
Direção Artística: Lutero Rodrigues
Regente Assistente: Felipe Faglioni
Violinos
Ivenise Nitchepurenco, spalla
Gabriel Redivo Chiari
Guilherme Marcolino Ribeiro
Michele Shieh
Sérgio Senda *
Rosineia Siqueira de Sena
Diego Muniz Costa
Allan Olimpio Galote Dantas
Violas
Gisely Batista
Levi Fernando ?Lopes Vieira Pinto
Violoncelos
Rogério Shieh **
Alfredo Santos
Contrabaixo
Gabriel Garabini Sakamoto *
* chefe de naipe
**chefe de naipe e solo de violoncelo em “Saudade” de Carlos Gomes
Arquivo e Montagem
Edson de Toledo Piza Filho
Arte e Mídia
Camila Cardoso Poszar
Digitalização
Carlos Henrique Cascarelli Iafelice
Produção
Gustavo Brognara
Projeto Gráfico – Identidade Visual
Carolina Daffara
Assessores
Profa. Dra. Loriza Lacerda de Almeida
Oscar K. Kogiso
Apresentação do CD
O período romântico redescobriu a orquestra de cordas e os compositores brasileiros acompanharam essa tendência, sob influência da Europa. Como esta formação instrumental não era comum no Brasil, vários optaram pelo quarteto ou quinteto de cordas, criando obras que hoje são executadas por orquestras de cordas, tais como Alexandre Levy e Carlos Gomes, por exemplo. Essas obras, geralmente, são peças curtas, lentas e expressivas, ou pequenas formas antigas, como danças, com proposta neoclássica, tendência da época, ou então transcrições de “peças características” que se destinavam originalmente ao piano, gênero muito próprio do romantismo. São obras que não costumam apresentar preocupação nacionalista.
Há alguns anos, a pesquisadora Lenita W. Nogueira nos deu as partes cavas de algumas obras de Sant’Anna Gomes (1834-1908), incluindo o quinteto de cordas Saudade. Segundo ela, o manuscrito da obra encontra-se no Museu Carlos Gomes e traz uma dedicatória a Carlos Gomes (1836-1896), sugerindo a autoria de seu irmão. Pouco depois, o musicólogo Arnaldo Senise nos ofertou um conjunto de partes cavas da mesma obra, que havia encontrado no arquivo de Luiz Levy, assinadas pelo copista Azarias Dias de Mello, músico que atuou em Campinas à época dos compositores. Uma inscrição, encontrada em todas as partes, indica a dupla autoria da obra: “Saudade/ Melodia do Mº Sant’Anna Gomes/ Quinteto arranjado por Antonio Carlos Gomes/ Milano, Março de 1882”.
Recentemente, Lenita nos enviou uma edição da época, publicada em São Paulo, da melodia original de Sant’Anna Gomes, que possui o mesmo título e também é dedicada ao irmão. Trata-se de uma “redução para piano”, realizada por Emilio Giorgetti. Ali estão a melodia inicial e o trecho em ré menor, mas a partitura permite a comparação entre as diferentes versões, tornando evidente a contribuição de Carlos Gomes que muito enriqueceu a obra: introduziu contra-cantos, novas seções com contrastes de caráter e até novos elementos melódicos.
O livro Antonio Carlos Gomes: Il Guarany, de Gaspare Nello Vetro, informa sobre execuções de um quinteto de cordas do autor, denominado Souvenir, na cidade de Trento, em 1883 e1884. O escritor supõe que a obra poderia ser uma versão prematura do célebre quinteto conhecido como O Burrico de Pau, de 1894. Cremos ser mais provável tratar-se do quinteto Saudade, título que, em francês, teria similaridade com a palavra Souvenir.
Rêverie, de Alexandre Levy (1864-1892), pianista e compositor paulista que se destacava na modesta vida musical de São Paulo de sua época, foi composta originalmente para quarteto de cordas, em outubro de 1889, quase dois anos após Levy retornar de Paris, onde estudou alguns meses. À época, foi considerada uma obra “no gênero Schumann – Reinecke”, compositores que reconhecidamente o influenciaram.
Entre nossos compositores, Henrique Oswald (1852-1931) foi aquele que viveu mais tempo na Europa: partiu aos dezesseis anos e somente retornou, definitivamente, aos sessenta anos, embora tenha estado diversos períodos no Brasil. Durante cerca de vinte anos foi pensionista do governo brasileiro. Tornou-se muito respeitado como camerista, deixando-nos, talvez, a produção de melhor qualidade, neste gênero, entre todos os seus contemporâneos. Romanza, composta em 1898, e Valse, cujo ano de composição não conseguimos definir, são exemplos expressivos de sua rica produção.
O Adagio, do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), já nasceu destinado à orquestra de cordas. Foi composto em Berlin, em 1891, onde o seu autor estudava sob a orientação de Herzogenberg, professor célebre e amigo de Brahms. O título original da obra, em alemão, era Erinnerung (Lembrança) e também teve execução posterior, com título em francês, Souvenir. Sua estreia ocorreu no Instituto Nacional de Música, Rio de Janeiro, sob a regência de Leopoldo Miguez, em abril de 1892.
Francisco Braga (1868-1945), carioca de origem muito humilde, tornou-se conhecido pelo episódio que viveu no concurso de composição do hino oficial do novo regime republicano, em 1890. Seu hino, hoje o nosso Hino à Bandeira, obteve o segundo prêmio, embora fosse o preferido do público, dando-lhe o direito de estudar na França, com bolsa do governo brasileiro. Foi admitido com destaque no Conservatório de Paris onde foi discípulo de Jules Massenet. Neste período compôs a gavota Marionettes (1892), para orquestra de cordas, obra que foi editada naquele país, uma prova consistente de seu domínio do estilo musical francês. Após dez anos de proveitoso estudo na Europa, onde compôs dezenas de obras, incluindo a ópera Jupyra, retornou ao Brasil, em 1900, dedicando-se também a uma bem sucedida carreira de regente.
No Rio de Janeiro, em 1901, compôs Madrigal Pavana, para orquestra de cordas, obra que ressalta seu dom de melodista. Em 1905, Braga iniciou a composição da música do melodrama O contratador de diamantes, de Afonso Arinos, para coro e orquestra sinfônica, concluída no ano seguinte. A obra possui duas danças, Minuetto e Gavota, que utilizam somente uma orquestra de cordas que deveria tocar no palco. Nestas pequenas obras, mais uma vez, Braga demonstra seu domínio das formas antigas, certamente adquirido na Europa. A obra foi estreada em São Paulo, em 1908, sob a regência do autor, mas foi em 1919 que mobilizou a alta sociedade paulistana, num grande espetáculo de riquíssima montagem, em memória de Afonso Arinos, morto em 1916. A repercussão foi enorme, inclusive porque, entre os figurantes, havia “pretos de verdade”. Braga regeu a orquestra do fosso, enquanto Francisco Mignone, com trajes de época e peruca, regeu a orquestra do palco.
O compositor e violinista Leopoldo Miguez (1850-1902) era carioca e foi Diretor do Instituto Nacional de Música, nos primeiros anos da República. Passou toda sua juventude em Portugal e Espanha, retornando ao Brasil aos vinte e um anos. Mais tarde voltou à Europa para continuar seus estudos musicais, tornando-se um notório admirador de Wagner. Entre suas últimas obras, há duas séries de Scenas Pitorescas, op. 37 e 38, para orquestra de cordas, cada uma contendo seis peças. Pierrot e a canção Saudade pertencem à primeira série; a valsa Tetéia e o scherzo Folguedo, à segunda. Todas elas possuem versões anteriores para piano.
As obras de Francisco Braga e Leopoldo Miguez, que foram gravadas neste CD, integram o Acervo de Manuscritos da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ. Elas foram editadas por André Cardoso, com editoração de Thiago Sias, e revisadas por nós. A Romanza, de Henrique Oswald, foi também editada por André Cardoso e publicada na Revista Brasileira de Música.
Lutero Rodrigues
Diretor Artístico da Orquestra Acadêmica da Unesp
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