretor artístico da OSUFRJ. Foi um concerto breve, mas fundamental.

Cem anos depois, ali perto, ocorreria aquele que pode ser descrito como um dos mais importantes concertos da história da Orquestra, sob a regência de três gerações de maestros que estiveram à sua frente: André Cardoso, Roberto Duarte (titular entre 1978 e 1995) e Ernani Aguiar (titular entre 1995 e 2023), todos merecidamente homenageados ao longo da noite, vale salientar.

A Sala Cecília Meireles lotada pode acompanhar uma impactante apresentação que incluiu o Episódio Sinfônico de Francisco Braga, o “principal regente da Orchestra do Instituto Nacional de Música”. A obra foi composta em 1898 e se tornou uma das mais executadas pela orquestra ao longo de suas cem temporadas.

Em seguida foi apresentado o Scherzo Sinfônico, de Raphael Baptista, um dos maestros responsáveis pela reformulação da orquestra em 1969 e nomeado seu regente titular em 1977. Outro destaque foi a emocionante ária Era un Tramonto d’oro, impecavelmente interpretada pelo barítono Inácio de Nonno, e que suscitou gritos de “bravo” entre os presentes. A peça relembra a gravação da ópera Colombo, de Carlos Gomes, que conquistou prêmios importantes no final dos anos 1990.

O público também pode apreciar Sugestões de Coral e Dança, de César Guerra-Peixe, e a estreia mundial do poema sinfônico O Pássaro Mágico, de Pedro Lutterbach, vencedor de um concurso de composição em homenagem ao centenário da UFRJ. A obra, inspirada em uma lenda indígena, narra a história de um tincoã que se transforma em homem e enfrenta desafios amorosos e tribais.

Os quinze minutos de pausa foram providenciais para que todos pudessem se recompor de tão belo e emocionante espetáculo, que chegava apenas em sua metade ainda.

Na segunda parte, a música se tornou mais popular, com Saudades de Pirapora, peça original de Everson Moraes, trombonista da Orquestra, que presenteou o público com uma deliciosa “história de pescador” acerca de um oficleide (raríssimo precursor do saxofone), encontrado por seu Nilton, o agora “pescador de oficleide”, nas margens do Rio São Francisco, em Pirapora (MG).

A história é tão insólita que vale o parêntese. Após décadas submerso, o instrumento chegou às mãos do músico da Orquestra, que descobriu que ele já havia passado pelo Rio de Janeiro há mais de 100 anos. O oficleide, muito utilizado por bandas e orquestras no passado, estava em péssimas condições, levando o luthier Marcelo Castro a realizar reparos por oito meses. Reza a lenda que ele inclusive decidiu se aposentar depois deste trabalho. Durante a restauração, foram encontradas marcas que indicavam sua origem no Rio, como a assinatura de um fabricante francês e um endereço de uma loja carioca. Everson escolheu tocar a famosa Carinhoso, de Pixinguinha, ao reintroduzir o instrumento após sua incrível jornada.

A festa seguiu com o tango Aí, Morcego, de Irineu de Almeida, peça que contou com participação especial de todos os presentes na plateia. Após um breve “ensaio”, ao sinal do maestro André Cardoso, toda a casa soltava a voz e repetia “Aí, Morcego!”, rendendo uma homenagem ao boêmio Norberto Amaral, o Amaral dos Correios, que, sob a alcunha de “Morcego”, ganhou fama de “o maior carnavalesco de todos os tempos” e acabou imortalizado naquela que pode ser considerada a principal obra de Irineu de Almeida.

Dois choros de Pixinguinha também foram apresentados. Ingênuo trouxe como solistas os professores Cristiano Alves (clarineta) e Júlio Merlino (saxofone). Na sequência, Um a Zero, que remete à vitória da seleção brasileira sobre o Uruguai no campeonato sul-americano de futebol de 1919, com gol do craque Friedenreich. Esta, segundo consta, teria sido a primeira obra da música nacional a abordar a temática futebolística.

O concerto também destacou a importância da música popular no contexto sinfônico, com a inclusão de um arranjo de A Voz do Morro, de Zé Ketti, para a abertura do filme “Rio, 40 Graus”. Este arranjo, recriado por Leonardo Bruno, é uma homenagem ao cineasta Nelson Pereira dos Santos. E, como nem tudo acaba em samba, para encerrar a apresentação, o público foi brindado com a Dança de Chico Rei e da Rainha N’Ginga, do balé “Maracatu de Chico Rei”, de Francisco Mignone, uma verdadeira obra-prima da música sinfônica brasileira.

Sob o som dos efusivos aplausos, ainda pode-se ouvir um merecido “Parabéns pra você” ao som da agora centenária Orquestra, encerrando com alegria uma noite de festa que certamente ficará marcada na memória de todos os presentes. Afinal, não é todo dia que se faz cem anos!