Música erudita e popular: duas tradições em harmonia na Escola de

A música erudita e a música popular têm raízes históricas distintas. Uma possui uma longa tradição formalizada, muitas vezes ligada a compositores clássicos e à tradição acadêmica. A outra geralmente está mais associada às raízes folclóricas, à música de rua e às tradições transmitidas oralmente. Embora a relação entre ambas a primeira vista possa ser pensada como de oposição, não há como ignorar a complexidade das interconexões históricas e estilísticas que não raramente geram sinergias e entrelaçamentos surpreendentes.

   Nadeja Costa
 

Compositores clássicos frequentemente incorporaram elementos de música popular em suas obras. Basta pensar, por exemplo, nas Danças Húngaras, um conjunto de 21 peças onde Johannes Brahms, um dos mais importantes representantes do romantismo musical europeu, captura o ritmo, a energia e a alegria das csárdás e verbunkos, danças folclóricas húngaras de origem cigana, com seus andamentos variados, ritmos animados e passagens virtuosísticas. A história é repleta de exemplos semelhantes. E, em tempos mais recentes, a fusão entre os dois estilos segue inspirando músicos comprometidos com a novidade e a experimentação.

Não à toa, na efervescência cultural da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a riqueza da música popular é celebrada como um alicerce crucial na formação dos discentes. Ao andar de mãos dadas com a erudição da música clássica, ela assume uma relevância ímpar, enriquecendo repertórios e viabilizando aos nossos estudantes um vasto leque de aprendizados que ampliam suas habilidades e percepções como futuros músicos e profissionais da área.

Sôdade Brasilis

Neste sentido, o projeto de extensão Sôdade Brasilis, oficina musical de choro que faz uma ponte entre os saberes acadêmicos e os saberes tradicionais, é uma emblemática concretização desta interseção estilística no âmbito da EM/UFRJ. Coordenado desde 2008 pelo professor Sergio Alvares (foto), atual coordenador do Curso de Licenciatura em Música lotado no Departamento de Musicologia e Educação da EM/UFRJ, o projeto foi construído a partir das reminiscências musicais da Belle Époque carioca presentes nas práticas musicais urbanas contemporâneas. Integrando ensino, pesquisa e extensão, seu foco é a música instrumental oriunda dos gêneros em voga entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX, como a valsa, a polca, o tango, o maxixe, o samba e, claro, o choro, estilo que segundo o docente se configura como um importante elo musical entre o Brasil e o exterior.

“O choro representa a transposição da música global para a música brasileira. Em meados do século XIX, nós temos essa nacionalização da música através do choro, que nasce como uma forma de interpretação das músicas relacionadas às danças de salão como a polca, a valsa, a schottisch, a habanera, entre outros gêneros”, explica o professor.

Segundo Sergio, uma importante característica do projeto que, em 2017, recebeu através do Proart (Programa de Apoio às Artes da UFRJ) o status de Grupo Artístico de Representação Institucional, é impulsionar diálogos e interações extramuros aos campi universitários através da interlocução com o saber tradicional produzido pelos mestres dos saberes populares.

“Buscamos, por exemplo, auxiliar na questão do reconhecimento artístico dos Velhos Chorões, um importante grupo de mestres de mais de oitenta anos, que de alguma forma acabaram ofuscados por conta das mudanças do mercado da música. Paralelamente, a interação deles com nossos alunos é um importante meio de aquisição e transmissão de conhecimento”, comenta.

A integração de tais mestres seniores com nossos alunos representa a perenidade de uma rica herança musical da Escola de Música, em especial o vasto histórico de diálogo entre o erudito e o popular. Basta lembrar de um compositor de verve inesgotável, arranjador pioneiro e mestre do improviso que teve no então Instituto Nacional de Música — encarnação antiga da EM/UFRJ — sua única escola formal: Pixinguinha. De acordo com Sergio Alvares, vários dos mestres dos saberes populares com os quais nossos atuais alunos têm a chance de interagir conviveram diretamente com esse músico ilustre que foi um dos criadores do que hoje reconhecemos como música brasileira.

“Décadas atrás, muitos desses mestres seniores tiveram oportunidade de conviver com Pixinguinha, e outros importantes nomes da velha guarda. Isso representa uma continuidade nessa transmissão do saber tradicional musical brasileiro”, diz o docente.

Musicalidade Abrangente

O Sôdade Brasilis é um exemplo que deixa claro que a relação entre a música erudita e a  música popular é de complementaridade e não de oposição. Na mesma toada, existe na EM/UFRJ um projeto que busca superar este tipo de fragmentação com o objetivo de promover a reintegração do conhecimento musical. Trata-se do Musicalidade Abrangente, também sob a coordenação de Sergio Alvares, que está inserido no Programa de Pós-graduação em Música (PPGM).

No âmbito da educação musical, tanto na educação básica quanto no ensino superior, é comum que o conhecimento seja fragmentado para possibilitar a especialização em áreas específicas. Mas, de acordo com Sergio, essa fragmentação de saberes com fins pedagógicos é algo que não se observa naturalmente na esfera do conhecimento tradicional.

“Os saberes primevos, primordiais, primitivos trazem a natureza do saber unificado. Depois nós vamos fragmentando para que possamos especializar e aprimorar em determinadas áreas mas sempre sem perder o intuito dessa reunificação para que possamos obter uma visão global, uma visão total, gestáltica desse conhecimento musical”, analisa.

Ao se apoiar nessa ideia de conhecimento unificado transmitido pelos saberes primitivos, o projeto Musicalidade Abrangente busca reunificar o saber musical que foi fragmentado. Também neste sentido, Sergio menciona os estudos do professor belga Jos Wuytack, que por sua vez tem realizado uma carreira internacional intensa como divulgador de uma pedagogia musical ativa e criativa, baseada nas ideias de Carl Orff, de quem foi discípulo e amigo.

“O professor Jos desenvolve uma proposta de educação musical de transmissão desse conhecimento baseado justamente na totalidade que a música envolve. Ao acoplar esses conceitos do professor Jos da pedagogia musical ativa com os conceitos do saber unificado da musicalidade abrangente, nós propomos uma abordagem e interação com os espaços da educação básica da rede pública com a universidade. Envolvendo o projeto de extensão Sôdade Brasilis, cria-se a triangulação com os mestres dos saberes populares e as formas de transmissão desse saber unificado”, explica.

Segundo ele, essa abordagem permite a transposição das barreiras que eventualmente existem entre a música erudita e a música popular, bem como entre a música acadêmica e a música tradicional. A lição que fica é que, seja erudita ou popular, a música, em sua diversidade e complexidade, transcende rótulos. Embora enraizados em histórias e abordagens distintas, os diferentes estilos encontram pontos de convergência que evidenciam uma complementaridade fundamental. E projetos como o Sôdade Brasilis e o Musicalidade Abrangente, ao celebrarem a pluralidade, demonstram de maneira concreta o potencial dessa harmonização para uma compreensão mais profunda e completa da arte sonora.

É possível saber mais sobre o projeto Sôdade Brasilis através de sua página no Youtube: www.youtube.com/SodadeBrasilis.

Sergio Luis de Almeida Alvares

Doutor (Ph.D.) em Educação Musical pela University of Miami (1998); Mestre em Performance e Composição em Jazz pela New York University (1995); Diplomado em Performance e Arranjo pela Berklee College of Music (1993); e Licenciado em Educação Artística, com Habilitação em Música, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO (1987). Professor Titular da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), membro efetivo do Programa de Pós-Graduação em Música, Coordenador dos projetos de pesquisa Musicalidade Abrangente e de extensão Sôdade Brasilis. Experiência administrativa em chefia de departamento, coordenação de área de pós-graduação e curso de licenciatura e na direção-regional da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM). Instrumentista de Sopro (sax e flauta), Compositor e Arranjador na linha do Choro e Jazz; e Educador Musical com formação Orff, Kodaly e Suzuki com magistério na educação infantil, básica, superior e especializada no Brasil, Estados Unidos, França e Portugal. Estágios Pós-Doutorais: CAPES / Fulbright Scholar na West Virginia University, University of California at Riverside e Florida State University (2012-2013); e Formação na Associação Wuytack de Pedagogia Musical (2014-2017), em Portugal.

 

Encontro de Corais da UFRJ

Com Coordenação e Regências de Maria José Chevitarese e Juliana Melleiro; dos pianistas Renan Santos, Calebe Duarte Campos e André Santos; e monitoria de Eloá Frem, Caroline Ribeiro e Pâmela Malaquias, o Encontro dos Corais da UFRJ, Coral Infantil da UFRJ, Coral Infantojuvenil da UFRJ, Classe de Canto Coral da Escola de Música e Coral Brasil Ensemble- UFRJ, será realizado no dia 10 de outubro, às 18:30h, no Salão Leopoldo Miguéz.

No programa do Encontro do Corais serão executadas obras dos seguintes compositores e compositoras: Mary Lightfoot, Osvaldo Luis Mori, Mozart, Carole Stephens, John Leavit, Edmundo Villani-Côrtes, Ari Barroso com arranjo de Nenê Cintra, Djavan com arranjo de Alexandre Zilahi, Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini, Tercio Junker com arranjo de Marcos Dutra, Kim André Arnesen, Claudio Alvarenga, Randall Stroope, Gabriel Garcia Lorca com arranjo de Bruce Trinkley e Milton Nascimento com arranjo de Eunice Rangel.

O Salão Leopoldo Miguéz fica na Rua do Passeio, 98- Centro

A entrada é franqueada ao público

EM levará iniciativas inovadoras à Rio Innovation Week

A Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ) marcará presença na Rio Innovation Week 23 (RIW23), um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e negócios da América Latina, agendado para a próxima semana, de 3 a 6/10, no Píer Mauá, Centro do Rio de Janeiro. Essa participação integra o Espaço Estação Ciência e está alinhada a um acordo recentemente firmado entre a UFRJ e a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia (SMCT) do Rio de Janeiro. 

O estande exclusivo da UFRJ proporcionará aos visitantes uma variedade de atividades e oficinas sobre temas ligados à educação, ciência e tecnologia. A intenção é incentivar um público amplo a se familiarizar e interagir com as pesquisas, avanços e descobertas produzidos pela Universidade. 

Durante os quatro dias, os visitantes terão acesso às pesquisas e projetos vinculados ao Museu Nacional (MN), Fórum de Ciência e Cultura (FCC), Escola de Belas Artes (EBA), Núcleo de Computação Eletrônica (NCE), Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio) e Escola de Comunicação (ECO), com o intuito de compreender as visões e perspectivas da Universidade para o presente e o futuro da sociedade. 

A Escola de Música também estará presente no evento. Em 04/10, representantes da EM/UFRJ abordarão as ações inovadoras que têm sido realizadas pela unidade. Um dos destaques é o programa de extensão Arte de Toda Gente (ADTG), uma parceria envolvendo a Fundação Nacional de Artes (Funarte) e a UFRJ. 

Esse projeto teve início em 2020 e engloba sete iniciativas: Bossa Criativa, focado na cultura popular e nas regiões de patrimônio natural e cultural classificadas pelo Iphan e Unesco; Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), concentrado no suporte pedagógico e artístico a projetos sociais com orquestras; Um Novo Olhar, abrangendo acessibilidade cultural e desenvolvimento do canto coral infantil; Arte em Circuito, com ênfase na arte urbana e integração de linguagens da cultura hip hop; Bandas: Sistema Pedagógico de Apoio às Bandas de Música, visando o desenvolvimento pedagógico e artístico das bandas de música e bandas sinfônicas; Ópera: Plano Nacional para o Desenvolvimento da Ópera no Brasil, voltado para o suporte pedagógico e mapeamento das ações da ópera no Brasil; XXIV Bienal de Música Brasileira Contemporânea, centrado na difusão da música brasileira de concerto contemporânea. 

O conjunto de ações de todos os projetos constitui uma agenda intensa de eventos e atividades, todas focadas no aprimoramento artístico e pedagógico das artes, através de capacitação, formação, aperfeiçoamento, compartilhamento, divulgação de informações, inclusão e acessibilidade. Essas atividades são realizadas de forma presencial em diversas regiões do Brasil, bem como em formato online, em ambientes virtuais ou mesmo híbridos. 

Com resultados sólidos e eficácia demonstrada em indicadores e números de participantes, o programa já envolveu diretamente 2.000 colaboradores, incluindo artistas, professores, educadores da cultura popular, pesquisadores, extensionistas e especialistas de todo o país, por meio da produção de apresentações, publicações, festivais, transmissões ao vivo, palestras, seminários, congressos, shows e exposições. Além disso, contou com aproximadamente 3.000 horas de conteúdo online disponíveis no Canal Arte de Toda Gente. Os atendimentos presenciais alcançaram mais de 10.000 participantes, enquanto os atendimentos virtuais por meio dos sites registraram mais de 100.000 interações. Os cursos online desenvolvidos na Academia Arte de Toda Gente jásomam cerca de 30.000 inscrições, com mais de 8.000 certificações. 

Outra importante ação inovadora diz respeito ao novo curso de Musicoterapia oferecido pela UFRJ, que agrega várias unidades da instituição, entre elas a Escola de Música. Trata-se da primeira graduação pública nessa área no Rio de Janeiro e a quarta no Brasil, representando uma conquista histórica e coletiva que referenda o comprometimento da nossa Escola e da UFRJ na constituição desse campo de saber. 

É desse curso que decorre uma importante inovação social dedicada a atender crianças do Curso de Musicalização Infantil que necessitam de cuidados especiais, como aquelas com Síndrome de Down e Transtorno do Espectro do Autismo. A musicoterapeuta Gabriela Koatz, especialista em Atenção Integral à Saúde Materno-Infantil, coordena esse trabalho terapêutico centrado em improvisos e estímulos sonoros, mostrando eficácia no desenvolvimento motor, linguagem e no controle de estereotipias. 

Mais detalhes sobre o evento em rioinnovationweek.com.br.

 

* com informações de Conexão UFRJ

“Suíte Popular”, de Luciano Gallet | OSUFRJ | Regência: Júlio

Assista à gravação da obra Suíte Popular (1929), de Luciano Gallet (1893-1931), interpretada pela Orquestra Sinfônica da UFRJ, sob regência de Júlio Medaglia. A gravação ao vivo foi realizada em 24 de julho de 2023, pela comemoração dos 78 anos da Academia Brasileira de Música, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. 

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A Suíte Popular para orquestra de câmara, de Luciano Gallet, foi composta em 1929 e traduz, em música, as teorias de Mário de Andrade expostas no Ensaio sobre a Música Brasileira, publicado no ano anterior. Gallet estrutura os diferentes movimentos tendo por base algumas das canções e peças instrumentais de sucesso em sua época, incluindo as de Ernesto Nazareth.  

Luciano GALLET (1893-1931) – Suíte Popular (1929)
I. Dobrado
II. Tanguinho
III. Polka
IV. Seresta
V. Maxixe 

Orquestra Sinfônica da UFRJ
Regência de Júlio Medaglia 

BRASILIANAS
Academia Brasileira de Música – 78 anos
Dia 24 de julho de 2023
Sala Cecília Meireles (Rio de Janeiro/ RJ)

“Cinematográfica”, César Guerra-Peixe | OSUFRJ | Regência: Júlio

Abrindo a série de postagens da ABM com as gravações da BRASILIANAS 2023, assista ao vídeo de Cinematográfica (1978), de César Guerra-Peixe (1914-1993), interpretada pela Orquestra Sinfônica da UFRJ, sob regência de Júlio Medaglia. A gravação ao vivo foi realizada em 24 de julho, na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro.  

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{César GUERRA-PEIXE (1914-1993) – Cinematográfica (1978) 6’
I. Panorama e detalhe (Andantino maestoso)
II. Amorosamente (Larghetto)
III. Troteando na estrada (Allegretto) 

Orquestra Sinfônica da UFRJ
Regência de Júlio Medaglia 

BRASILIANAS
Academia Brasileira de Música – 78 anos
Dia 24 de julho de 2023
Sala Cecília Meireles (Rio de Janeiro/ RJ)

Concerto da OSUFRJ no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Em sua 99ª Temporada, em homenagem póstuma a Henrique Morelenbaum, um dos mais respeitados maestros brasileiro a partir da segunda metade do século XX, a Orquestra Sinfônica da UFRJ realizará um concerto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na terça-feira dia 19 de setembro, às 19h.

Em sua 99ª Temporada, em homenagem póstuma a Henrique Morelenbaum (foto), um dos mais respeitados maestros brasileiro a partir da segunda metade do século XX, a Orquestra Sinfônica da UFRJ realizará um concerto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na terça-feira dia 19 de setembro, às 19h.

  Reprodução
 

A escolha do mês de setembro para essa homenagem deve-se ao fato de ser este o mês do aniversário de nascimento de Henrique Morelenbaum, nome artísitico de Saul Herz Morelenbaum, polonês naturalizado brasileiro que faleceu aos 90 anos, no dia 22 de julho de 2022.

De aluno de viola, violino e regência da Escola de Música da UFRJ e reconhecida como importantíssima atuação como docente nesta mesma Escola, o cenário musical da cidade do Rio de Janeiro recebeu com as honras devidas o regente adjunto da Orquestra Sinfônica de seu Theatro Municipal e a Sala Cecília Meireles o seu primeiro Diretor Artístico.Por essas e dezenas de outras razões que não cabem nas margens deste texto de divulgação, o concerto do dia 19 de setembro, plagiando uma película cinematográfica bem poderia ter por título “Ao Mestre com respeito, admiração, reconhecimento e carinho”.Isso porque, na condução da Orquestra Sinfônica da UFRJ- OSUFRJ-, nesse concerto de homenagem e reverência, estará seu Diretor Artístico, o maestro André Cardoso, ex-aluno de Henrique Morelenbaum nas disciplinas Fuga e Contraponto.No programa do concerto, exceto as peças musicais de Ernani Aguiar, também Diretor Artístico da OSUFRJ, a de Villa-Lobos e a de Ernest Bloch, as demais composições que serão interpretadas pela orquestra foram escritas por dois outros ex-alunos de Morelenbaum: João Guilherme Ripper que com o homenageado estudou Contraponto e Composição e Ronaldo Miranda que foi também seu aluno nas disciplinas Harmonia, Contraponto e Fuga e, na década dos anos 80, fez seu Mestrado em Música na UFRJ, sob a orientação do maestro homenageado, tornando-se depois seu Professor Assistente, no Curso de Graduação.A solista do concerto será Flávia Fernandes, cantora do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ex-aluna da Escola de Música que fez seu primeiro solo neste mesmo teatro, sob a regência de Henrique Morelenbaum. E na Direção da Associação de Canto Coral, que do programa do concerto fará parte, estará Jésus Figueiredo, ex- aluno da Escola de Música da UFRJ.Desse concerto, pode-se enfim anunciar que ele simboliza a continuidade dos muitos e sólidos caminhos pavimentados por Henrique Morelenbaum, o grande mestre, o eminente maestro brasileiro, o competente Diretor de uma das mais importantes casas de espetáculos musicais do Brasil e um dos fundadores do Programa de Pós-graduação em Música da UFRJ, o PPGM.

O Piano na Música de Câmara: Recital Diversidades Sonoras

O Piano na Música de Câmara, projeto de Extensão da Escola de Música, coordenado pela professora Tamara Ujakova, realizará na terça-feira, dia 19, às  18:30 h, no Salão Leopoldo Miguéz, o “Recital Diversidades Sonoras”.

O programa do recital traz um repertório que vai da atmosfera envolvente do tango até as harmonias exuberantes do jazz, passando pela rítmica contagiante da música regional brasileira.

Será uma oportunidade de ouvir as peculiaridades de cada um desses gêneros através das obras dos seus compositores mais representativos: Astor Piazolla, Bill Evans, George Gershwim.

Além disso, o recital apresentará em seu bloco nacional as composições de Maria Di Cavalcanti e Stella Junia, que juntamente com Tamara Ujakova e Leandra Vital irão mostrar a versatilidade do piano a quatro mãos, ou em um intenso diálogo com o saxofonista Jonatas Weima.  

O Salão Leopoldo Miguéz fica na Rua do Passeio, 98 –Lapa- A entrada é franqueada ao público.

 

 

Programa

Liduíno Pitombeira – Octal

 – Pentagrama

Tamara Ujakova – Entardecer

Maria Di Cavalcanti – Praça Paris

– Duo Floral (Leandra Vital e Maria Di Cavalcanti)

Stella Junia – Uma pitada de Salsa

Bill Evans (arr. Stella Junia) – B minor Waltz

– Duo Piano Diverso (Tamara ujakova e Stella Junia)

Eugene Bozza – Aria

Marcos Lucas – Drei Nächtfragmente

1. Nachtlied

2. Ein Altes Stammbuch

3. Dance

Severino Araujo – Espinha de Bacalhau

– Siriará Duo (Jonatas Weima e Maria Di Cavalcanti)

Edino Krieger – Os Peraltas

Oswaldo Lacerda – Brasilianas n. 4

1. Dobrado

2. Seresta

3. Embolada

– Duo Floral (Leandra Vital e Maria Di Cavalcanti)

Hermeto Pascoal (arr. Stella Junia) – Bebê

– Duo Piano Diverso (Tamara ujakova e Stella Junia)

A Música como vocação: histórias inspiradoras dos alunos da EM/UFRJ

A busca por uma formação acadêmica na área de Música é uma decisão pessoal e apaixonada, muitas vezes movida por uma identificação profunda com a arte e com o desejo de compartilhar essa paixão com o mundo. Muitos aspiram a carreiras como intérpretes de destaque em orquestras, grupos de câmara ou como solistas de renome. Para outros, a educação musical é o chamado, com o desejo de compartilhar seu conhecimento com as futuras gerações.

Devido à sua excelência acadêmica e ao comprometimento com um desenvolvimento musical abrangente, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro representa há 175 anos um verdadeiro farol para aqueles que desejam transformar esse sentimento em uma carreira sólida e gratificante. Suas salas e corredores reverberam uma rica diversidade de acordes e ritmos, refletindo as diferentes especializações oferecidas. Seja na graduação, abrangendo instrumentos clássicos, canto, composição, regência e musicoterapia, ou em seus dois programas de pós-graduação — Programa de Pós-Graduação da Escola de Música (PPGM); e Programa de Pós-Graduação Profissional em Música (PROMUS) — a EM/UFRJ atrai uma ampla gama de estudantes.

Mas se o amor pela música é o motor inicial, nossos universitários definitivamente não estão alheios aos desafios do mercado de trabalho. O cenário musical está em constante transformação, exigindo dos músicos não apenas versatilidade, mas também determinação sem precedentes. Assim, não é raro se deparar com alunos cujas histórias de vida são marcadas pela superação de desafios, por tropeços e recomeços, bem como pela busca incansável pelo aprimoramento.

Cecília Fabião, por exemplo, de Engenharia a Piano, seguiu sua paixão depois de uma reviravolta na pandemia, ressaltando como hoje a música a faz sentir completa. Patrícia Espinoza, de Relações Internacionais a Regência, encontrou uma ligação entre a diplomacia e a Música, e futuramente espera inspirar mais mulheres a ingressarem na área. Já o músico moçambicano Feliciano Comé superou uma odisseia repleta de obstáculos antes de finalmente encontrar na UFRJ o lugar para ver seu sonho florescer. Os três compartilharam um pouco sobre suas trajetórias de vida, suas motivações na área musical, seus anseios e seus caminhos até a nossa Escola.

Das engrenagens da Engenharia às teclas do piano

Esse caminho nem sempre é algo linear e muitas vezes está repleto de desvios de percurso. Exemplo disso é a vivência acadêmica de Cecília Fabião, de 21 anos, que cursa o quarto período do bacharelado em Piano na EM/UFRJ. Após ser admitida no vestibular de Engenharia, a jovem iniciou seus estudos com perspectivas promissoras na Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2020. No entanto, o turbilhão da pandemia deu uma guinada inesperada em seu trajeto. Enquanto a incerteza pairava, ela começou a questionar o verdadeiro significado de sua jornada e o que a movia de fato. Não apenas em termos de futuras conquistas financeiras, mas acima de tudo o que realmente a fazia sentir-se completa. “Teve um dia em que eu simplesmente disse: Não é isso que eu quero!”, lembra Cecília.

Essa epifania surgiu como uma revelação clara de que, se nada fizesse, no futuro lamentaria profundamente não ter seguido sua paixão pela Música. “Um pensamento veio muito espontaneamente na minha cabeça de que eu iria me arrepender muito quando eu chegasse ao fim da minha vida e eu não tivesse vivido da música”, desabafa. A partir dessa virada de chave, tomou uma decisão que impactaria seu futuro. Largaria a Engenharia e recomeçaria seus estudos para realizar um novo ENEM e para preparar-se para o Teste de Habilidade Específica (THE) em busca de seu lugar na Escola de Música da UFRJ.

A decisão, segundo ela, foi certeira. “Estou muito feliz porque eu descobri que realmente é isso que me move, que me dá ânimo”, diz Cecília antes de completar: “Estou na Escola de Música e não me vejo fazendo outra coisa, pois tocar piano pra mim é o que mais faz sentido”. Em sua visão, a EM/UFRJ oferece um vasto leque de oportunidades aos alunos permitindo-lhes tocar ao lado de músicos renomados, nacionais e internacionais, propiciando a ela e seus colegas contato com diferentes perspectivas culturais e musicais que muito agregam em sua formação.

Quanto ao futuro, Cecília já planeja expandir seus horizontes após a graduação, considerando a possibilidade de buscar um mestrado fora do Brasil. A UFRJ, através de suas parcerias institucionais, se apresenta como um facilitador para alcançar esse objetivo. Ela também destaca a importância do curso não apenas aprimorar suas habilidades como intérprete, mas também prepará-la para o ensino. E enfatiza estar adquirindo bagagem não apenas como música, mas como educadora também.

“Dar aula é uma carta na manga imprescindível não só por trazer uma estabilidade financeira, mas porque lecionar não é só ensinar, é também aprender”, comenta a jovem, já vislumbrando o conhecimento que poderá vir a adquirir com seus futuros alunos caso a docência cruze seu destino.

A diplomacia musical

As mudanças de rumo também são familiares a Patrícia Espinoza, de 25 anos, que cursa o segundo período de Regência Orquestral na EM/UFRJ. A jovem começou sua jornada acadêmica no mundo das Relações Internacionais, mas uma paixão latente pela Música sempre a acompanhou, mesmo depois de concluir sua formação como internacionalista.

Ao refletir sobre a importância que dava à Música, Patrícia se deu conta de que isso não era mais apenas um hobby, mas algo que desejava que fizesse parte de sua vida de forma profissional. Foi quando repensou seu caminho. A transição, contudo, não foi desprovida de incertezas. “Eu tive um certo receio antes de tomar a decisão de estudar Música com um olhar mais profissional, primeiro porque eu não venho de uma família de músicos e muito menos conhecia outros músicos, então não sabia muito bem o que fazer ou qual caminho seguir”, confessa.

Sem conexões musicais preexistentes, ela conta que buscou conselhos de professores de piano e explorou diferentes possibilidades antes de se decidir. “Cheguei a cogitar cursar bacharelado em Piano, que também sempre foi uma paixão minha e ainda é, mas quando comecei a pesquisar sobre os demais cursos e vi a grade de Regência na UFRJ, eu fiquei encantada tanto pela sua prática musical quanto pela possibilidade de ter uma maior visão sobre vários aspectos diferentes da Música”, lembra.

A virada veio quando Patrícia assistiu a ensaios do Maestro Roberto Duarte regendo a Orquestra Jovem de Niterói. O encontro com a prática da regência e o incentivo de músicos e professores lhe encheram de coragem e a fizeram perceber que o caminho da mudança era o correto a seguir.

A transição de Relações Internacionais para Regência pode parecer incomum à primeira vista. Mas a jovem rapidamente encontrou uma ligação surpreendente entre as duas áreas, abraçando a ideia da diplomacia musical. “É muito engraçado como eu vejo agora muitas semelhanças entre essas duas profissões, porque no final das contas a gente aprende nas Relações Internacionais que o diplomata tem a missão de mediar acordos para representar os interesses de seu país no exterior e a arte da Regência não é muito diferente, já que a função do regente é conduzir um grupo de músicos a fim de tentar transmitir as intenções de uma determinada obra e compositor”, explica. “O que muda é o tipo de harmonia que a gente busca”, completa a estudante.

Quanto às expectativas profissionais, Patrícia adoraria ter a oportunidade de tocar em algumas orquestras que admira desde jovem tanto no Brasil quanto no exterior. Atenta à necessidade de promover maior diversidade e inclusão nesse campo, ela também comenta que gostaria de “incentivar mais mulheres a buscarem seu espaço nesse mercado”.

Satisfeita com o percurso que está trilhando, a universitária deixa uma lição de convicção aos que buscam uma transição acadêmica ou mesmo uma nova formação. “Não me arrependo nem um pouco da minha escolha e estou adorando poder aprender mais não apenas sobre o meu instrumento e os diversos outros dentro de uma orquestra, mas também sobre o que fazer para não reger nenhuma guerra”, brinca a jovem sem esconder sua veia diplomática.

Do Sudeste africano ao Sudeste brasileiro

Já para Feliciano de Castro Comé, um talentoso músico moçambicano de 43 anos que atualmente cursa o segundo período do mestrado em Regência, a jornada até a EM/UFRJ foi repleta de obstáculos que não apenas testaram sua resiliência, mas também o levaram a encontrar um lugar onde seu sonho pudesse florescer. Após concluir em 2010 sua licenciatura em Música na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Moçambique, ele trabalhou como professor na mesma instituição ministrando aulas de Análise e Técnicas de Composição e Seminário sobre Composição.

O desejo de expandir seus horizontes acadêmicos sempre o acompanhou. Havia, porém, um complicador geográfico a ser superado. “Embora tivesse necessidade de uma ampliação na minha formação, isso era algo impossível no meu país uma vez que lá não existem cursos de pós-graduação em Música”, explica.

De lá para cá, o músico travou uma verdadeira odisseia para dar continuidade aos seus estudos. A primeira chance foi em 2011 na Universidade de Aveiro, em Portugal, na área de Regência Coral, mas circunstâncias e desafios imprevistos se interpuseram em seu caminho. Em 2020 concorreu a uma vaga de mestrado em Regência na Universidad Nacional de las Artes, na Argentina. Veio então a pandemia e a turma não avançou. Meses depois o moçambicano tentou pela primeira vez o caminho do Brasil. Concorreu a uma vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas não obteve sucesso.

No fim do fatídico ano, o músico ainda tentaria uma oportunidade na Bélgica, mas, às vésperas do exame, recebeu a informação que lhe caiu como um balde de água fria. “Não fui fazer a prova porque devia ser presencial, mas só tive acesso a essa informação quando faltava apenas uma semana para o exame”, disse o músico. “Eles provavelmente pensaram que eu estivesse naquele país”.

Determinado, Feliciano não hesitou. Foi em frente. Em 2021 foi aprovado no curso de mestrado em regência na UFRN e em janeiro do ano seguinte deu início aos seus estudos de forma remota. Percebendo que em algum momento precisaria estar no Brasil, solicitou então autorização para se afastar de suas funções na UEM, de Moçambique, onde, para além de professor, era também já diretor do curso de licenciatura em Música desde 2015.

Junto à permissão, veio a má notícia: devido às restrições orçamentárias em seu país, ele não contaria com apoio financeiro para seus estudos no Brasil. Para complicar tudo mais um pouco, superadas as restrições sanitárias da covid-19, as aulas do segundo semestre na UFRN voltavam agora ao regime presencial. “Aí fiquei em pânico porque não tinha como sair do meu país para seguir com os estudos e já não estava mais trabalhando”, conta o aguerrido músico que, à época, chegou a apresentar um quadro inicial de depressão.

No limiar de desistir de seu objetivo, Feliciano fez sua última tentativa. “Quando já não tinha mais esperanças e inclusive pensava em desistir de lutar por este sonho de estudar Regência, eis que numa atitude de puro desespero naveguei no Google e casualmente me deparei com o edital da UFRJ que estava aberto e tinha uma vaga para a área”, lembra.

Depois da tempestade, o Sol sempre aparece. Aprovado, o novo aluno conta que a EM/UFRJ não apenas está superando suas expectativas, mas também lhe proporciona um ambiente vibrante e enriquecedor para aprofundar sua paixão pela Música. “Isto diz muito para alguém que saiu do seu país para ir atrás de um sonho”, comenta.

Feliciano destaca também a qualidade das aulas de Regência e a competência dos docentes, alguns dos quais gentilmente o aceitaram como assistente (professores Carlos Almada, Fábio Aduor, Pauxy Gentil Nunes e Rodrigo Cicchelli). “Há outros que igualmente merecem o meu muito obrigado, como o prof. Giulio Draghi, o prof. Sergio Alvares e o prof. Joao Vidal, que tem me ajudado desde o processo seletivo e principalmente no processo para conseguir a bolsa CAPES, que me permitiu estar no Brasil, além das professoras Juliana Melleiro e Maria José Chevitarese, que é, sem dúvida, a minha mãe acadêmica”, agradece o moçambicano para quem a jornada na UFRJ é muito mais do que uma mera busca por um diploma.

Ele carrega consigo um desejo profundo de levar os conhecimentos adquiridos na Escola para sua comunidade em Moçambique, onde planeja contribuir para a cena musical e educacional através da pesquisa dos ritmos locais. Sua formação na UFRJ o capacitará a desempenhar um papel crucial como regente coral e educador musical, respondendo a uma demanda ainda não plenamente atendida em seu país.

Para ele, cada minuto gasto na UFRJ é um passo em direção à realização de um sonho que o acompanha há anos. Com a sabedoria que adquiriu ao longo de sua trajetória, Feliciano encara cada desafio como uma oportunidade de crescimento e aprendizado. E com a humildade de suas palavras, deixa-nos uma valiosa lição de vida:

“Fiz uma longa caminhada desde que terminei a licenciatura há 13 anos. Hoje vejo perfeitamente que todas essas tentativas fracassadas que quase me levaram à depressão só serviram para me mostrar que ainda não tinha encontrado a universidade para realizar o meu sonho. Agora só lamento que as 24 horas que o dia tem não me permitam estudar tudo o que preciso e que a UFRJ dispõe, então me contento em explorar ao máximo esse tempo que tenho, pois quando chegar a hora de voltar para o meu país, todas estas oportunidades vão ficar aqui no Brasil. Para mim, realmente, CADA MINUTO CONTA!”, ensina Feliciano.

Concerto Orquestra Sinfônica de Sopros da UFRJ: Música, Arte e

Depois de aulas de instrumentos, canto, música de câmara e Prática de Banda Sinfônica ministrada por Will Sanders que estão sendo realizadas com o patrocínio do Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) — Órgão de Intercâmbio Acadêmico do Governo alemão e de uma parceria entre a Escola Superior de Música de Karlsruhe (Hochschulefür Musik de Karlsruhe), a Escola de Música da UFRJ e o Instituto Villa-Lobos da UNIRIO, desde o dia 28 de agosto, a XIV edição do Festival Brasil-Alemanha realiza no dia 6 de setembro, às 19h, no Salão Leopoldo Miguéz, o concerto da Orquestra de Sopros da UFRJ / Banda Sinfônica.

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  Will Sanders, regente

Com coordenação dos docentes Marcelo Jardim, Gabriel Dellatorre e do trompista da Orquestra Sinfônica da UFRJ, Tiago Carneiro, o concerto tem como regente convidado o trompista maestro e docente Will Sanders.

Will Sanders é natural de Venlo, na Holanda, mas reside em Karlsruhe, no Sul da Alemanha. Em seu currículo de trompista, Will Sanders ostenta a atuação nas orquestras: Nacional de Ópera de Mannheim, na Sinfônica de Baden/Baden, na Sinfônica da Rádio da Baviera e na Filarmônica de Viena sob a direção de grandes nomes da regência como Claudio Abbado, Lorin Maazel, Georg Solti, Marins Janssons, James Levine e Daniel Baremboim, entre outros. E por ensinar ser uma das paixões de Will Sanders, na qualidade de professor catedrático da Escola Superior de Música de Karlsruhe, ele ministra, desde o ano de 1999, as disciplinas de trompa e música de câmara.

No programa desse concerto, a partir da interpretação de Will Sanders, a Orquestra de Sopros da UFRJ / Banda Sinfônica irá executar obras de compositores internacionalmente reconhecidos como Cesarini e  Sparke que trazem em suas obras a essência do repertório tocado pelas Bandas do mundo afora.

A composição Capriccio, de Almicare  Ponchielli, originalmente escrita para piano e oboé será apresentada na versão para Banda, com arranjo de Albert Benz  e terá como solista Thomas Indermühle, premiado oboísta, natural de Berna, na Suíça,  que tem atuado como solista em quase todos os países europeus, EUA, Canadá, Japão, Coréia e Austrália. É também professor de oboé no Conservatório de Zurique e na  Escola Superior de Música de Karlsruhe.

No repertório do concerto, a Orquestra de Sopros da UFRJ / Banda Sinfônica executa ainda do jovem compositor Lino Guerrero, a obra “al-Uqur” que faz referência à cidade egípcia de Luxor, onde se localiza um grande museu a céu aberto da civilização egípcia.

 

     
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  Thomas Indermühle, oboé (solista)  
     

Programa

Franco Cesarini (1961)
– Dynamic Overture 

Almicare Ponchielli (1834-1886) 
– Capriccio (arr.: Albert Benz)

Thomas Indermühle, oboé (solista)

Lino Guerrero (1977)
– al-Uqṣur

Philip Sparke (1951)
– Bacchanalia

     

Escola de Música da UFRJ sediará concerto do projeto Música em

O turbulento período entre os anos 1974 e 1975 foi uma fase de transformações políticas e sociais profundas em Portugal, marcando a transição do regime ditatorial para a democracia. Durante este capítulo da história moderna portuguesa denominado de Processo Revolucionário em Curso (PREC), a interseção entre política e cultura deu origem a um caldeirão de expressões artísticas e musicais que desafiou as convenções até então estabelecidas.

 
   

Esse contexto revolucionário não apenas reconfigurou as bases políticas e sociais, mas também reverberou nas esferas culturais, desencadeando uma explosão de criatividade artística. É com inspiração nesse quadro histórico que o projeto Música em Liberdade evoca os momentos em torno do PREC numa proposta cultural que reflete a pluralidade de estéticas desse período efervescente, bem como as quebras de barreiras políticas, sociais e culturais que impactaram fortemente as artes, em especial no território português.

Com passagens pelas cidades de Salvador, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, o projeto Música em Liberdade —que consiste numa digressão brasileira do Ensemble DME (fundado em 2013), que por sua vez integra o Projecto DME (criado em 2003 pelo compositor Jaime Reis) — promete trazer uma experiência única ao público, unindo as raízes culturais de Portugal e Brasil em uma celebração da liberdade artística.

A apresentação em terras cariocas terá como palco o Salão Leopoldo Miguez, da Escola de Música da UFRJ, na terça-feira, 29/08, no horário das 18h. No concerto de música mista do grupo DME, de Portugal, o compositor Jaime Reis (eletrônica) se apresentará ao lado da violinista Beatriz Costa.

“Tocamos um repertório que tem relação com essa temática da liberdade, nomeadamente uma peça do compositor Jorge Peixinho, CDE, que é um acrônimo não só pras notas Dó, Ré, Mi, mas também para assinalar o movimento democrático português ainda durante o tempo da ditadura para a criação da Comissão Democrática Eleitoral, por exemplo.Para o Rio de Janeiro apresentaremos, ao lado da violinista Beatriz Costa, peças de jovens compositores que têm também uma relação com a liberdade”, comentou Jaime Reis.

O músico destacou algumas dessas peças do repertório do concerto carioca, em especial uma da professora ucraniana Alla Zagaykevych, que segue lecionando no Conservatório de Kiev apesar dos bombardeios que seu país sofre há vários meses.

“A obra do Hugo Xavier Almeida se chama Declamação e é toda baseada na prosódia de um poema bem forte de uma artista portuguesa. Sua colega, compositora Marta Domingues, fez uma obra chamadaSer-se Som no Escuro, assinalando as dificuldades de viver perante a censura em governos autoritários. Teremos também peças de Clotilde Rosa, uma compositora portuguesa que batalhou muito pela liberdade ainda no tempo da ditadura. Finalmente teremos uma peça da compositora ucraniana Alla Zagaykevych, que é professora no Conservatório de Kiev, onde continua dando aulas mesmo debaixo dos bombardeamentos, bem como cozinhando para os soldados ucranianos e ajudando pessoas ao longo dessa crise humanitária. Será uma celebração da música contemporânea em geral”, pontuou Jaime Reis.

Segundo Pedro Sousa Bittencourt, professor adjunto de saxofone do departamento de sopros, pesquisador do PPGM/UFRJ e líder do grupo de pesquisa Performance Hoje, a união do violino, um instrumento muito popular na música clássica, com uma camada sonora eletrônica, por si só, já simboliza muito bem, no âmbito musical, essa ideia de liberdade.

“O programa tem compositores de diferentes gerações, dediferentes nacionalidades. A ideia é traçar uma panorâmica da heterogeneidade não só do período das obras, mas também uma estética, com peças de sonoridades e materiais bastante diferentes entre si. Quanto à ideia de liberdade, do ponto de vista musical, ela se faz presente justamente ao utilizar o violino, instrumento muito conhecido na música clássica, para tocar um repertório contemporâneo fazendo diversas sonoridades e ruídos, empregando técnicas estendidas, mas que podem ser entendidos também como recursos naturais, como sons que se fazem naturalmente com o instrumento, mas que não são tão explorados na música clássica. E, a partir daí, alargar os horizontes e a paleta sonora, incluindo novos recursos auditivos para serem apreciados”, comentou o professor.

O projeto, que recebeu apoio financeiro do Ministério da Cultura de Portugal(Direção Geral das Artes), não só resgata as raízes históricas, mas também busca inspirar diálogos e reflexões sobre a interseção entre música, liberdade e transformação social. “Música em Liberdade” não é apenas uma viagem nostálgica ao passado, mas um convite para compreender como o legado do PREC pode continuar a ecoar na cena musical do século XXI, especialmente em Portugal e no Brasil.

O evento é gratuito. A Escola de Música da UFRJ fica na Rua do Passeio, 98, na Lapa.