A Criação de Haydn

Reprodução
Haydn
Retrato a óleo de Joseph Haydn, (c. 1760).

Die Schöpfung (A Criação, em português), oratório composto por Haydn entre 1796 e 1798, é o destaque desta semana de Concertos UFRJ. Ainda que o gênero tivesse tido o seu apogeu um pouco antes, no período barroco, é uma das obras mais carismáticas de toda a história da música e, para muitos, a obra-prima deste gênio do classicismo vienense.

Die Schöpfung (A Criação, em português), oratório composto por Haydn entre 1796 e 1798, é o destaque desta semana de Concertos UFRJ. Ainda que o gênero tivesse tido o seu apogeu um pouco antes, no período barroco, é uma das obras mais carismáticas de toda a história da música e, para muitos, a obra-prima deste gênio do classicismo vienense.

 

A obra do Haydn (17932-1809) é imensa e abrange os mais variados gêneros desde peças para teclado até grandes óperas e, nada menos, que 104 sinfonias.  O compositor austríaco é autor também de outro grande oratório: “As Estações”.

 

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Ouça aqui o programa: 

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Toda segunda-feira, às 22h, tem “Concertos UFRJ” na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

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“A Criação” estreou no dia 30 de Abril de 1798 no palácio de umas das mais nobres famílias de Viena, os Schwarzenberg. Foi uma execução privada, ainda que tivesse havido um ensaio público no dia anterior. Um ano mais tarde, em 19 de março, teve lugar a primeira apresentação pública no Burgtheater, também em Viena, novamente com Haydn (1732-1809) na regência.

 

A base do libreto é o Génesis, acrescentado de materiais do Livro dos Salmos e do Paraíso Perdido, o famoso épico de Milton. Foi traduzido para a língua alemã pelo barão Gottfried van Swieten, um diplomata melómano que fez carreira a serviço do Império Austro-Húngaro e que colaborou também com outros compositores importantes como Mozart e Beethoven. Não se sabe ao certo a proveniência do original inglês, mas terá sido provavelmente escrito pensado em George Frideric Handel. Por sinal, é Handel a grande referência de Haydn para esta obra, já que em 1791 o músico austríaco havia assistido em Londres a um festival na Abadia Westminster onde ouviu oratórios daquele compositor.

 

A obra está dividida em três partes. A primeira trata dos quatro dias iniciais da criação; o surgimento da luz, da terra e do mar, dos corpos celestes e da vida vegetal. A segunda, da criação da vida animal: dos bichos, das aves, dos peixes, do homem e da mulher. Finalmente, a terceira parte, bastante mais curta, é inteiramente dedicada às figuras de Adão e Eva e revela uma escrita musical que sugere um mundo idílico e perfeito, através de um raro virtuosismo instrumental.

 

A partitura consiste num tríptico composto pelo mundo inanimado, o mundo animal e o mundo do Homem. Numa continuada sucessão de curtas partes instrumentais, árias muito semelhantes às da ópera, recitativos particularmente elaborados, intervenções conjuntas dos solistas e coros de grande efeito. Ao todo, são trinta e quatro os fragmentos que a compõem, protagonizados pelos arcanjos Gabriel, Uriel e Rafael, aos quais se juntam na terceira parte Adão e Eva.

 

A versão transmitida foi a John Eliot Gardiner, com as sopranos Sylvia McNair e Donna Brown, o tenor Michael Schade, os barítonos Gerald Finley e Rodney Gilfrey, Coro Monteverdi e os Solistas Barrocos Ingleses.

Concertos UFRJ resultam de um convênio da UFRJ com a rádio Roquette Pinto, indo ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

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A música colonial em Concertos UFRJ

Foto: Reprodução
Profetas, Aleijadinho
Baruc, um dos Profetas, Aleijadinho. O sa­cro domina nas artes e na música.

Um passeio pela música colonial brasileira é o convite que faz esta semana o programa Concertos UFRJ aos seus ouvintes.

Um passeio pela música colonial brasileira é o convite que faz esta semana o programa Concertos UFRJ aos seus ouvintes. Em destaque, um repertório que, aos poucos, vem sendo desvendado pela pesquisa musicológica e posto novamente à circulação de um público mais amplo por iniciativas discográficas pioneiras e por instrumentistas e grupos, felizmente cada vez mais numerosos, apaixonados por ele. Belo aperitivo para o que começa na próxima semana na Escola de Música e que reúne músicos e especialistas do País que vão se debruçar justamente sobre os problemas da interpretação contemporânea de partituras, como essas, silenciadas por séculos.

 

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Há uma heterogeneidade na recepção da produção cultural brasileira do séc. XVIII e início do XIX. As obras dos principais artistas do barroco brasileiro, por exemplo, já são amplamente aceitas. É o caso das pinturas de Manuel da Costa Ataíde (1762-1837), mais conhecido como Mestre Ataíde, e, sobretudo, das esculturas de Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o “Aleijadinho”, que despertam a admiração de todos, especialmente depois que foram “redescobertas” pelos nossos modernistas no início do século passado. O mesmo não aconteceu, entretanto, com a música executada nas Igrejas setecentistas riscadas pelas mãos deformadas daquele mulato genial. Compositores seus contemporâneos como Lobo de Mesquita, Parreira Neves, Manuel Dias e Castro Lobo são quase que totalmente desconhecidos fora do estreito círculo dos pesquisadores e musicólogos.

 

Mas se a produção artística do período pode ser caracterizada como barroca, ainda que diversos especialistas chamem atenção para as características que a distingue da vertente europeia, a música do período é já nitidamente pré-clássica, com alguns resquícios barrocos como a presença do baixo contínuo denuncia. Outro aspecto marcante, o repertório quase exclusivamente sacro e destinado a apoiar as inúmeras cerimônias litúrgicas.

 

Parreiras Neves

 

A primeira obra destacada pelo programa foi o Credo para coro e orquestra, composto entre 1780 e 1785 pelo por Inácio Parreiras Neves, de quem se possui escassas informações biográficas e do qual restaram poucas partituras. Sabe-se, porém, que nasceu na então cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, em 1730, e faleceu em data imprecisa por volta de 1794. A interpretação, a da Camerata Barroca de Caracas com a direção de Isabel Palácios.

 

Lobo de Mesquita

 

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita é o autor que a quase unanimidade dos musicólogos considera o mais importante dos muitos que exerceram o ofício nas Minas Gerais daquele período. Nasceu por volta dos anos 1740 e atuou como organista e compositor em Diamantina, Vila Rica e nas cidades da região. Com o declínio do ciclo do ouro acabou vindo para o Rio de Janeiro em 1800, onde se tornou organista da Igreja do Carmo, na atual Praça XV. Aqui faleceu em 1805.

 

Suas obras foram resgatadas nos anos 40 do século XX pelo musicólogo teuto-uruguaio Francisco Curt Lange, quando pesquisava manuscritos nos antigos arquivos das irmandades mineiras. O programa apresenta duas delas: a Antífona de Nossa Senhora Salve Regina, uma das primeiras recolhidas; e o Te Deum Alternado para coro e orquestra, peça de maior envergadura que combina trechos cantados em gregoriano com partes compostas por Mesquita. As interpretações foram, respectivamente, a do Coral Ars Nova da Universidade Federal de Minas Gerais e orquestra de músicos convidados sob a direção de Carlos Alberto Pinto Fonseca, e a da Camerata Barroca de Caracas tendo como solista o barítono Esteban Cordero e direção de Isabel Palácios.

 

Dias de Oliveira

 

Na região atuou também outro importante compositor brasileiro do período colonial, Manuel Dias de Oliveira que nasceu por volta do ano de 1734 na Vila de São José , atual Tiradentes. Foi mestre de capela e músico militar. Muitas de suas obras foram preservadas, das quais a mais executada é o Magnificat para coro e orquestra que o programa apresentou na versão do Coral Ars Nova da Universidade Federal de Minas Gerais, orquestra de músicos convidados e a direção de Carlos Alberto Pinto Fonseca.

 

Castro Lobo

 

Fora do círculo da produção sacra uma das poucas obras conhecidas do período é a Abertura em Ré do Padre João de Deus Castro Lobo, compositor que nasceu na cidade de Vila Rica em 1794 e faleceu precocemente na vizinha Mariana em 1832. A partitura foi resgata há pouco mais de 30 anos de forma inusitada por Harry Crowl, quando pesquisava um acervo de banda.

 

Ela está dividida em duas partes, sendo a primeira um movimento lento em forma de introdução onde se destaca o grande solo de violoncelo. A segunda, um allegro. A versão transmitida foi da Orquestra Barroca do 17o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora sob a direção de Luiz Otávio de Souza Santos.

 

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Música norte-americana em Concertos UFRJ

Foto: Reprodução
Geraldine Farrar
Copland é um dos compositores destacados no programa.

Concertos UFRJ reprisam nesta semana a edição dedicada à música norte-americana, uma das mais ricas e diversificadas do mundo, mas que apenas a partir do século passado começa a ganhar maior relevância no plano da produção destinada a concerto. Em destaque, no programa, obras de quatro compositores fundamentais deste período: George Gershwin, Samuel Barber, Leonard Bernstein e Aaron Copland.

A música norte-americana é, sem dúvida, uma das mais ricas em termos de diversidade, sendo o jazz, o pop e o musical os gêneros internacionalmente mais difundidos. No plano da música de concerto, os EUA fomentam hoje uma das mais importantes cenas artísticas, com grandes casas de óperas, salas de concerto e algumas das melhores orquestras do planeta. No terreno da criação, entretanto, contribuem de maneira relevante somente a partir do século passado. Em destaque, no programa, peças de George Gershwin, Samuel Barber, Leonard Bernstein e Aaron Copland.

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Gershwin

George Gershwin (1898-1937), nascido Jacob Gershowitz, formou com seu irmão mais velho Ira, letrista da maioria de suas obras vocais e teatrais, uma dupla que renovou os musicais da Broadway. Gershwin teve também pretensões na música de concerto, tendo escrito uma das mais conhecidas obras do reportório para piano e orquestra – a Rhapsody in Blue, que foi orquestrada por Ferde Grofé para a jazz band de Paul Whiteman. Grofé faria dela mais duas versões: uma em 1926, outra em 1942.

Na primeira apresentação pública no Aeolian Hall, Nova Iorque, o próprio compositor atuou como solista e estiveram presentes a audição nomes como Stravinsky, Rachmaninov e Leopold Stokowski. A versão veiculada trouxe a Orquestra Sinfônica de Chicago e James Levine como pianista e regente.

Barber

Outro compositor norte-americano relevante foi Samuel Barber, que viveu entre 1910 e 1891. Em 1936, com apenas 26 anos, escreveu um quarteto de cordas, cujo segundo movimento transcreveu para orquestra de cordas e intitulou “Adaggio para Cordas”. Em 1938, o grande maestro Arturo Toscanini estreou a nova versão com a orquestra da NBC, e a peça se tornou uma das mais conhecidas de Barber, tendo sido incluída trilha sonora de Platoon, filme de Oliver Stone.

A edição de Concertos UFRJ apresentou a versão da Filarmônica de Los Angeles, tendo a frente Leonard Bernstein.
 

Bernstein

Além de grande maestro, Leonard Bernstein (1918-1990) foi também um dos mais importantes compositores dos EUA e deixou obras fundamentais como os musicais West Side Story (1957) e On the Town (1944), três sinfonias, e os Chichester Psalms (1965), entre outras.

O programa destaca uma de suas obras sinfônicas mais executadas, a abertura do musical Candide (1956), baseado na obra homônima do filósofo ilustrado Voltaire. Na versão veiculada, o próprio compositor dirige a Filarmônica de Los Angeles.

Copland

O último compositor abordado foi Aaron Copland (1900-1990), contemporâneo de Barber e Bernstein. Copland nasceu no Brooklyn, Nova Iorque, descendente de judeus lituanos, e deixou uma obra vigorosa em que sobressaem as brilhantes composições sinfônicas, especialmente os ballets.

Na década de 1940, que foi, sem dúvida, a mais produtiva e que lhe rendeu granjeou fama mundial, Copland recebeu uma encomenda do Ballet Russo de Monte Carlo, para o qual escreveu o ballet Rodeo. Coreografado por Agnes de Mille s obra é composto por cinco números de grande força rítmica e orquestração brilhante em que são elaborados vários temas folclóricos norte-americanos.  

Na versão sinfônica, cuja interpretação da Orquestra Sinfônica de Saint Louis sob a regência de Leonard Slatkin o programa apresentou, um dos números é omitido e os outros desenvolvidos na forma de suíte: “Buckaroo Holiday”, “Corral Nocturne”, “Piano Interlude & Saturday Night Waltz” e “Hoe-Down”.

 

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Beethoven: Cristo no Monte das Oliveiras

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Beethoven por Hornemann
Retrato do compositor de autoria de Christian Hornemann, c. 1803.

A atração desta semana de Concertos UFRJ é o oratório “Cristo no Monte das Oliveiras” de Ludwig van Beethoven. Obra que dramatiza um momento repleto de significados da narrativa mítico-religiosa da paixão, morte e ressureição de Jesus, que o imaginário cristão rememora na Semana Santa. Período que se inicia com o chamado Domingo de Ramos, com sua entrada triunfal, acompanhado dos discípulos, em Jerusalém e termina no domingo seguinte com a Páscoa.

A atração desta semana de Concertos UFRJ é o oratório “Cristo no Monte das Oliveiras” de Ludwig van Beethoven. Obra que dramatiza um momento repleto de significados da narrativa mítico-religiosa da paixão, morte e ressureição de Cristo, que o imaginário cristão rememora na Semana Santa. Período que se inicia com o chamado Domingo de Ramos, ccom sua entrada triunfal, acompanhado dos discípulos, em Jerusalém e termina no domingo seguinte com a Páscoa.

 

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Segundo essa tradição, na quinta-feira, após a ceia em que anuncia sua morte iminente, Jesus sobe o Monte das Oliveiras para meditar e orar. Consciente do destino que o aguarda, enfrenta uma longa noite de dúvidas, aflições e angústias que culmina no beijo de Judas Iscariotes e em sua prisão pelas tropas romanas. No amanhecer da sexta-feira, será açoitado, condenado e, a seguir, morto.

 

O oratório “Christus am Ölberge” (em português, “Cristo no Monte das Oliveiras”), op. 85, de Beethoven (1770-1827) resgata o episódio do Jardim das Oliveiras. O libreto é de autoria do poeta Franz Xaver Huber, com quem o compositor colaborou ativamente. A obra foi concluída em poucas semanas, no final de 1802, logo após ter escrito o famoso Testamento de Heilligenstadt – carta dirigida à seus irmãos Karl e Johann, na qual, sob o impacto dos primeiros sinais de surdez, afirma sua convicção na música como redentora de todos os males. A estreia aconteceu do ano seguinte, em 5 de abril, no Theater an der Wien, em Viena. Mais tarde o compositor reviu a partitura para publicação pela Breitkopf & Härtel. Os quase dez anos que se passaram entre a composição e a publicação resultaram na atribuição de um número de opus relativamente elevado a ela.

 

O oratório está marcado para soprano, tenor, baixo, coro e orquestra. O tenor representa Jesus, o soprano um serafim (anjo) e o baixo Pedro,  o apóstulo. A obra começa de forma dramática com a agonia de Jesus que canta um recitativo e ária cujo texto diz “Toda a minha alma dentro de mim estremece”. Prossegue com o canto do serafim que afirma a bondade divina e a salvação dos justos, a que se segue um coro de júbilo. Após um dueto e breve recitativo, se houve o coro masculino em tempo de marcha, que configura a chegada dos soldados e o tumulto que se segue. No diálogo com Pedro, Jesus o convence a não resistir. No número final, após uma breve introdução orquestral, um coro de anjos canta uma Aleluia, com o qual a peça termina.

 

A gravação apresentada é a de 1992 e traz o tenor James Anderson, como Jesus; o soprano Monica Pick-Hieronimi, como o serafim; e o baixo Victor van Halem, como Pedro. Os músicos e o coro são da Orquestra Nacional de Lyon, tendo Serge Baudo como regente.

Concertos UFRJ resultam de um convênio da UFRJ com a rádio Roquette Pinto, indo ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

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As óperas de Marcos Portugal

Marcos Portugal
Miniatura do compositor, autor anônimo, c.1790-1795.

A atração desta semana de Concertos UFRJ é a segunda, e última,  parte do especial Marcos Portugal – compositor luso-brasileiro, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012.

A atração desta semana de Concertos UFRJ é a segunda, e última, parte do especial Marcos Portugal – compositor luso-brasileiro, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012. Em destaque, sua vasta produção dramática que conquistou uma celebridade verdadeiramente internacional, mas experimentou, depois, longo período de ocaso. Felizmente, porém, ela vem sendo resgatada nos últimos anos por musicólogos do calibre de David Cranmer e António Jorge Marques e, cada vez mais, objeto de novas encenações e de gravações cuidadosas.

 

   
 
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De 1792 a 1800, Marcos Portugal (1762-1830) viveu em Nápoles, Itália, onde compôs mais de 20 óperas de muito sucesso, encenas não só naquela cidade, mas em Veneza, Florença, Milão e em toda a Europa. Um bom exemplo da produção desta época é a “farsa giocosa per musica” em um ato “Le Donne Cambiate” (As Damas Trocadas), composta em 1797 e montada pela primeira vez em Veneza. O programa apresentou sua abertura, na versão da City Of London Sinfonia, tendo a frente Álvaro Cassuto, talvez o regente português de maior repercussão internacional na atualidade e responsável pela gravação de diversas obras do compositor. 

Após regressar a Lisboa, Marcos Portugal foi nomeado diretor do Teatro São Carlos de Lisboa, função que dividia com Valentino Fioravanti. Ao compositor cabia o repertório sério, enquanto seu colega italiano cuidava da produção bufa. É desta época sua “La morte de Semiramide”, que estreou em dezembro de 1801. Com a Orquestra Clássica do Porto, conduzida por Meir Minsky, Concertos UFRJ apresentou a abertura da obra. 

Marcos Portugal foi também um notável compositor de ópera bufas. Muitas delas extremamente bem sucedidas e, todas, no melhor estilo napolitano. É o caso de “Il Duca Di Foix”, escrita em 1805, cuja abertura o programa destacou. A interpretação, mais uma vez, foi a de Álvaro Cassuto e da Orquestra Algarve. 

No advento das invasões francesas, a Corte portuguesa acaba se refugiando no Rio de Janeiro, aonde chega em março de 1808. Cerca de dois anos e meio mais tarde D. João VI ordena que o compositor atravesse o Atlântico para o “ir servir” no Brasil. Nesta cidade não criou nenhuma ópera nova, limitando-se a remontar as escritas no período europeu, muitas das vezes no Teatro Real de São João, construído à imagem do São Carlos de Lisboa e inaugurado em 1813. Foi o caso de “Lo spazzacamino”, título em italiano para “O Basculho de Chaminé”, cujo manuscrito se encontra preservado na biblioteca da Escola de Música da UFRJ. 

A ópera, que tem libreto de Giuseppe Maria Foppa, estreou em 1794 e foi um dos maiores sucessos do compositor, tendo sido logo levada à Veneza e mesmo à distante Rússia. É uma peça ligeira, escrita nos moldes da “comédia de enganos”, e o enredo narra as confusões em que se mete um jovem marquês que, duvidando da fidelidade daqueles que o rodeiam, resolve trocar de roupas com um humilde limpador de chaminés… Em 2001, ela ganhou sua primeira gravação mundial completa, a cargo da Orchestra da Camera Milano Classica, conduzida pelo incansável maestro Álvaro Cassuto, e tendo como solistas Ilaria Torciani, Silvia Lorenzi, Sergio Spina, Andrea Porta, Claudio Zancopè, Daniele Cusari. Deste histórico registro, o programa apresentou o primeiro ato. 

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A Música Sacra de Marcos Portugal

Marcos Portugal
O compositor, segundo gravura de Charles-Simon Pradier, séc XIX.

Concertos UFRJ dedicam dois programas à música de Marcos Portugal, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012, e que constitui caso único na história cultural luso-brasileira, pelo sucesso sem paralelo que alcançou na época.

Concertos UFRJ dedicam dois programas à música de Marcos Portugal, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012, e que constitui caso único na história cultural luso-brasileira, pelo sucesso sem paralelo que alcançou na época. Nesta semana o destaque são as obras sacras do compositor, na próxima será aborda a sua vasta produção dramática que inclui mais de 70 obras, cerca de 40 delas óperas.

 

Marcos António da Fonseca Portugal [Marco Portogallo] nasceu em Lisboa em 24 de março de 1762 e ingressou no Seminário Patriarcal com apenas nove anos, tendo sido aluno de João de Sousa Carvalho. Começou a compor com 14, quando escreveu um Miserere, a quatro vozes e órgão. Tornou-se músico profissional com 21, admitido na irmandade de Santa Cecília, de Lisboa. Foi também organista e compositor da Sé Patriarcal daquela cidade e, em 1785, nomeado mestre do Teatro do Salitre, para o qual escreveu suas primeiras obras de cena.

 

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Portugal se transferiu em 1972 para Nápoles, o grande centro operístico da época, onde se converteu em um ativo compositor do gênero. Escreveu inúmeras óperas em estilo italiano que foram encenadas nos mais importantes palcos da Itália, como os teatros La Pergola e Pallacorda, ambos em Florença; San Moise, em Veneza; e no famoso La Scala, de Milão. Entre elas, Lo Spazzacamino (1794) e Il Demofoonte (1794).

 

Retornou a Portugal em 1800, sendo nomeado mestre da Capela Real e diretor do Teatro de São Carlos de Lisboa, para o qual compôs várias óperas, como La morte di Semiramide (1800), L’oro non compra amore (1801), La Merope (1804), Il duca di Foix (1805), Artaserse (1806) e La morte di Mitridate (1806).

 

Em 1811 viajou para o Rio de Janeiro a pedido do Príncipe Regente, refugiado no Brasil, com os demais membros da Família Real, por causa da invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. Sendo recebido como uma celebridade, foi, aqui, imediatamente nomeado Mestre da Capela Real. Marcos Portugal viveu nesta cidade o resto da vida, não tendo acompanhado a corte, em 1821, quando esta regressou a Lisboa. Preferiu ficar a serviço de D. Pedro I, filho de D. João VI, tendo sido confirmado como Mestre de Música da Imperial Família. Foi também o autor do primeiro Hino da Independência do Brasil. Faleceu em 1830, relativamente esquecido.

 

Da sua produção sacra, que conta mais de 140 obras, a edição de Concertos UFRJ destacou os responsórios de números 1 a 4 (“ Hodie nobis caelorum Rex”, “Hodie nobis de caelo”, “Quem vidistis pastores?“ e “O magnum mysterium”) das Matinas do Natal, compostas a pedido de D. João VI, para as comemorações de 1811, que tiveram lugar na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, na atual Praça XV.  Uma das primeiras obras originais criadas pelo compositor em terras brasileiras, já que, na realidade, muitas deste período são versões e reelaborações de trabalhos anteriores do autor, o extenso título que consta da partitura diz “Mattinas do Santissimo Natal de Nosso Senhor Jesus Christo. A 4 e mais vozes. Com obrigação de Clarinettes, Trompas, Violettas, Fagottes, Violoncellos, Contrabachos e Orgão. Composto para a Capella Real do Rio de Janeiro, por ordem de S.A.R. o Príncipe Regente nosso Senhor. Por Marcos Portugal.”

 

Mesmo sendo uma obra de inspiração religiosa, o modelo adotado, bem de acordo, aliás, com o gosto da época, é mundano: estão presentes nela os maneirismos típicos das óperas italianas. Cabe mencionar ainda que as Matinas guardam estreita relação com a Missa Pastoril de José Maurício Nunes Garcia – ambas foram escritas para a mesma solenidade, ambas apresentam carácter “pastoril”, expresso, sobretudo, nos solos de clarinete recorrentes e nas referências explícitas; e a instrumentação adotada é, não só idêntica, como peculiar, por dispensar violinos.

 

A gravação veiculada traz o primeiro registro da obra e é uma iniciativa do Ensemble Turicum, grupo suíço que, sob a direção do tenor brasileiro Luiz Alves da Silva, vem se dedicando à música antiga do Brasil e de Portugal. Para conseguir uma maior flexibilidade em suas interpretações, o grupo toca em instrumentos históricos (uma ou mais vozes, cordas simples, contínuo, sopros se necessário).

 

O programa radiofônico Concertos UFRJ, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

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Do clássico ao choro

Foto: Divulgação
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Maria Helena de Andrade, piano sem preconceitos.

A edição desta semana de Concertos UFRJ destaca mais um importante lançamento, o CD “Brasil: do clássico ao choro”, da pianista Maria Helena de Andrade.

A edição desta semana de Concertos UFRJ destaca mais um importante lançamento, o CD “Brasil: do clássico ao choro”, da pianista Maria Helena de Andrade. Com obras de Alberto Nepomuceno, Francisco Mignome, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Edino Krieger, Ernesto Nazareth e Zequinha de Abreu, ele convida a um passeio eclético – e sem preconceitos – por diferentes fases e estilos da nossa música.

 

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Natural de Belém, Maria Helena diplomou-se em piano pelo Conservatório Carlos Gomes (CONSCG) daquela cidade, em 1965. Mais tarde transferiu-se para o Rio, a fim de continuar os estudos. Aqui se aperfeiçoou com Oriano de Almeida, Homero de Magalhães e Glória Maria da Fonseca Costa. Mestre em Música pela UFRJ, em 1984, foi aluna de Jacques Klein e Heitor Alimonda, tendo defendido tese sobre Francisco Mignone, que escreveu uma suíte especialmente para servir de tema à sua pesquisa.

 

Como solista e camerista, exerce intensa atividade, atuando, com sucesso, nas mais renomadas salas de concerto do país, além de se apresentar em diversos países da Europa, nos Estados Unidos e no México. Foi durante anos professora da Escola de Música e, atualmente, leciona dos Seminários de Música ProArte. Integra também, com Sônia Maria Vieira, o Duo Pianístico da UFRJ e, com Aizik Geller e Maria Célia Machado, o Trio D’Ambrosio. Ao longo da carreira recebeu inúmeros prêmios, medalhas e títulos.

 

O CD “Brasil: do clássico ao choro” é uma produção da série Música no Museu, com apoio do governo do Rio de Janeiro, através da sua secretaria de cultura. Das 22 faixas, o programa apresentou Seguida, de Francisco Mignone; quatro miniaturas da série Guia Prático, de Villa-Lobos; Hommage à Chopin, do mesmo compositor, escrita em 1949 sob encomenda da Unesco por ocasião do centenário de morte do grande mestre do piano do séc. XIX; Dança Negra, de 1946, e o Ponteio 49, do ciclo de 50 peças para piano de Camargo Guarnieri.

 

De caráter mais popular, a Valsa Nina e o Choro Manhoso de Edino Krieger; e Brejeiro, Odeon e Apanhei-te, cavaquinho, de Ernesto Nazareth – autor que, na virada do séc. XIX para o XX usou as danças de salão europeias e o pianismo de Chopin para construir uma obra que é quase sinônimo de brasilidade e com forte sotaque carioca.  Por fim, uma das nossas mais conhecidas melodias: Tico-tico no fubá, de Zequinha de Abreu, música que encerra o CD em grande estilo.

 

O programa radiofônico Concertos UFRJ, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

 

 

BRASIL: DO CLÁSSICO AO CHORO

 

Maria Helena de Andrade

 

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ALBERTO NEPOMUCENO
Suíte Antiga, op. 11.
1. Prelúdio, 1:30
2. Minueto, 4:56
3. Ária, 4:26

FRANCISCO MIGNONE
Seguida
4. Temperando, 2:09
5. Outra lenda sertaneja, 2:51
6. Beliscando forte, 2:19
7. Valsa que não é de esquina, 3:51
8. Batuque batucado, 2:31

VILLA-LOBOS
Guia Prático
9. A maré encheu, 2:11
10. Sinh’Aninha, 0:44
11. Pai Francisco, 1:08
12. Na corda da Viola, 2:08
Hommage à Chopin
13. Nocturne, 2:33
14. Ballade, 5:24

CAMARGO GUARNIERI
15. Dança Negra, 4:16
16. Ponteio no 49 (Torturado), 2:22

EDINO KRIEGER

17. Nina (Valsa), 2:58
18. Choro Manhoso, 1:41

ERNESTO NAZARETH
19. Brejeiro, 2:13
20. Odeon, 2:47
21. Apanhei-te, cavaquinho, 2:23

ZEQUINHA DE ABREU
22. Tico-tico no fubá, 2:33

 

A orquestra de cordas no romantismo brasileiro

Foto: Divulgação
Luetrto Rodrigues
Lutero Rodrigues apresenta o resultado de dois anos de pesquisas.

A edição desta semana de Concertos UFRJ chama atenção para o recém-lançado CD “A orquestra de cordas no romantismo brasileiro”. Iniciativa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele resgata obras, muitas delas até então inéditas, escritas em um dos períodos mais férteis de nossa cultura.

A edição desta semana de Concertos UFRJ chama atenção para o recém-lançado CD “A orquestra de cordas no romantismo brasileiro”. Iniciativa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele resgata obras, muitas delas até então inéditas, escritas em um dos períodos mais férteis de nossa cultura. Sob a regência de seu diretor artístico, Lutero Rodrigues, a Orquestra Acadêmica daquela instituição executa 13 peças de criadores emblemáticos de nossa trajetória musical.

 

Lutero Rodrigues da Silva é professor da Unesp. Fez doutorado na USP, defendendo a tese “Carlos Gomes: um tema em questão”, que acaba, aliás, de ser publicada.  Nela o pesquisador mostra como Mário de Andrade, um dos principais escritores do modernismo brasileiro, encontrou na obra do compositor um vasto material para pesquisa e crítica, e como nossos modernistas a usaram, não raro com certo viés preconceituoso, como um dos elementos de difusão do movimento. Membro da Academia Brasileira de Música, Rodrigues é um dos mais ativos regentes brasileiros da atualidade.

podcast

Ouça aqui o programa: 

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Toda segunda-feira, às 22h, tem “Concertos UFRJ” na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção .

 

Distribuído gratuitamente, os interessados em receber o CD devem encaminhar solicitação para unesp.imprensa@reitoria.unesp.br. Os exemplares disponíveis serão enviados para os internautas cadastrados. A distribuição é limitada.


Repertório

 

A primeira obra apresentada no programa é resultado de uma curiosa parceria entre o compositor José Pedro de Sant’Ana Gomes e seu famoso irmão, Antônio Carlos Gomes (1836-1896). Intitulada “Saudade” toma como base uma melodia de Sant’Ana que foi, mais tarde, arranjada para orquestra de cordas pelo nosso grande operista.

 

Outro compositor paulista contemplado no CD, Alexandre Levy (1864-1892), deixou, infelizmente, um repertório pequeno, poe causa de uma morte prematura. Porém, apesar de ter vivido apenas 28 anos, escreveu obras de fôlego como uma Sinfonia em mi menor e o Poema Sinfônico Werther, além de várias peças para piano. Sua “Rêverie” foi originalmente composta para quarteto em 1889 e denuncia a influência de Mendelssohn e Schumann.

 

Outro compositor que faz parte do repertório do CD é Henrique Oswald (1852-1931), um dos mais importantes de sua geração. Nasceu do Rio de Janeiro, filho de pai suíço e mãe de origem italiana, e passou a maior parte da vida na cidade de Florença, Itália, para onde viajou em 1868, quando contava com apenas dezesseis anos. Retornou ao Brasil no início do séc. XX para se tornar diretor do Instituto Nacional de Música (INM), atual Escola de Música da UFRJ. A obra de Oswald revela um compositor de grande domínio técnico e inspiração refinada que abordou diferentes gêneros, desde miniaturas para piano solo até grandes óperas. As duas obras do compositor gravadas podem ser enquadradas como peças características: a “Romanza”, de 1898, e “Valse”, cuja data não foi ainda precisada.

 

O cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), também diretor do INM, é outro compositor recordado. Sua formação se deu predominantemente na Europa, tendo deixado obras que frequentam com assiduidade as nossas salas. O seu “Adágio”, foi escrito em Berlim, em 1891. A estreia, porém, só aconteceu no ano seguinte e no Rio de Janeiro, em concerto dirigido por Leopoldo Miguez.

 

A obra de Francisco Braga (1868-1945), autor do Hino à Bandeira, é ainda pouco conhecida. Menino de origem humilde, mercê de seu talento ganhou uma bolsa de estudos no Conservatório de Paris. De volta ao Brasil se tornou um disputado professor de composição e regente de várias orquestras. Sua obra é bastante eclética e sua técnica apurada permitiu abordar diferentes gêneros e linguagens. O CD destaca a gavota “Marionettes” (1892), escrita para piano e transcrita pelo próprio autor para orquestra de cordas; o madrigal “Pavana”, de 1901; e as danças, “Minuetto” e “Gavota”, da música incidental para a peça “O contratador de diamantes”, do escritor Afonso Arinos.

 

Por fim, o programa veicula as quatro peças do compositor Leopoldo Miguez (1850-1902), outro músico que foi também diretor do INM. Escreveu duas séries de pequenas peças de caráter infantil para piano e intituladas “Cenas Pitorescas”, op. 37 e 38. Posteriormente transcritas para orquestra de cordas pelo próprio autor, ganharam o nome de “Esboços”. Da primeira série o CD resgata “Pierrot” e a canção “Saudade”, da segunda a valsa “Tetéia” e o scherzo “Folguedo”.

Concertos UFRJ, programa radiofônico resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

 

 

cdunesp

 

Direção Artística: Lutero Rodrigues

Regente Assistente: Felipe Faglioni

 

Violinos

Ivenise Nitchepurenco, spalla

Gabriel Redivo Chiari

Guilherme Marcolino Ribeiro

Michele Shieh

Sérgio Senda *

Rosineia Siqueira de Sena

Diego Muniz Costa

Allan Olimpio Galote Dantas

 

Violas

Gisely Batista

Levi Fernando ?Lopes Vieira Pinto

Violoncelos

Rogério Shieh **

Alfredo Santos

 

Contrabaixo

Gabriel Garabini Sakamoto *

 

* chefe de naipe

**chefe de naipe e solo de violoncelo em “Saudade” de Carlos Gomes

 

Arquivo e Montagem

Edson de Toledo Piza Filho

 

Arte e Mídia

Camila Cardoso Poszar

 

Digitalização

Carlos Henrique Cascarelli Iafelice

 

Produção

Gustavo Brognara

 

Projeto Gráfico – Identidade Visual

Carolina Daffara

 

Assessores

Profa. Dra. Loriza Lacerda de Almeida

Oscar K. Kogiso

 

Apresentação do CD


O período romântico redescobriu a orquestra de cordas e os compositores brasileiros acompanharam essa tendência, sob influência da Europa. Como esta formação instrumental não era comum no Brasil, vários optaram pelo quarteto ou quinteto de cordas, criando obras que hoje são executadas por orquestras de cordas, tais como Alexandre Levy e Carlos Gomes, por exemplo. Essas obras, geralmente, são peças curtas, lentas e expressivas, ou pequenas formas antigas, como danças, com proposta neoclássica, tendência da época, ou então transcrições de “peças características” que se destinavam originalmente ao piano, gênero muito próprio do romantismo. São obras que não costumam apresentar preocupação nacionalista.

 

Há alguns anos, a pesquisadora Lenita W. Nogueira nos deu as partes cavas de algumas obras de Sant’Anna Gomes (1834-1908), incluindo o quinteto de cordas Saudade. Segundo ela, o manuscrito da obra encontra-se no Museu Carlos Gomes e traz uma dedicatória a Carlos Gomes (1836-1896), sugerindo a autoria de seu irmão.  Pouco depois, o musicólogo Arnaldo Senise nos ofertou um conjunto de partes cavas da mesma obra, que havia encontrado no arquivo de Luiz Levy, assinadas pelo copista Azarias Dias de Mello, músico que atuou em Campinas à época dos compositores. Uma inscrição, encontrada em todas as partes, indica a dupla autoria da obra: “Saudade/ Melodia do Mº Sant’Anna Gomes/ Quinteto arranjado por Antonio Carlos Gomes/ Milano, Março de 1882”.

 

Recentemente, Lenita nos enviou uma edição da época, publicada em São Paulo, da melodia original de Sant’Anna Gomes, que possui o mesmo título e também é dedicada ao irmão. Trata-se de uma “redução para piano”, realizada por Emilio Giorgetti. Ali estão a melodia inicial e o trecho em ré menor, mas a partitura permite a comparação entre as diferentes versões, tornando evidente a contribuição de Carlos Gomes que muito enriqueceu a obra: introduziu contra-cantos, novas seções com contrastes de caráter e até novos elementos melódicos.

 

O livro Antonio Carlos Gomes: Il Guarany, de Gaspare Nello Vetro, informa sobre execuções de um quinteto de cordas do autor, denominado Souvenir, na cidade de Trento, em 1883 e1884. O escritor supõe que a obra poderia ser uma versão prematura do célebre quinteto conhecido como O Burrico de Pau, de 1894. Cremos ser mais provável tratar-se do quinteto Saudade, título que, em francês, teria similaridade com a palavra Souvenir.

 

Rêverie, de Alexandre Levy (1864-1892), pianista e compositor paulista que se destacava na modesta vida musical de São Paulo de sua época, foi composta originalmente para quarteto de cordas, em outubro de 1889, quase dois anos após Levy retornar de Paris, onde estudou alguns meses. À época, foi considerada uma obra “no gênero Schumann – Reinecke”, compositores que reconhecidamente o influenciaram.

 

Entre nossos compositores, Henrique Oswald (1852-1931) foi aquele que viveu mais tempo na Europa: partiu aos dezesseis anos e somente retornou, definitivamente, aos sessenta anos, embora tenha estado diversos períodos no Brasil. Durante cerca de vinte anos foi pensionista do governo brasileiro. Tornou-se muito respeitado como camerista, deixando-nos, talvez, a produção de melhor qualidade, neste gênero, entre todos os seus contemporâneos.  Romanza, composta em 1898, e Valse, cujo ano de composição não conseguimos definir, são exemplos expressivos de sua rica produção.

 

O Adagio, do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), já nasceu destinado à orquestra de cordas. Foi composto em Berlin, em 1891, onde o seu autor estudava sob a orientação de Herzogenberg, professor célebre e amigo de Brahms. O título original da obra, em alemão, era Erinnerung (Lembrança) e também teve execução posterior, com título em francês, Souvenir. Sua estreia ocorreu no Instituto Nacional de Música, Rio de Janeiro, sob a regência de Leopoldo Miguez, em abril de 1892.

 

Francisco Braga (1868-1945), carioca de origem muito humilde, tornou-se conhecido pelo episódio que viveu no concurso de composição do hino oficial do novo regime republicano, em 1890. Seu hino, hoje o nosso Hino à Bandeira, obteve o segundo prêmio, embora fosse o preferido do público, dando-lhe o direito de estudar na França, com bolsa do governo brasileiro. Foi admitido com destaque no Conservatório de Paris onde foi discípulo de Jules Massenet. Neste período compôs a gavota Marionettes (1892), para orquestra de cordas, obra que foi editada naquele país, uma prova consistente de seu domínio do estilo musical francês. Após dez anos de proveitoso estudo na Europa, onde compôs dezenas de obras, incluindo a ópera Jupyra, retornou ao Brasil, em 1900, dedicando-se também a uma bem sucedida carreira de regente.

 

No Rio de Janeiro, em 1901, compôs Madrigal Pavana, para orquestra de cordas, obra que ressalta seu dom de melodista.  Em 1905, Braga iniciou a composição da música do melodrama O contratador de diamantes, de Afonso Arinos, para coro e orquestra sinfônica, concluída no ano seguinte. A obra possui duas danças, Minuetto e Gavota, que utilizam somente uma orquestra de cordas que deveria tocar no palco. Nestas pequenas obras, mais uma vez, Braga demonstra seu domínio das formas antigas, certamente adquirido na Europa. A obra foi estreada em São Paulo, em 1908, sob a regência do autor, mas foi em 1919 que mobilizou a alta sociedade paulistana, num grande espetáculo de riquíssima montagem, em memória de Afonso Arinos, morto em 1916. A repercussão foi enorme, inclusive porque, entre os figurantes, havia “pretos de verdade”. Braga regeu a orquestra do fosso, enquanto Francisco Mignone, com trajes de época e peruca, regeu a orquestra do palco.

 

O compositor e violinista Leopoldo Miguez (1850-1902) era carioca e foi Diretor do Instituto Nacional de Música, nos primeiros anos da República. Passou toda sua juventude em Portugal e Espanha, retornando ao Brasil aos vinte e um anos. Mais tarde voltou à Europa para continuar seus estudos musicais, tornando-se um notório admirador de Wagner.  Entre suas últimas obras, há duas séries de Scenas Pitorescas, op. 37 e 38, para orquestra de cordas, cada uma contendo seis peças. Pierrot e a canção Saudade pertencem à primeira série; a valsa Tetéia e o scherzo Folguedo, à segunda. Todas elas possuem versões anteriores para piano.

 

As obras de Francisco Braga e Leopoldo Miguez, que foram gravadas neste CD, integram o Acervo de Manuscritos da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ. Elas foram editadas por André Cardoso, com editoração de Thiago Sias, e revisadas por nós. A Romanza, de Henrique Oswald, foi também editada por André Cardoso e publicada na Revista Brasileira de Música.

 

Lutero Rodrigues

Diretor Artístico da Orquestra Acadêmica da Unesp

 

Concertos UFRJ em ritmo de carnaval

Carnaval

O carnaval, a festa popular que arrasta corações e corpos de milhões de foliões pelo mundo afora, serviu também de fonte de inspiração para compositores de outros universos musicais, como mostra esta semana Concertos UFRJ – programa radiofônico, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM.

O carnaval, a festa popular que arrasta corações e corpos de milhões de foliões pelo mundo afora, serviu também de fonte de inspiração para compositores de outros universos musicais, como mostra esta semana Concertos UFRJ – programa radiofônico, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, docente da Escola de Música e regente titular da OSUFRJ, a edição destacou obras de Berlioz, Dvorak, Saint-Saëns e Villa-Lobos.

 

O carnaval tem origem no estabelecimento, no século XI, da Semana Santa como um importante evento no calendário litúrgico da Igreja Católica. Ele antecipa os quarenta dias de jejum da Quaresma. Etimologicamente o termo deriva da expressão latina carnis valles: “carnis” significa carne e “valles” prazeres. Assim, “carnis vales” acabou por formar a palavra “carnaval”, que literalmente quer dizer prazeres da carne. O carnaval marca assim o período em que os prazeres da carne imperam, e que será suplantado, logo a seguir, pelo tempo da penitência, da meditação e do espírito, que se inicia com a Quarta-Feira de Cinzas.

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Ouça aqui o programa: 

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Toda segunda-feira, às 22h, tem “Concertos UFRJ” na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

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Apesar de marcado pelo imaginário cristão, o carnaval mergulha raízes numa longa tradição pagã que remonta aos cultos gregos de fertilidade do solo e às saturnais romanas, comemorações em honra do deus Saturno. No Renascimento, acabou ganhando também certo caráter aristocrático com bailes de máscaras, ricas fantasias e carros alegóricos. Mas o carnaval moderno toma forma no século XIX, tendo Paris como centro difusor. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam, em grande parte, no carnaval parisiense, ao mesmo tempo que deram a ele contornos nacionais.

 

Ao longo dos séculos vários compositores escreveram obras inspiradas no carnaval. A primeira destacada pelo programa foi a célebre a Abertura Carnaval Romano op. 9, de Hector Berlioz (1803 -1869) – escrita em 1844 para servir de abertura à ópera Benvenuto Cellini e que acabou se tornando uma peça independente. O compositor utiliza materiais da ópera para estruturar a abertura. Após uma brilhante introdução, uma segunda parte apresenta o tema de amor entre Cellini e Teresa que desemboca na dança final: um saltarelo que sugere a alegria do Carvaval. A Abertura teve sucesso imediato e se tornou, desde então, uma das mais populares do compositor. A interpretação que foi ao ar é a da Orquestra de Montreal sob a regência de Charles Dutoit.

 

O compositor tcheco Antonin Dvorak (1841 – 1904) foi outro que criou uma abertura com base no carnaval. Com o título original de “Carnaval na Boêmia”, foi escrita em 1892 como parte de uma trilogia que celebraria a natureza, a vida e o amor. A Abertura Carnaval, como passou a ser conhecida, ilustra o turbilhão alegre da festa que explode numa espécie de apoteose com toda a orquestra brilhando em uma das obras mais executadas de Dvorak. A versão veiculada foi a da Orquestra Filarmonia com direção de Carlo Maria Giulini.

 

O compositor francês Camille Saint-Saëns (1836 – 1921) desenvolveu uma dupla carreira de concertista e compositor. Como pianista percorreu diversos países, inclusive o Brasil, em recitais onde incluía, além do repertório já consagrado, suas próprias composições. O Carnaval dos Animais é uma de suas obras mais populares e se insere no terreno das paródias musicais.

 

Saint-Saëns criou a obra em 1886 e a ela deu o subtítulo de “Grande fantasia zoológica”. Os sucessivos números representam diferentes animais e, beirando o pasticcio, fazem alusão ou tomam emprestado matéria musical de compositores como Offenbach (Orfeu no Inferno), Berlioz (a “Dança das Sílfides” de “A Danação de Fausto”), Mendelssohn (o Sherzo de “Sonho de uma noite de verão”) e Rossini (a ária de Rosina de “O barbeiro de Sevilha”).

 

O número mais famoso da série, e que ganhou independência, é “O cisne”, um solo de violoncelo que se desenvolve languidamente sobre o acompanhamento arpejado dos pianos e que o compositor alcunhou de uma “nobre bobagem”. O Finale encerra a obra como uma espécie de grande desfile carnavalesco de toda a bicharada.

 

Uma curiosidade. Com exceção desta parte, Saint-Saëns não permitiu que o resto da partitura fosse publicada em vida temendo que comprometesse sua carreira. A edição apresentou a interpretação da Orquestra Sinfônica da Rádio e TV de São Petersburgo sob a direção de Stanislav Gorkovenko.

 

Por fim, não podia faltar uma pitada de tempero brasileiro nesta edição de Concertos UFRJ dedicada ao carnaval. A obra escolhida, Momoprecoce, é uma peça de fôlego escrita para piano orquestra em 1929 por Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – ele mesmo um folião contumaz – e dedicada à grande pianista Magdalena Tagliaferro, então radicada na França. Baseada em reaproveitamento de materiais de “Carnaval das Crianças”, também de Villa-Lobos, os vários movimentos são encadeados por ligações da orquestra. Um deles utiliza o famoso tema do Zé Pereira (E viva o Zé Pereira./ Pois a ninguém faz mal / E viva a bebedeira / Nos dias de Carnaval), versão para o português de um música burlesca francesa que se transformaria no final do séc. XIX em um dos nossos mais famosos hinos carnavalescos. A obra encerra com o movimento intitulado “Folia de um bloco infantil”. A interpretação é da pianista brasileira Cristina Ortiz acompanhada pela New Philharmonia Orchestra sob a regência de Vladimir Ashchenazy.

 

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

Instrumentos de teclado em Concertos UFRJ

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A música escrita para os diferentes instrumentos de teclado é o tema desta semana de Concertos UFRJ. Na edição, obras criadas para órgão, clavicórdio, espineta, cravo, pianoforte e piano.

A música escrita para os diferentes instrumentos de teclado é o tema desta semana de Concertos UFRJ. Na edição, obras criadas para órgão, clavicórdio, espineta, cravo, pianoforte e piano. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

 

O piano é, sem dúvida, o mais difundido dos instrumentos de teclado. Sobretudo a partir do séc. XIX ganhou enorme importância e imensa abrangência. No entanto, ao longo dos séculos, muitos outros instrumentos do gênero foram tão populares como ele e angariaram um repertório estética e numerosamente significativo. É o caso, por exemplo, do órgão – o “rei dos instrumentos”, como Mozart costumava chamá-lo.

podcast

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Órgão de tubos

No órgão o som é produzido pela passagem do ar nos diferentes tubos, de metal e de madeira. O teclado se chama manual e podem ser vários, sendo os mais comuns instrumentos com dois a quatro manuais. Outra característica é que, além dos manuais, ele pode ter uma pedaleira, que é tocada pelo organista com os pés. Há órgãos com milhares de tubos de diferentes tamanhos que produzem uma diversidade enorme de registros, ou seja, diferentes timbres que são escolhidos pelo organista de acordo com a registração da obra.

 

Sendo um dos instrumentos mais antigos da história possui um vasto repertório, mas talvez nenhuma das obras a ele dedicadas seja tão emblemática como a conhecida Tocata e Fuga em Ré menor, BWV 565, de J. S. Bach que serviu inclusive como trilha para o desenho animado Fantasia de Walt Disney. É a obra escolhida por Concertos UFRJ para mostrar um pouco das virtudes do instrumento. A interpretação, a de Marcelo Gianini.

Clavicórdio

Durante a Renascença e o Barroco diversos outros instrumentos de teclado foram praticados. Um deles, o clavicórdio, se desenvolveu por volta do século XV e possuía uma forma retangular, sendo necessário que fosse colocado sobre uma mesa. Na ponta da tecla havia uma pequena lâmina metálica de nome tangente, montada em posição vertical. Quando o músico apertava a tecla a tangente encostava na corda e produzia o som. As vibrações são transmitidas através da ponte(s) para o tampo. O nome é derivado da Clavis palavra latina, que significa “chave” (associado a mais clavus comum, que significa “prego, vara, etc.”.) e corda (do grego ?????) que significa “corda, especialmente de um instrumento musical”.

 

O clavicórdio tinha um som pequeno e por isso foi até cair em desuso, sobretudo, um instrumento doméstico, praticado nas residências, mas permitia que o músico modulasse o som fazendo crescendo, diminuendos e até mesmo vibrato. Um exemplo do seu uso é a Ária com variações em sol maior de George Frideric Haendel. A interpretação veiculada é a de Christofer Hogwood.

 

Espineta

Enquanto no clavicórdio o som é produzido pela batida da tangente na corda, em outros instrumentos de teclado ele se origina do pinçamento, ou seja, de um plectro, uma espécie de unha, que belisca a corda. É o caso da Espineta, um instrumento de teclado com caixa de ressonância em formato triangular ou em forma de uma asa. O plectro é feito de pena de pato e colocado na ponta do saltarelo, uma peça de madeira fina com cerca de 10 centímetros de comprimento, que fica apoiada na extremidade da tecla. Uma pequena peça de feltro acoplada na ponta do saltarelo faz a função de abafador, impedindo que a corda continue vibrando após a tecla voltar à posição.

 

A espineta comparada ao clavicórdio é um instrumento de maior sonoridade, mas incapaz de produzir nuances, tocando sempre na mesma dinâmica. O programa destacou a Sonata no. 27 em ré menor de Carlos Seixas, compositor e organista português que viveu no séc. XVII. A interpretação é de Marcelo Fagerlande que toca em um instrumento original de 1785 que faz parte do acervo do Museu Imperial de Petrópolis. São três movimentos: Allegro, Minueto e Allegro.

Cravo

O cravo é, entre os instrumentos de teclado com cordas pinçadas ou beliscadas, aquele que melhor traduz a sonoridade do período barroco. Possui uma caixa de formato triangular, mas com um perfil mais alongado do que a espineta. Normalmente é dotado com mais de um teclado em razão do maior número de cordas e dos acoplamentos que permitem uma pequena variedade de timbres e o acionamento de mais de uma corda.

 

O cravo foi utilizado tanto como um instrumento solista, como, sobretudo, como o principal instrumento para o baixo contínuo na orquestra barroca e os recitativos nas óperas do período. A edição destaca a sonata em mi bemol maior, K 192, de Domenico Sacarlatti, na interpretação do cravista Gustav Leonhardt.

Pianoforte e Piano

São instrumentos de teclado com cordas percutidas. Em ambos o som é produzido por martelos de madeira cobertos com feltro que batem nas cordas quando acionados pelo teclado. O pianoforte e o piano são semelhantes ao clavicórdio, mas diferem no mecanismo de produção de som. Num clavicórdio as cordas são batidas por uma tangente de metal que permanece em contato com a corda. No pianoforte e no piano o martelo afasta-se da corda imediatamente após tocá-la deixando-a vibrar livremente.

 

O pianoforte é o mais direto antecessor do piano moderno que apresenta, em relação a ele, inúmeras melhorias técnicas, aumentando enormemente sua capacidade sonora e expressiva. Um exemplo da sonoridade do instrumento pode ser percebida na interpretação do pianista Paul Badura-Skoda da Sonata no. 50 em Ré maior de Joseph Haydn que usa um pianoforte fabricado em 1790. Os três movimentos são: Allegro com brio, Lento e sostenuto e Presto ma non troppo.

 

O piano, por seu turno, se tornou o instrumento de teclado mais importante a partir do século XIX, quando compositores como Frédéric Chopin e Franz Lisz levaram ao auge suas possibilidades técnicas e virtuosísticas. Para encerrar, o programa veicula, como exemplo, a interpretação do pianista Wladimir Aschkenazy do Scherzo no. 2, op. 31, de Chopin.

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.