Arte de Toda Gente mapeia projetos sociais

Programa da Funarte em parceria com a UFRJ promove um levantamento nacional de projetos sociais ligados a orquestras, artes, patrimônio e acessibilidade. Ação será lançada com uma “live” no dia 13 de abril, às 17h, no canal do programa no Youtube.

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Será lançado no dia 13 de abril, terça-feira, às 17h, com uma “live” transmitida pelo canal Arte de Toda Gente no Youtube, o Mapeamento de Projetos Sociais Arte de Toda Gente. Consolidando dados revisados de pesquisas anteriores com atualizações, coleta de novas informações e novos cadastros, o levantamento vai incluir iniciativas relacionadas com música, outras artes, patrimônio, inclusão e acessibilidade. O trabalho será uma base valiosa para novas ações dos projetos Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos, Bossa Criativa e Um Novo Olhar, que integram o programa Arte de Toda Gente, desenvolvido em parceria pela Fundação Nacional de Artes – Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com curadoria de sua Escola de Música.

O mapeamento se iniciou com elaboração de uma grande planilha, reunindo os dados de levantamentos e pesquisas já existentes sobre esses projetos sociais. Em processo de revisão, esse arquivo inicial foi usado para a criação de uma lista com os contatos de representantes das iniciativas, para os quais será enviado um questionário. Deste, constarão perguntas sobre a localização, linhas artísticas, número de alunos, ferramentas e outros dados, de forma a traçar um perfil completo de cada um dos projetos.

Além disso, a mesma planilha será disponibilizada, a partir do dia 13 de abril, on-line – no endereço www.artedetodagente.com.br –, junto ao questionário, para que outros projetos, ainda não listados, possam consultá-la e fazer seu cadastramento. O prazo para consultas e novas inclusões será de 30 dias (o mesmo estipulado para a resposta dos questionários). Para garantir o maior número de respostas possível, a equipe de pesquisa fará, também, contato direto com os representantes pré-relacionados.

Em seguida, todos os dados serão consolidados e revisados. Depois, a equipe vai se dedicar a tentar preencher as eventuais lacunas da pesquisa – que podem ser: regiões sobre as quais não se possui muita informação; projetos que ainda não estão mapeados; os que surgiram mais recentemente; ou outros, que estavam listados mas deixaram de existir. 

O trabalho, porém, não vai se limitar à coleta de dados, envio e publicação de questionários. Após o processamento das respostas recebidas, numa segunda fase – que deve começar no segundo semestre de 2021 – serão feitos, também, contatos com secretarias de educação, de cultura e outros órgãos, municipais e estaduais, para complementar o levantamento.

“A pesquisa deveria sempre se a base de todo o trabalho de políticas de cultura, pois ela mostra a real situação na qual você pretende interferir”, diz Bruna Leite, coordenadora de projetos sociais do Arte de Toda Gente e responsável pelo mapeamento. “A partir do que encontrarmos, poderemos atuar de forma muito mais assertiva. Afinal, os projetos nos indicarão quais são as suas reais necessidades. Poderemos conjugar essas demandas com o que podemos oferecer, da melhor maneira possível”, explica Bruna.

Live” de lançamento 

Para marcar a apresentação do Mapeamento de Projetos Sociais, será realizada uma “live”, no dia 13 de abril, terça-feira, a partir das 17h, com transmissão do canal Arte de Toda Gente, no Youtube (abaixo). Participam da discussão o professor e coordenador do Sinos (e mediador), André Cardoso; a violinista e professora do Sinos, Carla Rincón; a professora e servidora técnica em assuntos culturais da Funarte, Maya Suemi Lemos; o maestro da Fundação Francisca Fernandes Claudino (FUNFFEC), do Município de Luis Gomes (RN), Leandro Oliveira; o maestro, vice-diretor da Escola de Música da UFRJ e coordenador do Arte de Toda Gente, Marcelo Jardim; e o diretor-editor da Revista Concerto, Nelson Rubens Kunze. 

Arte de Toda Gente, uma parceria Funarte-UFRJ 

O programa Arte de Toda Gente reúne três iniciativas, desenvolvidas em parceria pela Funarte e a UFRJ, com curadoria da Escola de Música da universidade.

Uma dessas ações é o projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente, um conjunto de apresentações e oficinas, de diversas linguagens artísticas e manifestações da economia criativa, exibidos no site. O foco é a democratização da cultura, bem como a diversidade e a difusão de todas as artes, de modo inclusivo.

A segunda iniciativa é o Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos, direcionado para a capacitação de regentes, instrumentistas, compositores e educadores musicais; com apoio a projetos sociais de música que contribuem para o desenvolvimento das orquestras-escola de todo o país. A atuação do Sinos se dá por meio de cursos, oficinas, concertos e festivais e também com a produção de material didático de apoio, partituras e publicações – disponíveis no site www.sinos.art.br

Já o Um Novo Olhar tem como alvo promover a inclusão e o acesso de crianças, jovens e adultos com algum tipo de deficiência, por meio das artes e da capacitação de professores e de regentes para coro. O projeto inclui, ainda, apresentações online de artistas e vídeo “podcasts” (“vodcasts”) sobre arte e acessibilidade, “lives” e encontros e seminários virtuais, além de uma série de publicações, disponíveis no site www.umnovoolhar.art.br.

SERVIÇO
Live de lançamento do Mapeamento de Projetos Sociais Arte de Toda Gente, dia 13 de abril, terça-feira, às 17h, com transmissão pelo canal Arte de Toda Gente, no Youtube. Planilha com o levantamento inicial e questionário disponíveis a partir de 13/4, no site www.artedetodagente.com.br 

In-Versos realiza seminário reunindo especialistas de Música, Letras

O UFRJ In-Versos, Grupo Artístico de Representação Institucional (GARIN) da universidade, realiza dias 21, 22 e 23 de abril seminário com a participação de professores especialistas nas áreas de Música, Letras e Filosofia da UFRJ, UFPR, UERJ, UFGRS, CEFET e SME-RJ. Serão três dias de diálogo sobre a canção em suas diferentes perspectivas e abordagens, desde o processo criativo dos compositores e intérpretes, passando pelas questões pedagógicas da Educação Básica e Ensino Superior, até as experiências de tradução performáticas de poesia antiga.

O UFRJ In-Versos, Grupo Artístico de Representação Institucional (GARIN) da universidade, realiza dias 21, 22 e 23 de abril seminário com a participação de professores especialistas nas áreas de Música, Letras e Filosofia da UFRJ, UFPR, UERJ, UFGRS, CEFET e SME-RJ.

2021seminversosdemtroSerão três dias de diálogo sobre a canção em suas diferentes perspectivas e abordagens, desde o processo criativo dos compositores e intérpretes, passando pelas questões pedagógicas da Educação Básica e Ensino Superior, até as experiências de tradução performáticas de poesia antiga.

As mesas redondas, sempre às 18 h, serão transmitidas pelo canal do YouTube do grupo.

In-Versos

O grupo vocal instrumental UFRJ In-Versos surgiu a partir do projeto de extensão “Comemorando a canção como reunião poética originária”, continuidade do “Música Surda” (2001-2018), iniciativa encabeçada pelo professor Antonio Jardim.

O projeto, atualmente coordenado pelo professor Celso Ramalho e Paulo de Sá, propõe considerar a canção como poesia cantada, localizando-a no âmbito dos estudos poético-literários. Uma forma de compreendê-la a partir de seu movimento originário; isto é, anteriormente a cisão entre música e poesia.

O UFRJ In-Versos, que integra também o projeto de extensão, apresenta os resultados das ações de criação e performance. Os arranjos e composições são originais. Para o grupo, cantar a poesia é resgatar o seu sentido originário – ser cantada, ser canção.

Para mais informações do projeto e parcerias segue o endereço do .

Lives

Dia 21. “A atualidade da canção”; com Antonio Jardim, Eduardo Gatto, Artur Gouvêa, Celso Ramalho e Paulo Sá.

Dia 22. “A Canção como conhecimento: da educação básica ao ensino superior”; com Walace Pontes, Fábio Frohwein, Anderson Carvalho e Zelma Zaniboni.

Dia 23. “A poética clássica e as práticas musicais de tradução performática”; com Guilherme Gontijo, Leonardo Antunes, Rodrigo Gonçalves e Pietro Marchiori.

O evento é apoiado pelo edital PROART 2021 de bolsas e de Residência Artística do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Arte de Toda Gente: destaques da programação

Destaques na programação dos projetos do programa Arte de Toda Gente, semana de 5 a 9 abril.

  Reprodução
 
  Cristóvão Bastos, Eduardo Pereira, Anacris Monteiro e Rodrigo Favaro

No Bossa Criativa

No dia 05/04, segunda-feira, 10h, será liberado o módulo 6 da Oficina Empreendedorismo em Música. O tema do vídeo é Modelo de Negócios (Empresarial).

Em suas 10 videoaulas na oficina Empreendedorismo em Música, o músico e professor Eduardo Pereira aborda conceitos, técnicas, conteúdos e ferramentas que podem auxiliar muito a gestão da carreira musical. E mostra os caminhos para a definição de um modelo de negócio, seja para quem vai atuar como pessoa física ou jurídica. A oficina tem seus módulos postados semanalmente.

No dia 06/04, terça-feira, na série Casa do Choro, entram no ar os décimos segundos módulos das três oficinas.

Na “8 com” , Maurício Carrilho fala sobre Rossini Ferreira e o choro sambado.

Na Furiosa Portátil, quem conduz a conversa é Cristóvão Bastos, abordando sua composição “Praia Vermelha”, um samba.

E na oficina Princípios do Choro, Leonardo Miranda fala sobre Chiquinha Gonzaga, na segunda aula da série Personagens do Choro.

No Um Novo Olhar

Não teremos nenhuma atividade se iniciando ou tendo sequência nessa semana.

Sugestão para postagem no portal da Funarte:

Já estão disponíveis no site do Um Novo Olhar as sete aulas da oficina “Elaboração de projetos e o uso das leis de incentivo pelo olhar do prestador de contas”, com  Anacris Monteiro.

Mais informações e uma entrevista com a instrutora neste link: https://umnovoolhar.art.br/noticias/Paixao-pela-producao

No Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos

Durante esta semana, teremos a postagem de novas aulas de três diferentes segmentos do Curso Pedagogia de Cordas, sempre às 10h:

No dia 05/04, segunda-feira, vai ao ar a sexta a aula de violoncelo com André Micheletti. O tema agora é Introdução ao uso do Arco.

No dia 06/04,  terça-feira, tratando do contrabaixo, Voila Marques ocupa sua sexta aula para falar sobre Noções Iniciais de Mudança de Posição e do Movimento do Cotovelo Esquerdo.

Na mesma terça-feira, em sua quarta aula também sobre contrabaixo, Rodrigo Fávaro explica  os  Exercícios Para Mão Direita.

Rodrigo Favaro é solista de contrabaixo da Orquestra Sinfônica Brasileira, membro da

Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da orquestra de câmara

Johann Sebastian Rio. Bacharel em Contrabaixo pelo Instituto de Artes da UNESP-São Paulo, sob a orientação de Valerie Albright, ele concluiu duplo mestrado em performance musical com especialização em Repertórios Orquestral e Solista na Haute École de Musique de Genève em 2006, na classe do professor Francesco Petracchi.

Bossa Criativa apresenta show em tributo a Armandinho

Em vídeo inédito, o guitarrista, bandolinista, compositor e arranjador Armandinho Macêdo se une aos jovens da Orquestra de Violões do Forte de Copacabana para um show em comemoração a seus 50 anos de carreira. Projeto é uma parceria da Funarte com a UFRJ

Tributo

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  Instituto Rudá
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  Armandinho Macêdo.

>Vai ao ar nesta sexta-feira, 02/4, às 18h, no site do projeto  o show Tributo a Armandinho Macêdo, em que o guitarrista baiano comemora seus 50 anos de carreira tocando e cantando em companhia da Orquestra de Violões do Forte Copacabana. O vídeo faz parte da série que inclui ainda o projeto Afro Funk Brasil – com a mesma orquestra e a dupla Antonio Carlos e Jocafi e que também está disponível no site do projeto. O Bossa Criativa faz parte do programa Arte de Toda Gente, parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música.

Além da apresentação, o vídeo inclui uma entrevista com Armandinho, feita pela produtora Márcia Melchior, do Instituto Rudá, mantenedor da orquestra, na qual o artista fala sobre sua carreira. Gravado em 2019, durante as comemorações dos 105 anos do Forte de Copacabana, o tributo inédito traz músicas do próprio guitarrista – como a animada “Taiane” –, de compositores brasileiros – como “Santa Morena” de Jacob do Bandolim – e até clássicos, como o “Bolero de Ravel” de Maurice Ravel.

Armandinho

Com mais de 50 anos de carreira (começou aos 15), o guitarrista, bandolinista, compositor e arranjador baiano Armandinho Macêdo é o criador da “guitarra baiana” – instrumento que nasceu de um cavaquinho eletrificado – e se tornou nacionalmente conhecido como integrante de um dos mais conhecidos grupos de pop instrumental do Brasil, A Cor do Som. Considerado um dos melhores guitarristas entre os dez melhores do Brasil pela revista Guitar Player, Armandinho influenciou diversos outros artistas e já se apresentou em diversos países em vários continentes. O show com a Orquestra de Violões do Forte de Copacabana foi, também, um tributo a sua carreira. (Mais informações sobre Armandinho em https://dicionariompb.com.br/armandinho)

A Orquestra

A Orquestra de Violões do Forte de Copacabana nasceu em 2011, idealizada pela diretora do Instituto Rudá, Márcia Melchior, e atendia inicialmente a adolescentes de escolas públicas das comunidades do entorno do Forte. Em pouco tempo, porém, sua música ultrapassou os muros da fortificação e atraiu jovens de outros projetos sociais e de comunidades como Piabetá, Niterói, Nova Iguaçu, Nilópolis, Duque de Caxias, Santa Cruz, Itaguaí, Campo Grande e de toda baixada fluminense.

Hoje, suas apresentações atraem um público variado e numeroso, o grupo já participou de espetáculos até no estrangeiro – estiveram em Rennes, no festival de cinema na França, e muitos de seus jovens integrantes se profissionalizaram, seguindo a carreira de músico profissional em bandas das forças armadas (onde ingressam por concurso) e atuando em outros grupos e espetáculos. (Mais informações sobe a orquestra em https://www.violoesdofortedecopacabana.com.br)

O Bossa Criativa

Parceria entre a Funarte e a UFRJ, com curadoria da Escola de Música da universidade, o projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente reúne apresentações e oficinas de diversas linguagens artísticas, integrantes de várias formas de economia criativa. O foco é a democratização da cultura, bem como a diversidade e a difusão de todas as artes, de modo inclusivo. A programação é composta de shows curtos, performances e atividades de capacitação, em vídeos, exibidos no site www.bossacriativa.art.br, com participação de artistas de todo o Brasil. A agenda inclui o lançamento de um edital para novas propostas artísticas e culturais; e um chamamento público, para apresentação de trabalhos de mestrado na área das artes. A iniciativa faz parte do Programa Arte de Toda Gente. Mais informações no site da iniciativa.

SERVIÇO
Vídeo de Armandinho com a Orquestra de Violões do Forte de Copacabana no Projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente, 2 de abril, às 18h, no site do projeto e, também, no canal Arte de Toda Gente, no Youtube (www.youtube.com/artedetodagente). As apresentações e toda a programação da série permanecerão disponíveis durante toda a duração do projeto.

O instrumento que sussurra

O jornal Estado de São Paulo publicou (11/03/2021) matéria de página inteira sobre lançamento do livro “O Cravo no Rio de Janeiro do século XX” (Riobooks), resultado de pesquisa de pós-doutorado do professor Marcelo Fagerlande, concluída cem a participação das também musicólogas e cravistas Mayra Pereira, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Maria Aída Barroso, da Universidade Federa de Pernambuco (UFPE).

O instrumento que sussurra
O livro ‘O Cravo no Rio de Janeiro do Século XX’ é um passeio histórico pelas suaves teclas

João Marcos Coelho
Especial para o Estadão

De repente, você ouve sons etéreos, delicadíssimos, que parecem vindos de outro planeta tecendo arpejos em torno de… é isso mesmo? É a melodia de Carinhoso, de Pixinguinha. Só poderia acontecer mesmo no Rio de Janeiro, e no penúltimo ano do século 20, 1999, na Capela da Reitoria da Universidade Federal Fluminense. O sax-alto de Mário Seve parece voar ainda mais alto, um voo tranquilo em Pixinguinha ao lado do cravo buliçoso de Marcelo Fagerlande. Mas, de repente, no momento seguinte, tem de desenhar trêmulos e frases mais apressadas para melhor se adequar ao cravo, agora em seu território preferencial, em uma invenção a duas vozes de Bach, sim senhor, o próprio Johann Sebastian. Tais lindas performances coincidentemente fecham com chave de ouro o período histórico coberto por um dos mais belos e fascinantes livros sobre música já editados no Brasil.

O Cravo no Rio de Janeiro do Século XX (RioBooks, 2021) consumiu mais de seis anos de pesquisas e garimpagem de Marcelo Fagerlande, Mayra Pereira (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Maria Aida Barroso (Universidade Federal de Pernambuco) por documentações de época e também na imprensa carioca. É um oásis topar com textos tão bem escritos como os de Renzo Massarani, Eurico Nogueira França e Antonio Hernandez, entre outros, costurando e dando sentido às aventuras tropicais deste instrumento europeu por excelência, nascido por volta do século 14 – e que teve seu apogeu nos séculos 17 e 18 (incluindo a Península Ibérica, com Portugal e Espanha parindo grandes cravistas).

Como ele produz som? Mayra explica: “O cravo é um instrumento de cordas pinçadas acionadas por teclas”, ao contrário do piano, “cujas cordas são percutidas. Pode ter um ou dois teclados, e sua forma de ‘asa’ assemelha-se à de um piano de cauda”. Por isso, a dinâmica praticamente inexiste no cravo e o piano nasceu “fortepiano” justamente porque nele se podia produzir sons ora suaves, ora fortes.

As primeiras oito décadas foram escritas por Marcelo; Mayra se encarregou dos anos 1980; e Maria, da última década do século. As quase 250 ilustrações e fotos documentais constituem um banquete à parte. Mas o melhor está mesmo na qualidade dos textos. Você saboreia passo a passo a “viagem” do cravo pela cidade ao longo do século, desde o primeiro instrumento, comprado pelo compositor e então diretor do Instituto Nacional de Música, Leopoldo Miguez. Este cravo não foi encontrado.

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  Cravo. Exemplar do modelo Takahashi, de 1997: som cresce na audição.

A seguir, trechos da entrevista de Marcelo Fagerlande, professor da Escola de Música da UFRJ há 25 anos. Lá, criou o bacharelado e o mestrado no instrumento.

Leopoldo Miguez foi o primeiro a trazer para o Rio um cravo. Mas o instrumento não foi encontrado. O que aconteceu?
A compra do Pleyel por Miguez é o primeiro registro da compra de um cravo, por um brasileiro, no século 20. A figura 8 do livro comprova a aquisição. Entretanto, a despeito das nossas pesquisas nos registros da Pleyel, nos periódicos, nos arquivos do Instituto de Música, em programas de concertos, em inventários pós-mortem do compositor e de sua esposa e de consulta em arquivos franceses, o referido instrumento encontra-se desaparecido e não há uma comprovação de que tenha sido trazido ao Brasil.

O cravo, aliás, teve a mesma – ou alguma – representatividade em outras cidades brasileiras ao longo do século 20?
Em São Paulo, com certeza! Apesar de não ser nosso foco, toda notícia encontrada em periódicos cariocas sobre outras cidades foi mencionada. Especificamente sobre São Paulo, há registros dos anos 20 – em peça teatral com a sra. Renata da Silva Prado -; em 1933, com o Trio Schneider (Sociedade de Cultura Artística); vendas de instrumentos históricos em leilões (1932) e, mais tarde, em 1975, o famoso Curso no Masp, com Huguette Dreyfus, para citar alguns casos.

Tivemos e temos grandes cravistas, como você, Roberto de Regina, Helena Jank e Nicolau de Figueiredo (senti falta deste último). Ao longo deste século e atualmente, pode-se dizer que temos um volume consistente de composições brasileiras para cravo?
Também sentimos falta de Nicolau, admirado por todos! Mas, como nosso recorte é o século 20 e ele aparece no Rio tocando apenas no século 21, infelizmente não foi mencionado. Acho que temos, sim, uma quantidade considerável de obras do século 20 para o instrumento, como as de Almeida Prado, Osvaldo Lacerda, Ronaldo Miranda, Edino Krieger, Marisa Rezende, e tantos outros. E ainda interessantes inserções na música popular.

Uma pesquisa dessa qualidade bem que poderia se estender à história do cravo no Brasil. Vocês pensaram nisso?
Sim, pensamos. Mas seria outro trabalho hercúleo, pelas dimensões do País, pelas dificuldades de preservação de memória, etc. Se, para os 100 anos no Rio de Janeiro precisamos de seis anos, imagine para todo o País. Com certeza, seria uma tarefa para uma grande equipe de pesquisa. Quem sabe, quando nos refizermos deste esforço recente.

O que você diria para alguém que está habituado ao poderoso som do piano moderno ficar cativado com a delicadeza do cravo? Enfim, como ampliar o universo do instrumento hoje, em termos de público?
Você toca em uma questão muito importante. Acho que não devemos lutar contra a natureza do instrumento, que é para ser tocado na intimidade. É uma situação paradoxal, pois é claro que queremos divulgá-lo, e precisamos do público. Se, por um lado, precisamos de salas menores (caso não se amplifique), por outro é justamente essa natureza do instrumento que oferece uma alternativa sonora, expressiva e de concentração como fonte de prazer diferente aos indivíduos de nossa época. Sem perceber, convivemos com altos índices de decibéis. A busca por uma sonoridade de um instrumento que fala, sussurra, mas não grita, não seria uma bela alternativa? Um sentimento recorrente (e muitas vezes mencionado no livro) é que, no início de um recital de cravo, o som parece muito pequeno. Com o passar do tempo, o ouvido vai se acostumando e, no final, o som cresce e preenche os ouvidos e o coração da plateia.

O CRAVO NO RIO…
Aut.: Marcelo Fagerlande, Maria Barroso, Mayra Pereira
Ed.: Riobooks (384 págs., R$ 120)

O cravo no Rio de Janeiro do Século XX

Matéria (01/03/2021) da Continente, revista de cultura com periodicidade mensal, produzida em Pernambuco, e replicada no site da publicação, sobre lançamento do livro “O Cravo no Rio de Janeiro do século XX” (Riobooks), resultado de pesquisa de pós-doutorado do professor Marcelo Fagerlande, concluída cem a participação das também musicólogas e cravistas Mayra Pereira, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Maria Aída Barroso, da Universidade Federa de Pernambuco (UFPE).

O CRAVO NO RIO DE JANEIRO DO SÉCULO XX
Um resgate de ágil leitura sobre o cravo

TEXTO CARLOS EDUARDO AMARAL
01 DE MARÇO DE 2021

A primeira coisa a ser dita a quem se depare com O cravo no Rio de Janeiro do século XX (Rio Books, 2020) na estante de uma livraria é que ele pode comprar o livro sem medo e terminará a leitura havendo não só aprendido muito sobre o instrumento, mas também sobre os maiores intérpretes de ponta e respectivas gravações dos últimos 150 anos. Organizado em grandes capítulos divididos por décadas, o estudo escrito pelos cravistas e professores universitários Marcelo Fagerlande, Mayra Pereira e Maria Aida Barroso entre 2014 e 2020 tem como principal trunfo os respectivos subcapítulos – breves, objetivos e bem- ilustrados –, que permitem a ágil leitura das quase 390 páginas da publicação.

A própria introdução tem a virtude de explicar, em meras duas páginas de texto emolduradas por cinco figuras, o que são um cravo, uma espineta e um virginal (pois os três costumam ser chamados indistintamente de cravo, por aqueles que não têm tanta familiaridade). Os mais interessados encontrarão explanações sobre a mecânica do cravo e do piano em duas notas de rodapé na página 37. Já os pesquisadores estrangeiros têm a fortuna de, pelo menos, contar com uma tradução do epílogo para o inglês.

“A princípio, a redação foi dividida como mencionado no livro: Marcelo, de 1900 a 1979; Mayra, a década de 1980; e eu, a década de 1990. Após essa redação inicial, trabalhamos juntos a finalização do texto completo. No final, foi uma tarefa a seis mãos, coordenada brilhantemente pelo Marcelo, que soube dividir e compartilhar tudo conosco, igualitariamente. Uma bela parceria com momentos muito especiais durante a pandemia”, conta Aida, professora do Departamento de Música da UFPE e orientanda de Fagerlande no doutorado em Música pela UFRJ.

  Foto: Divulgação
 
  Em 1933, o Trio Schneider veio realizar uma turnê no Brasil, trazendo o cravo Neupert.

O primeiro dos grandes achados da pesquisa foi desconstruir a opinião corrente de que o cravo ficara em obscuridade, no Rio, entre meados do século XIX e meados do século XX. O compositor Leopoldo Miguez (1850-1902), então diretor do Instituto Nacional de Música, adquiriu um cravo da marca Pleyel em Paris, já em 1900, muito possivelmente para utilizá-lo na instituição. No entanto, não há registros de que o instrumento tenha sido despachado para o Brasil, pois sequer integrou a lista de bens deixados pelo músico. Naquele mesmo ano, fora escrita a primeira obra para cravo por um brasileiro, o Ballet regence, de Carlos de Mesquita (1864-1953), estreada na capital francesa. E, em 1904, aconteceram os primeiros recitais de cravo em solo carioca após o fin de siècle, com a intérprete belga Elodie Lelong (1869-?), de passagem pelo Rio.

O papel dos veículos de imprensa recebe especial atenção no livro. Inclusive, as considerações técnicas demonstradas por alguns críticos, antes de o cravo ser mais difundido pelas salas de concerto, atestam que eles conheciam bem o instrumento graças a gravações fonográficas. Os autores também direcionam o olhar ao comportamento do público após a popularização do cravo no Rio, nos anos 1960, perpassando o crescente interesse da juventude, incluindo crianças, sob estímulo de concertos didáticos; os ingressos disputados com cambistas; a ampliação, mesmo que discreta, do gosto popular (como reproduzido em um perfil jornalístico sobre um motorista de táxi que costumava ouvir música barroca no trânsito); a presença em filmes e nas igrejas históricas.

Vemos também como personalidades importantes da música brasileira militaram, cada um a seu modo, pelo cravo – entre elas, Mário de Andrade (1893-1945), Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005) e Edino Krieger (1928).

Entre parênteses, é preciso citar a colaboração de Marcelo Portela Nunes nos tópicos referentes a Karl Richter (1926-1981). O regente e instrumentista alemão especializado em teclados (cravo, órgão e piano) foi a principal estrela das oito edições dos Ciclos Bach, realizado na capital fluminense entre 1966 e 1978. Contudo, se há duas figuras proeminentes em O cravo no Rio de Janeiro do século XX, estes são Wanda Landowska (1879-1959) e Roberto de Regina (1927), ambos a quem os autores dedicaram a pesquisa.

A primeira, embora tenha passado pelo Rio em 1929, não logrou um concerto em solo brasileiro, por receio de falta de público (por parte dos empresários organizadores). A expectativa por um recital de Landowska, alimentada vez ou outra, nunca se concretizou, mas a cravista polonesa foi uma constante na imprensa carioca, antes e depois daquela passagem, graças às suas gravações e performances na Europa e nos Estados Unidos. Por seu turno, diversos de seus alunos e ex-alunos atuaram no Rio, dois dos quais impulsionaram sobremaneira a vida cravística por lá: a argentina Lucila Machuca de Garcia (1897-?) e a brasileira Gabriella Ballarin (?-?), de cuja vida pouco se sabe.

Já Regina tem sua trajetória abordada desde o capítulo dedicado à década de 1950. Se Landowska foi o farol para instrumentistas do mundo inteiro, de Regina, que chegou a se aperfeiçoar com o construtor de cravos norte-americano Frank Hubbard em Boston, tornou-se essa luz-guia em escala nacional, promovendo (e vivendo) a denominada música antiga. O prestígio do cravista e lutiê carioca é tanto, que os ingressos para concertos na Capela Magdalena – edifício que ele construiu em seu sítio, no Bairro de Guaratiba, Zona Oeste do Rio – são oferecidos até em pacotes turísticos. E os espectadores são recebidos pelo anfitrião a caráter, vestido em trajes imitativos do século XVII.

A professora Maria Aida ressalta que a UFPE possui um exemplar assinado por de Regina – e o Conservatório Pernambucano de Música, um Wittmeyer, ambos atualmente sem utilização. “Há ainda um cravo no Instituto Ricardo Brennand e dois instrumentos modelo Taskin de dois teclados, construídos por William Takahashi (SP), no Conservatório e na UFPE, respectivamente”, acrescenta. De modo geral, os recifenses conhecem o cravo desde os anos 1970, quando a Orquestra Armorial de Câmara o utilizou em seus concertos e gravações. Tais dados são um bom indício para a realização de pesquisa semelhante à do Rio, focada na capital pernambucana. E a docente já está encampando essa missão, que certamente resultará em novo livro. 

CARLOS EDUARDO AMARAL, jornalista, crítico musical, pesquisador e mestre em Comunicação pela UFPE.

História carioca temperada a cravo

O jornal Correio da Manhã publicou (20/02/2021) matéria de página dupla sobre lançamento do livro “O Cravo no Rio de Janeiro do século XX” (Riobooks), resultado de pesquisa de pós-doutorado do professor Marcelo Fagerlande, concluída cem a participação das também musicólogas e cravistas Mayra Pereira, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Maria Aída Barroso, da Universidade Federa de Pernambuco (UFPE).

História carioca temperada a cravo

Três musicólogos trazem em livro uma
requintada pesquisa que resgata o
instrumento na cena musical da cidade

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Por Oiga de Mello

Em 2014, intrigado com o desconhecimento a respeito do Cravo no cenário música carioca, o cravista Marcelo Fagerlande buscou jornais do início do século XX pum verificar a presença do instrumento na vida cultural da cidade. “O CORREIO DA MANHÃ foi uma das principais fontes desse estudo”, lembra Marcelo, um dos mais reconhecidos instrumentistas do país, que, em 2014, criou o curso de da graduação em cravo na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é professor. O estudo transformou-se em tema de seu segundo pós-doutorado, iniciado em 2017, a pesquisa em si foi concluída cem a participação das também musicólogas e cravistas Mayra Pereira, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Maria Aída Barroso, da Universidade Federa de Pernambuco (UFPE). Nascia o livro “O Cravo no Rio de Janeiro do século XX” (Riobooks, R$120), finalizado pelos autores ao longo de 2020, com conversas diárias por vídeo e telefone. Isolados devido à pandemia, mas sem deixar de lado as aulas on-line para seus alunos universitários, eles falaram sobre o panorama da música clássica brasileira e o trabalho cooperativo em tempos de confinamento.

20210221correiodamanhaxdestaqueComo foi a montagem deste livro em plena pandemia?

Marcelo Fagerlande — A pandemia, em que pese tudo de triste é dramático, para nós, foi providencial. Tivemos muito mais tempo disponível para as longas horas de revisão do texto, de pesquisa iconográfica, de reuniões com a designer. com a editora, na elaboração do índice onomástico com que 1.000 nomes… O trabalho criativo funcionou como atividade terapêutica, e nos dava uma alegra cotidiana. Como criei o curso de graduação em cravo na UFR), tinha a convicção de que era nossa obrigação conhecer mais sobre o instrumento, na cidade, no XX. Reuni uma equipe, porque um trabalho desses com tal volume de informações, não poderia ser feto por uma única pessoa. A equipe inicialmente em maior e foi sendo “decantada” até chegar a três nomes. Mayra e Maria Ada foram consultores, pois eu, à partir de 1980, torno-me personagem e não seria adequado escrever cobre mim mesmo! Ambas foram minhas orientandas de mestrado, e se destacaram por suas qualidades músicas e de pesquisadoras. Toraram-se professoras em suas cidades e são colegas maravilhosas, com quem compartilhar é aprendo muito.

A que vocês atribuem desconhecimento a respeito da música clássica e instrumentos antigos nesse país, que tanto cultua o trabalho musical popular?

Maria Aída Barroso — Ao longo da pesquisa detectamos um padrão na forma como o tema era tratado nas notícias. O cravo aparece recorrentemente citado como instrumento desconhecido ou exótico, apesar de todos os esforços dos escravistas em torná-lo accessível, seja pela realização de concertos nos locais mais diversos, seja pela proposta de aproximá-lo da música popular. Se no início do século XX o instrumento estava desaparecido da cena musical carioca, não podemos dizer o mesmo das últimas décadas daquele século. No entanto, seguiu-se vinculando o cravo a algo que remete a um outro tempo, embora seja um instrumento para o qual ainda hoje se compõe e que tem se mostrado versátil e adaptável à modernidade. O cravo é um instrumento atual assim como a flauta. Talvez fosse um momento de trazer o discurso sobre o caso para o pPresente.  

A qual o universo de leitores você se dirigiram?

Mayra Pereira – Quando começamos a estruturar o livro a partir do imenso volume sistematizado de dados textuais e iconográficos que coletamos, percebemos que tínhamos nas mãos não só registros essencialmente musicais, englobando história, prática, crítica e recepção. Aspectos culturais e sociais da cidade do Rio de Janeiro, como as interseções do instrumento com as artes visuais, literatura, cinema e vida cotidiana permeavam todo o material que pesquisamos. Compreendemos então que o livro poderia interessar a um público muito mais amplo do que apenas aos músicos. Por isso tivemos o cuidado de escrever de forma leve e fluida, fugindo do rigor dos textos acadêmicos, organizado em tópicos não muito longos e que permitissem uma leitura descontinuada. Afinados com a editora e com a designer gráfica, investimos também na diagramação do volume, transformando-o também em um belo e convidativo livro de artes.

Existe uma máxima popular de que o povo não gosta/não compreende música clássica. No entanto, concertos a preços populares ou gratuitos sempre têm um bom público, pelos menos os de orquestras sinfônicas. Isso também acontece na música de câmera? Há renovação desse público?

Maria Aída Barroso – Os concertos das orquestras sinfônicas costumam ser muito atraentes. Não só pela massa sonora, a diversidade dos instrumentos, como também pela mítica en torno de alguns maestros e solistas. Em geral são realizados em grandes salas ou teatros e há ainda a possibilidade de concertos em locais abertos, o que, de certa forma, de democratiza o acesso. A música de câmara requer salas menores, com ambientes acústicos mais intimistas. Pela sua natureza tem um público menos numeroso. Quanto â renovação do público,  entendo que está vinculada à oferta de concertos e eu acesso que é dado a eles, com ingressos a preços que caibam em diferentes tipos de orçamento.  

O livro é dedicado a Roberto de Regina. Houve outros incentivadores e divulgadores da música barroca executada pelos instrumentos para os para os quais ela foi composta antes dele?

Marcelo Fagerlande – Roberto reuniu as atividades de intérprete, construtor e divulgador do cravo. Fez toda diferença. No livro, mencionamos uma série de nomes, inclusive brasileiros, que se apresentaram ao cravo na cidade, como Alfredo Bevilacqua, em 1906, Gabriella Ballarin, em 1940,  Violetta Kunderl, a partir de 1949, sem falar na argentina Lucila Machuca de Garcia, que deu o primeiro recital no Theatro Municipal, em 1936, e foi presença marcante até a década de 1950. Mais a primeira apresentação na cidade aconteceu em 1904, no Theatro Lyrico, por uma cravista belga, que trouxe os instrumentos!

Este livro vem de uma pesquisa para o pós-doutorado. Como é o panorama do ensino de cravo no Brasil?

Marcelo Fagerlande – Nos anos 1960/70/80, o ensino era particular; através de cursos de férias (de curta duração). Na década de 1980, adquiriu um peso maior com Helena Jank, que criou um curso na Universidade Federal de Campinas (Unicamp). Também contribuí, a partir de 1995, quando fiz concurso para a UFRJ e posteriormente criei o bacharelado e mestrado. Hoje a cursos de graduação no instrumento e cursos profissionalizantes em diversas regiões do país. Além da Unicamp, UFRJ e UFPE, são oferecidos cursos na Escola de Música de Brasília, Escola Municipal de Música de SP, Conservatório de Tatuí, entre outros. A semana do cravo, na UFRJ, que organizo desde 2004, tem sido um ponto de encontro desta gente toda, alunos e professores! Tudo isso levou a uma maior profissionalização E um nível mais alto dos alunos, que tem perfil muito variado, sem relação a qualquer camada socioeconômica especifica.  São jovens que se apaixonaram pelo instrumento! Eu, que estudei piano, fui aos poucos me identificando com este outro mundo. É muito diferente do piano: a estética, a técnica, o repertório, as possibilidades de se fazer música com outros, desde câmera até óperas.  Há um aspecto artesanal, de afinarmos as 180 cordas, de regular e trocar cordas e o lindo visual muito particular de cada instrumento.

Mayra Pereira – Há dezenas de cravistas atuando de norte a sul do Brasil atualmente. São músicos de várias gerações realizando atividades artísticas, ainda que com limitações devido a diminuição de investimentos na área da cultura, e, sobretudo, didáticas. A expansão da oferta de ensino formal do instrumento a partir da década de 1980, com a criação de cursos de graduação, pós-graduação e técnicos em cravo, tem possibilitado, para além de uma maior acessibilidade à formação específica, novas oportunidades de trabalho para os cravistas profissionais. Especialmente nos últimos anos sugiram vagas tanto para docentes quanto para a cravistas acompanhadores em algumas instituições de ensino. Resta-nos saber qual será o futuro do cravo e dos cravistas no país. Aliás, essa é a pergunta que encerra nosso livro.

Choro do Água de Moringa no Bossa Criativa

Vão ao ar a partir desta sexta-feira (19) as duas partes do minishow do grupo de choro Água de Moringa na série Casa do Choro. A produção é do Instituto Casa do Choro, localizado no Rio de Janeiro e uma referência no gênero. A série é parte do projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente, iniciativa da Fundação Nacional de Artes – Funarte, em parceria com a UFRJ, com curadoria da sua Escola de Música.

  Foto: Silvana Marques
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Nascido em 1989 no campus da Unirio, o Água de Moringa vem se destacando por sua versatilidade. O grupo demonstra o mesmo espírito chorão dos músicos do Rio de Janeiro do final do século XIX, que criaram uma linguagem e uma nova escola a partir de suas experiências em tocar a música que chegava da Europa. Nesse espírito, combina a formação popular e acadêmica de seus integrantes para interpretar tanto choros de compositores tradicionais – como Ernesto Nazareth, Jacob do Bandolim e Radamés Gnatalli – como arranjos para pelas de nomes de outros gêneros da música brasileira, como Caetano Veloso, Guinga e Hermeto Pascoal. Seu primeiro disco – o CD “Água de Moringa” saiu em 1994 e, nos anos seguintes, ganhou edições em outros países, na Europa, EUA e Japão. A partir daí, o grupo passou também a excursionar pelos quatro cantos do mundo.

O Água de Moringa é formado por Rui Alvim (clarinete, clarone, sax soprano e sax alto), Marcílio Lopes (bandolim, violão tenor e bandocello), Jayme Vignoli (cavaquinho). Luiz Flavio Alcofra (violão e viola caipira), Josimar Gomes Carneiro (violão de sete cordas) e André Santos “Boxexa” (percussão e bateria). Ao longo de sua trajetória, o conjunto acompanhou uma infinidade de nomes da música brasileira, como Rildo Hora, Joel Nascimento, Paulo Moura, Altamiro Carrilho, Wilson Moreira, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho e Walter Alfaiate, entre muitos outros.

Minishow histórico em duas partes

Quando se aproximava de completar 30 anos de atividades, em junho de 2016, o Água de Moringa fez um concerto na Casa do Choro, apresentando o repertório que seria gravado meses depois no sétimo disco do grupo. Nele, como de costume, alternou ritmos e influências de nossa música, como maxixe, polca, valsa, choro, samba, batuque e seresta; animação e contemplação; regional e camerístico. São dessa apresentação, até então inédita em vídeo, as músicas escolhidas para o minishow veiculado agora como parte da série Casa do Choro, do projeto Bossa Criativa.

O minishow é dividido em duas partes, que serão postadas em duas sextas-feiras seguidas. Para a primeira, foram selecionadas três composições de um integrante do grupo, o cavaquinista Jayme Vignoli. “Soprado” e “Batucado”, ambas gravadas no cd “Água de Moringa 30”, e o lundu “Xisto, Bahiano e companhia”, ainda inédito em gravações comerciais e que foi estreado justamente naquela ocasião.

Na segunda parte, o grupo apresenta o choro lento “Saudades do Rio Vouga” (Paulo Aragão), o choro “Água corrente” (Pedro Paes) e ainda um clássico do choro, “Migalhas de amor” (Jacob do Bandolim), em arranjo escrito por Marcílio Lopes.

A série

Lançada em janeiro, a série Casa do Choro é composta por um conjunto de 50 video-oficinas e quatro shows gratuitos, que abordam história, análise, prática e performance de chorões – tratando desse gênero musical desde seu surgimento, no século XIX, até os dias atuais.

Os vídeos estão divididos em quatro módulos: Princípios do Choro, 8 com Maurício Carrilho, Furiosa Portátil e Minishows, que serão postados de forma seriada durante todo o primeiro semestre de 2021 e que poderão ser acessados através do site www.bossacriativa.art.br e, também, pelo canal Arte de Toda Gente, no Youtube.

O Bossa Criativa

Parceria entre a Funarte e a UFRJ, com curadoria da Escola de Música da universidade, o projeto Bossa Criativa – Arte de Toda Gente reúne apresentações e oficinas de diversas linguagens artísticas, integrantes de várias formas de economia criativa. O foco é a democratização da cultura, bem como a diversidade e a difusão de todas as artes, de modo inclusivo. A programação é composta de shows curtos, performances e atividades de capacitação, em vídeos, exibidos no site www.bossacriativa.art.br, com participação de artistas de todo o Brasil. A agenda inclui o lançamento de um edital para novas propostas artísticas e culturais; e também um chamamento público, para apresentação de trabalhos de mestrado na área das artes. A iniciativa faz parte do Projeto Arte de Toda Gente. Mais informações no site da iniciativa.

Acessibilifolia, a festa inclusiva

Será lançada no canal Arte de Toda Gente, no Youtube, com uma “live” no dia 10 de fevereiro, às 18h, o Acessibilifolia. O programa vai abordar e incentivar a acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência nas festas populares que integram o patrimônio cultural do Brasil. A ação faz parte do projeto Um Novo Olhar – realizado em parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

  Foto: Reprodução
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Como ação inicial, será publicada no site do projeto, www.umnovoolhar.art.br, a primeira parte da série de sete vídeos Inclusão e Folia, produzida em parceria com a Orquestra Voadora, do Rio de Janeiro. O Um Novo Olhar está incluído no programa Arte de Toda Gente, que tem curadoria da Escola de Música da UFRJ.

Novos conteúdos e canais

O Acessibilifolia vai gerar conteúdo e direcionar ações que busquem uma transformação nos festejos populares do país. O objetivo é torná-los mais democráticos e inclusivos – não só para as pessoas com deficiência, mas para todos que compartilham esses espaços, e promover, assim, a convivência e a diversidade. A ideia é estabelecer canais para a troca de experiências entre as pessoas com e sem deficiência, assim como entre os organizadores de festas, os gestores, os artistas e a comunidade acadêmica. Para isso, serão produzidas “lives”, entrevistas, séries de vídeos, “vodcasts” (audiovisual disponibilizado para download), publicações e outros materiais.

Inicialmente as atividades do Acessibilifolia terão como foco o carnaval de rua da cidade do Rio de Janeiro e serão realizadas apenas na forma virtual. Mas a proposta é ampliar, pouco a pouco, a área de abrangência para outras manifestações festivas, como desfiles de maracatu, blocos de frevo, bumba-meu-boi e muito mais.

O programa se inicia com a série Inclusão e Folia, produzida conjuntamente com a Orquestra Voadora – formação que inclui um bloco de carnaval no Rio. Com direção do professor, saxofonista, arranjador e compositor André Ramos, os sete vídeos abordam a questão da acessibilidade no carnaval de rua carioca, por meio de relatos e análises sobre a participação de pessoas com deficiência no bloco e na oficina de instrumentos da Orquestra. Os sete episódios da série serão postados ao longo de três semanas, sempre às quartas-feiras, às 18h, no site www.umnovoolhar.art.br.

Live de lançamento

Participarão da “live” que marca o lançamento do Acessibilifolia, no canal Arte de Toda Gente, no Youtube, Patrícia Dorneles, coordenadora do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da UFRJ e coordenadora das ações de acessibilidade do projeto Um Novo Olhar; Marcelo Jardim, diretor artístico e vice-diretor da Escola de Música da UFRJ e coordenador do Um Novo Olhar; e André Ramos, diretor dos vídeos da série Inclusão e Folia, saxofonista, professor de música, mestrando do curso profissional em Pedagogia do Instrumento do Promus – UFRJ, arranjador e um dos organizadores da Orquestra Voadora; e Heitor Luiz, músico, participante da Orquestra Voadora e cadeirante.

Sobre a Orquestra Voadora

A Orquestra Voadora surgiu em 2008, a partir do encontro de músicos que tocavam em vários blocos de carnaval do Rio de Janeiro. O grupo une o tradicional formato das bandas de sopro e percussão a um repertório eclético, e possui duas formações: um bloco de carnaval, que desfila no Rio e em São Paulo, e uma banda que faz apresentações de palco. O conjunto fez sua primeira turnê internacional em 2012, passando por cinco países da Europa. Em 2013, criou sua oficina de instrumentos de sopro e percussão, inspirando o surgimento de diversas bandas pelo Brasil.

O projeto Um Novo Olhar

O objetivo do projeto Um Novo Olhar é promover a acessibilidade e a inclusão de crianças, jovens e adultos com algum tipo de deficiência, por meio das artes e da capacitação de professores e de regentes para coro. Com a exibição online de shows e oficinas, vídeo podcasts (vodcasts) e “lives” sobre arte e acessibilidade e uma série de publicações, a iniciativa tem também como alvo dampliar a percepção de toda a sociedade sobre as deficiências. O trabalho integra o programa Arte de Toda Gente, desenvolvido em conjunto pela Funarte e pela UFRJ, por meio da Escola de Música da Universidade.

Saulo Laucas interpreta canções italianas no Um Novo Olhar

Um Novo Olhar apresenta, em seu site, o recital “Cancioneiro Italiano”, com o tenor Saulo Laucas. Cego e autista, e bacharel em Canto pela Escola de Música da UFRJ. Projeto é uma parceria da Funarte com a UFRJ.

Já está no ar, no site www.umnovoolhar.art.br, o recital “Cancioneiro Italiano”, com o tenor Saulo Laucas. Saulo, que é cego de nascença, foi diagnosticado autista aos três anos de idade e, desde criança, descobriu seu talento para a música. Com apoio da família e de professores, estudou piano e, mais tarde, canto. Hoje, bacharel em canto pela Escola de Música da UFRJ, segue carreira como tenor, com apresentações em diversas cidades brasileiras e aparições na TV – ele também gravou um CD, Belle Canzoni Italiane. 

  Foto: Reprodução
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O Um Novo Olhar é uma parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música.N

o site do Um Novo Olhar, Saulo apresenta um recital com um repertório que escolheu especialmente para a ocasião. Sua intenção, diz, é evocar as canções napolitanas que se tornaram clássicas na cultura italiana, despertando o interesse do público. A maioria dessas músicas apresentadas foi composta no final do século XIX e início do século XX.

Leia aqui uma entrevista com o artista e outras notícias sobre as atividades do Um Novo Olhar.

Sobre o projeto Um Novo Olhar

Desenvolvido conjuntamente pela Fundação Nacional de Artes – Funarte e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, por meio da Escola de Música da Universidade, o Um Novo Olhar tem como alvo promover a inclusão e o acesso de crianças, jovens e adultos com algum tipo de deficiência, por meio das artes e da capacitação de professores e de regentes para coro. Com a exibição online de performances de artistas e vídeo podcasts (vodcasts) sobre arte e acessibilidade; com lives e uma série de publicações, o projeto tem também o objetivo de ampliar a percepção de toda a sociedade sobre as deficiências.