A Música Sacra de Marcos Portugal

Marcos Portugal
O compositor, segundo gravura de Charles-Simon Pradier, séc XIX.

Concertos UFRJ dedicam dois programas à música de Marcos Portugal, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012, e que constitui caso único na história cultural luso-brasileira, pelo sucesso sem paralelo que alcançou na época.

Concertos UFRJ dedicam dois programas à música de Marcos Portugal, cujos 250 anos de nascimento são comemorados em 2012, e que constitui caso único na história cultural luso-brasileira, pelo sucesso sem paralelo que alcançou na época. Nesta semana o destaque são as obras sacras do compositor, na próxima será aborda a sua vasta produção dramática que inclui mais de 70 obras, cerca de 40 delas óperas.

 

Marcos António da Fonseca Portugal [Marco Portogallo] nasceu em Lisboa em 24 de março de 1762 e ingressou no Seminário Patriarcal com apenas nove anos, tendo sido aluno de João de Sousa Carvalho. Começou a compor com 14, quando escreveu um Miserere, a quatro vozes e órgão. Tornou-se músico profissional com 21, admitido na irmandade de Santa Cecília, de Lisboa. Foi também organista e compositor da Sé Patriarcal daquela cidade e, em 1785, nomeado mestre do Teatro do Salitre, para o qual escreveu suas primeiras obras de cena.

 

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Ouça aqui o programa: 

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Toda segunda-feira, às 22h, tem “Concertos UFRJ” na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

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Portugal se transferiu em 1972 para Nápoles, o grande centro operístico da época, onde se converteu em um ativo compositor do gênero. Escreveu inúmeras óperas em estilo italiano que foram encenadas nos mais importantes palcos da Itália, como os teatros La Pergola e Pallacorda, ambos em Florença; San Moise, em Veneza; e no famoso La Scala, de Milão. Entre elas, Lo Spazzacamino (1794) e Il Demofoonte (1794).

 

Retornou a Portugal em 1800, sendo nomeado mestre da Capela Real e diretor do Teatro de São Carlos de Lisboa, para o qual compôs várias óperas, como La morte di Semiramide (1800), L’oro non compra amore (1801), La Merope (1804), Il duca di Foix (1805), Artaserse (1806) e La morte di Mitridate (1806).

 

Em 1811 viajou para o Rio de Janeiro a pedido do Príncipe Regente, refugiado no Brasil, com os demais membros da Família Real, por causa da invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. Sendo recebido como uma celebridade, foi, aqui, imediatamente nomeado Mestre da Capela Real. Marcos Portugal viveu nesta cidade o resto da vida, não tendo acompanhado a corte, em 1821, quando esta regressou a Lisboa. Preferiu ficar a serviço de D. Pedro I, filho de D. João VI, tendo sido confirmado como Mestre de Música da Imperial Família. Foi também o autor do primeiro Hino da Independência do Brasil. Faleceu em 1830, relativamente esquecido.

 

Da sua produção sacra, que conta mais de 140 obras, a edição de Concertos UFRJ destacou os responsórios de números 1 a 4 (“ Hodie nobis caelorum Rex”, “Hodie nobis de caelo”, “Quem vidistis pastores?“ e “O magnum mysterium”) das Matinas do Natal, compostas a pedido de D. João VI, para as comemorações de 1811, que tiveram lugar na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, na atual Praça XV.  Uma das primeiras obras originais criadas pelo compositor em terras brasileiras, já que, na realidade, muitas deste período são versões e reelaborações de trabalhos anteriores do autor, o extenso título que consta da partitura diz “Mattinas do Santissimo Natal de Nosso Senhor Jesus Christo. A 4 e mais vozes. Com obrigação de Clarinettes, Trompas, Violettas, Fagottes, Violoncellos, Contrabachos e Orgão. Composto para a Capella Real do Rio de Janeiro, por ordem de S.A.R. o Príncipe Regente nosso Senhor. Por Marcos Portugal.”

 

Mesmo sendo uma obra de inspiração religiosa, o modelo adotado, bem de acordo, aliás, com o gosto da época, é mundano: estão presentes nela os maneirismos típicos das óperas italianas. Cabe mencionar ainda que as Matinas guardam estreita relação com a Missa Pastoril de José Maurício Nunes Garcia – ambas foram escritas para a mesma solenidade, ambas apresentam carácter “pastoril”, expresso, sobretudo, nos solos de clarinete recorrentes e nas referências explícitas; e a instrumentação adotada é, não só idêntica, como peculiar, por dispensar violinos.

 

A gravação veiculada traz o primeiro registro da obra e é uma iniciativa do Ensemble Turicum, grupo suíço que, sob a direção do tenor brasileiro Luiz Alves da Silva, vem se dedicando à música antiga do Brasil e de Portugal. Para conseguir uma maior flexibilidade em suas interpretações, o grupo toca em instrumentos históricos (uma ou mais vozes, cordas simples, contínuo, sopros se necessário).

 

O programa radiofônico Concertos UFRJ, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

Do clássico ao choro

Foto: Divulgação
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Maria Helena de Andrade, piano sem preconceitos.

A edição desta semana de Concertos UFRJ destaca mais um importante lançamento, o CD “Brasil: do clássico ao choro”, da pianista Maria Helena de Andrade.

A edição desta semana de Concertos UFRJ destaca mais um importante lançamento, o CD “Brasil: do clássico ao choro”, da pianista Maria Helena de Andrade. Com obras de Alberto Nepomuceno, Francisco Mignome, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Edino Krieger, Ernesto Nazareth e Zequinha de Abreu, ele convida a um passeio eclético – e sem preconceitos – por diferentes fases e estilos da nossa música.

 

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Natural de Belém, Maria Helena diplomou-se em piano pelo Conservatório Carlos Gomes (CONSCG) daquela cidade, em 1965. Mais tarde transferiu-se para o Rio, a fim de continuar os estudos. Aqui se aperfeiçoou com Oriano de Almeida, Homero de Magalhães e Glória Maria da Fonseca Costa. Mestre em Música pela UFRJ, em 1984, foi aluna de Jacques Klein e Heitor Alimonda, tendo defendido tese sobre Francisco Mignone, que escreveu uma suíte especialmente para servir de tema à sua pesquisa.

 

Como solista e camerista, exerce intensa atividade, atuando, com sucesso, nas mais renomadas salas de concerto do país, além de se apresentar em diversos países da Europa, nos Estados Unidos e no México. Foi durante anos professora da Escola de Música e, atualmente, leciona dos Seminários de Música ProArte. Integra também, com Sônia Maria Vieira, o Duo Pianístico da UFRJ e, com Aizik Geller e Maria Célia Machado, o Trio D’Ambrosio. Ao longo da carreira recebeu inúmeros prêmios, medalhas e títulos.

 

O CD “Brasil: do clássico ao choro” é uma produção da série Música no Museu, com apoio do governo do Rio de Janeiro, através da sua secretaria de cultura. Das 22 faixas, o programa apresentou Seguida, de Francisco Mignone; quatro miniaturas da série Guia Prático, de Villa-Lobos; Hommage à Chopin, do mesmo compositor, escrita em 1949 sob encomenda da Unesco por ocasião do centenário de morte do grande mestre do piano do séc. XIX; Dança Negra, de 1946, e o Ponteio 49, do ciclo de 50 peças para piano de Camargo Guarnieri.

 

De caráter mais popular, a Valsa Nina e o Choro Manhoso de Edino Krieger; e Brejeiro, Odeon e Apanhei-te, cavaquinho, de Ernesto Nazareth – autor que, na virada do séc. XIX para o XX usou as danças de salão europeias e o pianismo de Chopin para construir uma obra que é quase sinônimo de brasilidade e com forte sotaque carioca.  Por fim, uma das nossas mais conhecidas melodias: Tico-tico no fubá, de Zequinha de Abreu, música que encerra o CD em grande estilo.

 

O programa radiofônico Concertos UFRJ, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

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BRASIL: DO CLÁSSICO AO CHORO

 

Maria Helena de Andrade

 

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ALBERTO NEPOMUCENO
Suíte Antiga, op. 11.
1. Prelúdio, 1:30
2. Minueto, 4:56
3. Ária, 4:26

FRANCISCO MIGNONE
Seguida
4. Temperando, 2:09
5. Outra lenda sertaneja, 2:51
6. Beliscando forte, 2:19
7. Valsa que não é de esquina, 3:51
8. Batuque batucado, 2:31

VILLA-LOBOS
Guia Prático
9. A maré encheu, 2:11
10. Sinh’Aninha, 0:44
11. Pai Francisco, 1:08
12. Na corda da Viola, 2:08
Hommage à Chopin
13. Nocturne, 2:33
14. Ballade, 5:24

CAMARGO GUARNIERI
15. Dança Negra, 4:16
16. Ponteio no 49 (Torturado), 2:22

EDINO KRIEGER

17. Nina (Valsa), 2:58
18. Choro Manhoso, 1:41

ERNESTO NAZARETH
19. Brejeiro, 2:13
20. Odeon, 2:47
21. Apanhei-te, cavaquinho, 2:23

ZEQUINHA DE ABREU
22. Tico-tico no fubá, 2:33

 

A orquestra de cordas no romantismo brasileiro

Foto: Divulgação
Luetrto Rodrigues
Lutero Rodrigues apresenta o resultado de dois anos de pesquisas.

A edição desta semana de Concertos UFRJ chama atenção para o recém-lançado CD “A orquestra de cordas no romantismo brasileiro”. Iniciativa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele resgata obras, muitas delas até então inéditas, escritas em um dos períodos mais férteis de nossa cultura.

A edição desta semana de Concertos UFRJ chama atenção para o recém-lançado CD “A orquestra de cordas no romantismo brasileiro”. Iniciativa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele resgata obras, muitas delas até então inéditas, escritas em um dos períodos mais férteis de nossa cultura. Sob a regência de seu diretor artístico, Lutero Rodrigues, a Orquestra Acadêmica daquela instituição executa 13 peças de criadores emblemáticos de nossa trajetória musical.

 

Lutero Rodrigues da Silva é professor da Unesp. Fez doutorado na USP, defendendo a tese “Carlos Gomes: um tema em questão”, que acaba, aliás, de ser publicada.  Nela o pesquisador mostra como Mário de Andrade, um dos principais escritores do modernismo brasileiro, encontrou na obra do compositor um vasto material para pesquisa e crítica, e como nossos modernistas a usaram, não raro com certo viés preconceituoso, como um dos elementos de difusão do movimento. Membro da Academia Brasileira de Música, Rodrigues é um dos mais ativos regentes brasileiros da atualidade.

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Distribuído gratuitamente, os interessados em receber o CD devem encaminhar solicitação para unesp.imprensa@reitoria.unesp.br. Os exemplares disponíveis serão enviados para os internautas cadastrados. A distribuição é limitada.


Repertório

 

A primeira obra apresentada no programa é resultado de uma curiosa parceria entre o compositor José Pedro de Sant’Ana Gomes e seu famoso irmão, Antônio Carlos Gomes (1836-1896). Intitulada “Saudade” toma como base uma melodia de Sant’Ana que foi, mais tarde, arranjada para orquestra de cordas pelo nosso grande operista.

 

Outro compositor paulista contemplado no CD, Alexandre Levy (1864-1892), deixou, infelizmente, um repertório pequeno, poe causa de uma morte prematura. Porém, apesar de ter vivido apenas 28 anos, escreveu obras de fôlego como uma Sinfonia em mi menor e o Poema Sinfônico Werther, além de várias peças para piano. Sua “Rêverie” foi originalmente composta para quarteto em 1889 e denuncia a influência de Mendelssohn e Schumann.

 

Outro compositor que faz parte do repertório do CD é Henrique Oswald (1852-1931), um dos mais importantes de sua geração. Nasceu do Rio de Janeiro, filho de pai suíço e mãe de origem italiana, e passou a maior parte da vida na cidade de Florença, Itália, para onde viajou em 1868, quando contava com apenas dezesseis anos. Retornou ao Brasil no início do séc. XX para se tornar diretor do Instituto Nacional de Música (INM), atual Escola de Música da UFRJ. A obra de Oswald revela um compositor de grande domínio técnico e inspiração refinada que abordou diferentes gêneros, desde miniaturas para piano solo até grandes óperas. As duas obras do compositor gravadas podem ser enquadradas como peças características: a “Romanza”, de 1898, e “Valse”, cuja data não foi ainda precisada.

 

O cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), também diretor do INM, é outro compositor recordado. Sua formação se deu predominantemente na Europa, tendo deixado obras que frequentam com assiduidade as nossas salas. O seu “Adágio”, foi escrito em Berlim, em 1891. A estreia, porém, só aconteceu no ano seguinte e no Rio de Janeiro, em concerto dirigido por Leopoldo Miguez.

 

A obra de Francisco Braga (1868-1945), autor do Hino à Bandeira, é ainda pouco conhecida. Menino de origem humilde, mercê de seu talento ganhou uma bolsa de estudos no Conservatório de Paris. De volta ao Brasil se tornou um disputado professor de composição e regente de várias orquestras. Sua obra é bastante eclética e sua técnica apurada permitiu abordar diferentes gêneros e linguagens. O CD destaca a gavota “Marionettes” (1892), escrita para piano e transcrita pelo próprio autor para orquestra de cordas; o madrigal “Pavana”, de 1901; e as danças, “Minuetto” e “Gavota”, da música incidental para a peça “O contratador de diamantes”, do escritor Afonso Arinos.

 

Por fim, o programa veicula as quatro peças do compositor Leopoldo Miguez (1850-1902), outro músico que foi também diretor do INM. Escreveu duas séries de pequenas peças de caráter infantil para piano e intituladas “Cenas Pitorescas”, op. 37 e 38. Posteriormente transcritas para orquestra de cordas pelo próprio autor, ganharam o nome de “Esboços”. Da primeira série o CD resgata “Pierrot” e a canção “Saudade”, da segunda a valsa “Tetéia” e o scherzo “Folguedo”.

Concertos UFRJ, programa radiofônico resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

 

 

cdunesp

 

Direção Artística: Lutero Rodrigues

Regente Assistente: Felipe Faglioni

 

Violinos

Ivenise Nitchepurenco, spalla

Gabriel Redivo Chiari

Guilherme Marcolino Ribeiro

Michele Shieh

Sérgio Senda *

Rosineia Siqueira de Sena

Diego Muniz Costa

Allan Olimpio Galote Dantas

 

Violas

Gisely Batista

Levi Fernando ?Lopes Vieira Pinto

Violoncelos

Rogério Shieh **

Alfredo Santos

 

Contrabaixo

Gabriel Garabini Sakamoto *

 

* chefe de naipe

**chefe de naipe e solo de violoncelo em “Saudade” de Carlos Gomes

 

Arquivo e Montagem

Edson de Toledo Piza Filho

 

Arte e Mídia

Camila Cardoso Poszar

 

Digitalização

Carlos Henrique Cascarelli Iafelice

 

Produção

Gustavo Brognara

 

Projeto Gráfico – Identidade Visual

Carolina Daffara

 

Assessores

Profa. Dra. Loriza Lacerda de Almeida

Oscar K. Kogiso

 

Apresentação do CD


O período romântico redescobriu a orquestra de cordas e os compositores brasileiros acompanharam essa tendência, sob influência da Europa. Como esta formação instrumental não era comum no Brasil, vários optaram pelo quarteto ou quinteto de cordas, criando obras que hoje são executadas por orquestras de cordas, tais como Alexandre Levy e Carlos Gomes, por exemplo. Essas obras, geralmente, são peças curtas, lentas e expressivas, ou pequenas formas antigas, como danças, com proposta neoclássica, tendência da época, ou então transcrições de “peças características” que se destinavam originalmente ao piano, gênero muito próprio do romantismo. São obras que não costumam apresentar preocupação nacionalista.

 

Há alguns anos, a pesquisadora Lenita W. Nogueira nos deu as partes cavas de algumas obras de Sant’Anna Gomes (1834-1908), incluindo o quinteto de cordas Saudade. Segundo ela, o manuscrito da obra encontra-se no Museu Carlos Gomes e traz uma dedicatória a Carlos Gomes (1836-1896), sugerindo a autoria de seu irmão.  Pouco depois, o musicólogo Arnaldo Senise nos ofertou um conjunto de partes cavas da mesma obra, que havia encontrado no arquivo de Luiz Levy, assinadas pelo copista Azarias Dias de Mello, músico que atuou em Campinas à época dos compositores. Uma inscrição, encontrada em todas as partes, indica a dupla autoria da obra: “Saudade/ Melodia do Mº Sant’Anna Gomes/ Quinteto arranjado por Antonio Carlos Gomes/ Milano, Março de 1882”.

 

Recentemente, Lenita nos enviou uma edição da época, publicada em São Paulo, da melodia original de Sant’Anna Gomes, que possui o mesmo título e também é dedicada ao irmão. Trata-se de uma “redução para piano”, realizada por Emilio Giorgetti. Ali estão a melodia inicial e o trecho em ré menor, mas a partitura permite a comparação entre as diferentes versões, tornando evidente a contribuição de Carlos Gomes que muito enriqueceu a obra: introduziu contra-cantos, novas seções com contrastes de caráter e até novos elementos melódicos.

 

O livro Antonio Carlos Gomes: Il Guarany, de Gaspare Nello Vetro, informa sobre execuções de um quinteto de cordas do autor, denominado Souvenir, na cidade de Trento, em 1883 e1884. O escritor supõe que a obra poderia ser uma versão prematura do célebre quinteto conhecido como O Burrico de Pau, de 1894. Cremos ser mais provável tratar-se do quinteto Saudade, título que, em francês, teria similaridade com a palavra Souvenir.

 

Rêverie, de Alexandre Levy (1864-1892), pianista e compositor paulista que se destacava na modesta vida musical de São Paulo de sua época, foi composta originalmente para quarteto de cordas, em outubro de 1889, quase dois anos após Levy retornar de Paris, onde estudou alguns meses. À época, foi considerada uma obra “no gênero Schumann – Reinecke”, compositores que reconhecidamente o influenciaram.

 

Entre nossos compositores, Henrique Oswald (1852-1931) foi aquele que viveu mais tempo na Europa: partiu aos dezesseis anos e somente retornou, definitivamente, aos sessenta anos, embora tenha estado diversos períodos no Brasil. Durante cerca de vinte anos foi pensionista do governo brasileiro. Tornou-se muito respeitado como camerista, deixando-nos, talvez, a produção de melhor qualidade, neste gênero, entre todos os seus contemporâneos.  Romanza, composta em 1898, e Valse, cujo ano de composição não conseguimos definir, são exemplos expressivos de sua rica produção.

 

O Adagio, do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), já nasceu destinado à orquestra de cordas. Foi composto em Berlin, em 1891, onde o seu autor estudava sob a orientação de Herzogenberg, professor célebre e amigo de Brahms. O título original da obra, em alemão, era Erinnerung (Lembrança) e também teve execução posterior, com título em francês, Souvenir. Sua estreia ocorreu no Instituto Nacional de Música, Rio de Janeiro, sob a regência de Leopoldo Miguez, em abril de 1892.

 

Francisco Braga (1868-1945), carioca de origem muito humilde, tornou-se conhecido pelo episódio que viveu no concurso de composição do hino oficial do novo regime republicano, em 1890. Seu hino, hoje o nosso Hino à Bandeira, obteve o segundo prêmio, embora fosse o preferido do público, dando-lhe o direito de estudar na França, com bolsa do governo brasileiro. Foi admitido com destaque no Conservatório de Paris onde foi discípulo de Jules Massenet. Neste período compôs a gavota Marionettes (1892), para orquestra de cordas, obra que foi editada naquele país, uma prova consistente de seu domínio do estilo musical francês. Após dez anos de proveitoso estudo na Europa, onde compôs dezenas de obras, incluindo a ópera Jupyra, retornou ao Brasil, em 1900, dedicando-se também a uma bem sucedida carreira de regente.

 

No Rio de Janeiro, em 1901, compôs Madrigal Pavana, para orquestra de cordas, obra que ressalta seu dom de melodista.  Em 1905, Braga iniciou a composição da música do melodrama O contratador de diamantes, de Afonso Arinos, para coro e orquestra sinfônica, concluída no ano seguinte. A obra possui duas danças, Minuetto e Gavota, que utilizam somente uma orquestra de cordas que deveria tocar no palco. Nestas pequenas obras, mais uma vez, Braga demonstra seu domínio das formas antigas, certamente adquirido na Europa. A obra foi estreada em São Paulo, em 1908, sob a regência do autor, mas foi em 1919 que mobilizou a alta sociedade paulistana, num grande espetáculo de riquíssima montagem, em memória de Afonso Arinos, morto em 1916. A repercussão foi enorme, inclusive porque, entre os figurantes, havia “pretos de verdade”. Braga regeu a orquestra do fosso, enquanto Francisco Mignone, com trajes de época e peruca, regeu a orquestra do palco.

 

O compositor e violinista Leopoldo Miguez (1850-1902) era carioca e foi Diretor do Instituto Nacional de Música, nos primeiros anos da República. Passou toda sua juventude em Portugal e Espanha, retornando ao Brasil aos vinte e um anos. Mais tarde voltou à Europa para continuar seus estudos musicais, tornando-se um notório admirador de Wagner.  Entre suas últimas obras, há duas séries de Scenas Pitorescas, op. 37 e 38, para orquestra de cordas, cada uma contendo seis peças. Pierrot e a canção Saudade pertencem à primeira série; a valsa Tetéia e o scherzo Folguedo, à segunda. Todas elas possuem versões anteriores para piano.

 

As obras de Francisco Braga e Leopoldo Miguez, que foram gravadas neste CD, integram o Acervo de Manuscritos da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ. Elas foram editadas por André Cardoso, com editoração de Thiago Sias, e revisadas por nós. A Romanza, de Henrique Oswald, foi também editada por André Cardoso e publicada na Revista Brasileira de Música.

 

Lutero Rodrigues

Diretor Artístico da Orquestra Acadêmica da Unesp

 

Concertos UFRJ em ritmo de carnaval

Carnaval

O carnaval, a festa popular que arrasta corações e corpos de milhões de foliões pelo mundo afora, serviu também de fonte de inspiração para compositores de outros universos musicais, como mostra esta semana Concertos UFRJ – programa radiofônico, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM.

O carnaval, a festa popular que arrasta corações e corpos de milhões de foliões pelo mundo afora, serviu também de fonte de inspiração para compositores de outros universos musicais, como mostra esta semana Concertos UFRJ – programa radiofônico, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, docente da Escola de Música e regente titular da OSUFRJ, a edição destacou obras de Berlioz, Dvorak, Saint-Saëns e Villa-Lobos.

 

O carnaval tem origem no estabelecimento, no século XI, da Semana Santa como um importante evento no calendário litúrgico da Igreja Católica. Ele antecipa os quarenta dias de jejum da Quaresma. Etimologicamente o termo deriva da expressão latina carnis valles: “carnis” significa carne e “valles” prazeres. Assim, “carnis vales” acabou por formar a palavra “carnaval”, que literalmente quer dizer prazeres da carne. O carnaval marca assim o período em que os prazeres da carne imperam, e que será suplantado, logo a seguir, pelo tempo da penitência, da meditação e do espírito, que se inicia com a Quarta-Feira de Cinzas.

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Apesar de marcado pelo imaginário cristão, o carnaval mergulha raízes numa longa tradição pagã que remonta aos cultos gregos de fertilidade do solo e às saturnais romanas, comemorações em honra do deus Saturno. No Renascimento, acabou ganhando também certo caráter aristocrático com bailes de máscaras, ricas fantasias e carros alegóricos. Mas o carnaval moderno toma forma no século XIX, tendo Paris como centro difusor. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam, em grande parte, no carnaval parisiense, ao mesmo tempo que deram a ele contornos nacionais.

 

Ao longo dos séculos vários compositores escreveram obras inspiradas no carnaval. A primeira destacada pelo programa foi a célebre a Abertura Carnaval Romano op. 9, de Hector Berlioz (1803 -1869) – escrita em 1844 para servir de abertura à ópera Benvenuto Cellini e que acabou se tornando uma peça independente. O compositor utiliza materiais da ópera para estruturar a abertura. Após uma brilhante introdução, uma segunda parte apresenta o tema de amor entre Cellini e Teresa que desemboca na dança final: um saltarelo que sugere a alegria do Carvaval. A Abertura teve sucesso imediato e se tornou, desde então, uma das mais populares do compositor. A interpretação que foi ao ar é a da Orquestra de Montreal sob a regência de Charles Dutoit.

 

O compositor tcheco Antonin Dvorak (1841 – 1904) foi outro que criou uma abertura com base no carnaval. Com o título original de “Carnaval na Boêmia”, foi escrita em 1892 como parte de uma trilogia que celebraria a natureza, a vida e o amor. A Abertura Carnaval, como passou a ser conhecida, ilustra o turbilhão alegre da festa que explode numa espécie de apoteose com toda a orquestra brilhando em uma das obras mais executadas de Dvorak. A versão veiculada foi a da Orquestra Filarmonia com direção de Carlo Maria Giulini.

 

O compositor francês Camille Saint-Saëns (1836 – 1921) desenvolveu uma dupla carreira de concertista e compositor. Como pianista percorreu diversos países, inclusive o Brasil, em recitais onde incluía, além do repertório já consagrado, suas próprias composições. O Carnaval dos Animais é uma de suas obras mais populares e se insere no terreno das paródias musicais.

 

Saint-Saëns criou a obra em 1886 e a ela deu o subtítulo de “Grande fantasia zoológica”. Os sucessivos números representam diferentes animais e, beirando o pasticcio, fazem alusão ou tomam emprestado matéria musical de compositores como Offenbach (Orfeu no Inferno), Berlioz (a “Dança das Sílfides” de “A Danação de Fausto”), Mendelssohn (o Sherzo de “Sonho de uma noite de verão”) e Rossini (a ária de Rosina de “O barbeiro de Sevilha”).

 

O número mais famoso da série, e que ganhou independência, é “O cisne”, um solo de violoncelo que se desenvolve languidamente sobre o acompanhamento arpejado dos pianos e que o compositor alcunhou de uma “nobre bobagem”. O Finale encerra a obra como uma espécie de grande desfile carnavalesco de toda a bicharada.

 

Uma curiosidade. Com exceção desta parte, Saint-Saëns não permitiu que o resto da partitura fosse publicada em vida temendo que comprometesse sua carreira. A edição apresentou a interpretação da Orquestra Sinfônica da Rádio e TV de São Petersburgo sob a direção de Stanislav Gorkovenko.

 

Por fim, não podia faltar uma pitada de tempero brasileiro nesta edição de Concertos UFRJ dedicada ao carnaval. A obra escolhida, Momoprecoce, é uma peça de fôlego escrita para piano orquestra em 1929 por Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – ele mesmo um folião contumaz – e dedicada à grande pianista Magdalena Tagliaferro, então radicada na França. Baseada em reaproveitamento de materiais de “Carnaval das Crianças”, também de Villa-Lobos, os vários movimentos são encadeados por ligações da orquestra. Um deles utiliza o famoso tema do Zé Pereira (E viva o Zé Pereira./ Pois a ninguém faz mal / E viva a bebedeira / Nos dias de Carnaval), versão para o português de um música burlesca francesa que se transformaria no final do séc. XIX em um dos nossos mais famosos hinos carnavalescos. A obra encerra com o movimento intitulado “Folia de um bloco infantil”. A interpretação é da pianista brasileira Cristina Ortiz acompanhada pela New Philharmonia Orchestra sob a regência de Vladimir Ashchenazy.

 

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

Instrumentos de teclado em Concertos UFRJ

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A música escrita para os diferentes instrumentos de teclado é o tema desta semana de Concertos UFRJ. Na edição, obras criadas para órgão, clavicórdio, espineta, cravo, pianoforte e piano.

A música escrita para os diferentes instrumentos de teclado é o tema desta semana de Concertos UFRJ. Na edição, obras criadas para órgão, clavicórdio, espineta, cravo, pianoforte e piano. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

 

O piano é, sem dúvida, o mais difundido dos instrumentos de teclado. Sobretudo a partir do séc. XIX ganhou enorme importância e imensa abrangência. No entanto, ao longo dos séculos, muitos outros instrumentos do gênero foram tão populares como ele e angariaram um repertório estética e numerosamente significativo. É o caso, por exemplo, do órgão – o “rei dos instrumentos”, como Mozart costumava chamá-lo.

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Ouça aqui o programa: 

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Toda segunda-feira, às 22h, tem “Concertos UFRJ” na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

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Órgão de tubos

No órgão o som é produzido pela passagem do ar nos diferentes tubos, de metal e de madeira. O teclado se chama manual e podem ser vários, sendo os mais comuns instrumentos com dois a quatro manuais. Outra característica é que, além dos manuais, ele pode ter uma pedaleira, que é tocada pelo organista com os pés. Há órgãos com milhares de tubos de diferentes tamanhos que produzem uma diversidade enorme de registros, ou seja, diferentes timbres que são escolhidos pelo organista de acordo com a registração da obra.

 

Sendo um dos instrumentos mais antigos da história possui um vasto repertório, mas talvez nenhuma das obras a ele dedicadas seja tão emblemática como a conhecida Tocata e Fuga em Ré menor, BWV 565, de J. S. Bach que serviu inclusive como trilha para o desenho animado Fantasia de Walt Disney. É a obra escolhida por Concertos UFRJ para mostrar um pouco das virtudes do instrumento. A interpretação, a de Marcelo Gianini.

Clavicórdio

Durante a Renascença e o Barroco diversos outros instrumentos de teclado foram praticados. Um deles, o clavicórdio, se desenvolveu por volta do século XV e possuía uma forma retangular, sendo necessário que fosse colocado sobre uma mesa. Na ponta da tecla havia uma pequena lâmina metálica de nome tangente, montada em posição vertical. Quando o músico apertava a tecla a tangente encostava na corda e produzia o som. As vibrações são transmitidas através da ponte(s) para o tampo. O nome é derivado da Clavis palavra latina, que significa “chave” (associado a mais clavus comum, que significa “prego, vara, etc.”.) e corda (do grego ?????) que significa “corda, especialmente de um instrumento musical”.

 

O clavicórdio tinha um som pequeno e por isso foi até cair em desuso, sobretudo, um instrumento doméstico, praticado nas residências, mas permitia que o músico modulasse o som fazendo crescendo, diminuendos e até mesmo vibrato. Um exemplo do seu uso é a Ária com variações em sol maior de George Frideric Haendel. A interpretação veiculada é a de Christofer Hogwood.

 

Espineta

Enquanto no clavicórdio o som é produzido pela batida da tangente na corda, em outros instrumentos de teclado ele se origina do pinçamento, ou seja, de um plectro, uma espécie de unha, que belisca a corda. É o caso da Espineta, um instrumento de teclado com caixa de ressonância em formato triangular ou em forma de uma asa. O plectro é feito de pena de pato e colocado na ponta do saltarelo, uma peça de madeira fina com cerca de 10 centímetros de comprimento, que fica apoiada na extremidade da tecla. Uma pequena peça de feltro acoplada na ponta do saltarelo faz a função de abafador, impedindo que a corda continue vibrando após a tecla voltar à posição.

 

A espineta comparada ao clavicórdio é um instrumento de maior sonoridade, mas incapaz de produzir nuances, tocando sempre na mesma dinâmica. O programa destacou a Sonata no. 27 em ré menor de Carlos Seixas, compositor e organista português que viveu no séc. XVII. A interpretação é de Marcelo Fagerlande que toca em um instrumento original de 1785 que faz parte do acervo do Museu Imperial de Petrópolis. São três movimentos: Allegro, Minueto e Allegro.

Cravo

O cravo é, entre os instrumentos de teclado com cordas pinçadas ou beliscadas, aquele que melhor traduz a sonoridade do período barroco. Possui uma caixa de formato triangular, mas com um perfil mais alongado do que a espineta. Normalmente é dotado com mais de um teclado em razão do maior número de cordas e dos acoplamentos que permitem uma pequena variedade de timbres e o acionamento de mais de uma corda.

 

O cravo foi utilizado tanto como um instrumento solista, como, sobretudo, como o principal instrumento para o baixo contínuo na orquestra barroca e os recitativos nas óperas do período. A edição destaca a sonata em mi bemol maior, K 192, de Domenico Sacarlatti, na interpretação do cravista Gustav Leonhardt.

Pianoforte e Piano

São instrumentos de teclado com cordas percutidas. Em ambos o som é produzido por martelos de madeira cobertos com feltro que batem nas cordas quando acionados pelo teclado. O pianoforte e o piano são semelhantes ao clavicórdio, mas diferem no mecanismo de produção de som. Num clavicórdio as cordas são batidas por uma tangente de metal que permanece em contato com a corda. No pianoforte e no piano o martelo afasta-se da corda imediatamente após tocá-la deixando-a vibrar livremente.

 

O pianoforte é o mais direto antecessor do piano moderno que apresenta, em relação a ele, inúmeras melhorias técnicas, aumentando enormemente sua capacidade sonora e expressiva. Um exemplo da sonoridade do instrumento pode ser percebida na interpretação do pianista Paul Badura-Skoda da Sonata no. 50 em Ré maior de Joseph Haydn que usa um pianoforte fabricado em 1790. Os três movimentos são: Allegro com brio, Lento e sostenuto e Presto ma non troppo.

 

O piano, por seu turno, se tornou o instrumento de teclado mais importante a partir do século XIX, quando compositores como Frédéric Chopin e Franz Lisz levaram ao auge suas possibilidades técnicas e virtuosísticas. Para encerrar, o programa veicula, como exemplo, a interpretação do pianista Wladimir Aschkenazy do Scherzo no. 2, op. 31, de Chopin.

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

“La vida breve”, de Manuel de Falla

Foto: Divulgação
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Estatua de Manuel de Falla, na Avenida da Constituição, Granada.

“La vida breve”, ópera em dois atos de Manuel de Falla a partir de libreto de Fernandez-Shaw é a atração desta semana de Concertos UFRJ. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

 “La vida breve”, ópera em dois atos de Manuel de Falla a partir de libreto de Fernandez-Shaw é a atração desta semana de Concertos UFRJ. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

Maior compositor espanhol desde a idade de ouro do séc. XVI, Manuel de Falla (1876-1946) combinou o estilo romântico e pictórico espanhol, forjado por Albéniz e Granados, com o modernismo de Debussy e Stravinsky.

 

 

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“La vida breve” (A vida breve) foi escrita em um momento em que a cena lírica internacional estava dominada pelo verismo. Paixões fatídicas, destinos trágicos que assombram pessoas simples e desfechos ardilosos atraíam então o público. É em tal chave que de Falla contou a história da bela cigana Salud traída e abandonada pelo amado.

O sabor cigano da ópera a torna única. O compositor incorporou temas da música cigana e do flamenco, estilo de música e dança que se originou na Andaluzia no séc. XVIII. De todos os tesouros do folclore espanhol, de Falla escolherá este meio – então ainda pouco visitado por outros criadores – para embasar obras-primas como os ballets “El Amor Brujo” e “El sombreo de três picos” – este último composto para a lendária companhia de Sergéi Diágilev. Foi justamente ao escrever “La Vida breve” que (re)descobriu as riquezas e possibilidades do “cante jondo” (“canção profunda”), considerado a mais genuína vertente do flamenco, que servem de base a passagens importantes da ópera como as romanças de Salud e as danças no Ato II.

Ela foi escrita, quando contava quase trinta anos e em um momento em que já havia criado uma ópera e seis zarzuelas, das quais conseguira encenar apenas uma. De Falla venceu com este trabalho um concurso promovido pela Academia Real de Belas Artes de San Fernando em 1905, que prometia a montagem da peça. Ninguém, porém, na Espanha levantou um dedo para encená-la. Ofendido e decepcionado acabou migrando para Paris, onde permaneceu por longo tempo.

Lá, novas informações e amizades, entre as quais Debussy e Ravel, permitiram alargar seus horizontes criativos. A aclamação merecida finalmente chegou para a obra – “La vida breve” foi encenada em Nice em abril de 1913, em uma tradução francesa de Paul Millet. No mesmo ano ganhou uma nova montagem, agora no prestigioso Théâtre National de l’Opéra-Comique, Paris. Somente quando de Falla retornou triunfante a sua terra natal, em decorrência das ameaças da Primeira Guerra Mundial, é que ela foi finalmente levada aos palcos espanhóis, em Madrid.

Musicalmente, “La vida breve” é obra de juventude, que apresenta muitas influências do impressionismo e do romantismo tardio, impregnadas de forte componente nacionalista. Mas nela já está presente uma de suas grandes preocupações: a busca pela clareza através da economia de meios.

O libreto, baseado em um poema de Carlos Fernandez Shaw (1876-1946), dramaturgo, poeta e jornalista espanhol, foi escrito pelo próprio poeta, por solicitação do compositor. Nele há mais a sugestão do ambiente e do modo de sentir espanhol do que a elaboração de uma trama dramática no sentido usual do termo. Aliás, o personagem principal, Salud, carinhosamente recriada, talvez se aproxime mais do ideal espanhol da mulher do que a sensual e transgressora Carmen, que ganhou vida com Bizet.

Após a vitória de Franco na Guerra Civil (1936-1939), na qual foi assassinado o poeta e amigo Garcia Lorca, perda que o impactou profundamente, de Falla se exilou na Argentina, onde morreu sete anos mais tarde. Em 1947, seus restos mortais foram transladados para a Espanha e depositados na catedral de Cádis, cidade em que nasceu.

A versão veiculada pelo programa trouxe Victoria de los Angeles (Salud), Ana Maria Higueras (Abuela), Inès Rivadeneyra (Carmela), Carlo Cossutta (Paco) e Victor de Narké (Sarvaor) nos papéis principais com o Orfeão Donostiarra e a Orquestra Nacional da Espanha sob a batuta do maestro Rafael Frühbeck de Burgos.

 

As edições de Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

Sinopse de  “La vida breve”,

 

Ópera Manuel de Falla a partir de libreto de Fernandez-Shaw.

Albaicin

Personagens

 

Salud, cigana amante de Paco, soprano lírico spinto.
La Abuela [A Avó], avó de Salud, mezzosoprano.
Tio Sarvaor [Tio Salvador], tio de Salud, barítono.
Paco, amante de Salud, tenor lírico.
Carmela, prometida de Paco, soprano.
Manuel, irmão de Carmela, baixo.
Cantor, barítono.
Primeira vendedora, contralto.
Segunda vendedora, mezzosoprano.
Vendedor, baixo.
Voz no interior da forja / Voz de longe, tenor.

Vista de Albaicin, bairro de Granada onde tem lugar a ação.

Granada, começos do século XX.

 

Ato I

Cena I

(A cena se passa no pátio de uma casa de ciganos no bairro Albaicin de Granada. No fundo, uma porta em que se pode antever o negro de uma forja iluminada pelo brilho vermelho do fogo.)

A avó canta enquanto arruma as gaiolas de pássaros nas paredes. Ao longe se ouve um pregão de vendedores de flores e um coro masculino, são os ferreiros no bairro do Albaicín, que cantam enquanto fazem seu trabalho duro: “¡Malhaya quien nace yunque, en vez de nacer martillo…!” (“Ai daqueles que nascem bigorna,  ao invés de nascer martelo…!”), melodia que ressonará como um leitmotiv ao longo de toda obra. Salud se queixa da demora de seu amado, Paco, um conquistador que está na verdade para se casar com Carmela, uma jovem rica e órfã que vive com seu irmão Manuel. A avó, que suspeita das intensões de Paco e sinceramente ama sua neta, se preocupa com ela.  Cantam um dueto em que ela tenta acalmar as inquietudes da neta. Volta a ser ouvido o coro de ferreiros e Salud canta uma romança. A avó anuncia a chegada de Paco, para alegria de Salud, e se unem em um apaixonado dueto de amor. Entre em cena o tio Sarvaor que, sem que os amantes percebam, confirma as suspeitas de que Paco está comprometido com uma jovem de família rica. O velho cigano indignado pretende vingar a desonra matando Paco, mas a avó o detém. O quadro termina com a repetição do coro de ferreiros.

Interlúdio

A noite cai pouco a pouco. Cheio de beleza e poesia, um trecho coral e sinfônico descreve musicalmente o por de sol em Granada.

Ato II

Cena 1

(Rua de Granada. Fachada da Casa de Carmela e seu irmão Manuel com grandes janelas aberta através das quais se vê o pátio onde se celebra alegre festa e de onde se ouve um “cantaor” [cantor] flamenco, sons de guitarras e o coro que canta em honra aos recém casados)

Por uma das janelas Salud constata a traição de Paco e desesperada considera a morte a única solução para os seus sofrimentos. Chegam a avó e o tio que procuram consolá-la. Na casa, segue a festa e Salud ouve Paco cantar alegremente. Ela chega perto da janela e canta uma triste romança. Os velhos, em vão, tentam levá-la, mas ela decide entrar na casa.

Interlúdio

Cena 2

(Pátio da casa onde o casamento Paco e Carmela é realizado. Os convidados usam vestidos de luxo. Vários casais dançam alegremente.)

Manuel, irmão de Carmela, manifesta sua satisfação comas núpcias. Entram Salud e Sarvaor. Paco se perturba com a presença dos dois. Carmela, por sua vez, recebe os convidados. Manuel pergunta ao velho cigano o que faz em sua casa e este responde, dissimuladamente, que vieram apenas cantar e dançar. Salud, porém, revela a todos a traição de Paco que a abandonou. Para se defender das acusações, este assegura que não a conhece e afirma que está louca. Salud, pronunciando suavemente seu nome, morre a seus pés. Por fim, chega a avó que, diante de todos que rodeia o corpo de Salud, maldiz o nome de Paco. “¡Malhaya quien nace yunque…” (“Ai daqueles que nascem bigorna…”).

O universo das Aberturas em Concertos UFRJ

Imagem: Reprodução
Geraldine Farrar
A abertura “Festival Académico” de Brahms é destaque do programa.

A partir de obras de Telemann, Verdi, Berlioz e Brahms a edição desta semana de Concertos UFRJ desvenda o mundo das aberturas, termo usado para nomear um leque bastante amplo de composições musicais.

A partir de obras de Telemann, Verdi, Berlioz e Brahms a edição desta semana de Concertos UFRJ desvenda o mundo das aberturas, termo usado para nomear um leque bastante amplo de composições musicais. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

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Telemman

O uso mais comum do termo é, sem dúvida, o de uma partitura escrita como introdução a uma peça coral ou dramática de grande porte. Antes que se estabelecessem os rituais atuais de escuta, que exigem silêncio da plateia desde os primeiros acordes, a abertura indicava o início do espetáculo e funcionava como alerta para o público ocupar os assentos.  

No barroco, sobretudo na Alemanha, ela possuía ainda outro significa e indicava também uma suíte orquestral, que reunia vários movimentos de dança com ritmos e andamentos contrastantes.  É o caso da Suíte em Ré Maior de Georg Philipp Telemann (1681-1767), um dos mais profícuos e importantes compositores de todos os tempos. São sete movimentos: Prelúdio, Bourée, Loure, Rondó, Escocesa, Minueto e Giga. A interpretação, a de Trevor Pinnock conduzindo The English Concert.

Verdi

Em todo caso, o termo é mais comumente aplicado a uma peça orquestral que “abre” uma ópera, também conhecida como prelúdio ou sinfonia. A duração varia muito e pode estar ligada ou não ao conteúdo melódico da ópera e usar algumas de suas passagens. O programa destacou a conhecida abertura de A Força do Destino (La Forza del Destino), escrita por Giuseppe Verdi (1813-1901) em 1861 com base em um drama espanhol.

A partitura foi revisada diversas vezes até a versão considerada padrão, que subiu ao palco do La Scala, Milão, em 1969. Para a ocasião, Verdi acrescentou esta famosa abertura em substituição ao breve prelúdio das elaborações anteriores. Designada como “sinfonia”, acabou ganhando autonomia e entrando para o repertório das orquestras sinfônicas como peça de concerto. A interpretação veiculada foi a da Filarmônica de Viena com a regência de Giuseppe Sinopoli.
 

Berlioz

Os compositores também costumam chamar de abertura uma forma que se aproxima do poema sinfônico, peça orquestral escrita em movimento único e composta a partir de um roteiro literário. É o caso de “O Corsário”, uma das sete aberturas de concertos de Hector Berlioz (1803-1869).

Não se conhece muito bem sua gênese, mas, escrita em 1944, foi executada pela primeira vez em 1845 como “La Tour de Nice”, o que faz pensar que tenha relação com as estadas de Berlioz naquela cidade. Num catálogo de 1846, aparece com o nome de “Le Corsaire rouge”, título francês de um romance de Fenimore Cooper muito apreciado pelo compositor. É na publicação em 1852, que, finalmente, ganha o título “Le Corsaire”, favorecendo associações com o poema homônimo de Byron.

Entre a execução de 1845 e a publicação, cabe mencionar, foram feitas modificações substanciais. A versão transmitida foi da Orquestra de Montreal com regência de Charles Dutoit.

Brahms

Por fim, o programa mostrou o exemplo de uma obra sem qualquer conexão dramática ou literária – uma peça sinfônica independente em movimento único: a Abertura “Festival Académico”, op. 80, de Johannes Brahms (1833-1897), que estreou em janeiro de 1881, tendo o próprio compositor regido, na ocasião, a orquestra.

 

Brahms compôs a Abertura “Festival Académico” durante o Verão de 1880, como agradecimento musical à Universidade de Breslau, que, no ano anterior, lhe havia atribuído um doutoramento “honoris causa”. O compositor, ao que consta, detestava homenagens públicas e, inicialmente, se limitou a enviar uma nota de agradecimento manuscrita.

 

O maestro Bernard Scholz, que o havia indicado ao título, o convenceu, porém, de que o protocolo exigia dele um gesto mais significativo. A Universidade esperava nada menos que uma oferta musical do compositor. Scholz escreveu a Brahms: “Compõe uma bela sinfonia para nós. Mas bem orquestrada, meu velho, não demasiado densa.” Brahms escreveu, então, uma espécie de rapsódia de várias cantigas estudantis de seu tempo.

 

A Abertura “Festival Académico” continua a ser uma obra muito importante do repertório de concerto e a interpretação veiculada foi a da Filarmônica de Berlim sob a batuta de Claudio Abbado.

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Música norte-americana em Concertos UFRJ

Foto: Reprodução
Geraldine Farrar
Copland é um dos compositores destacados no programa.

A música dos compositores norte-americanos é assunto desta semana de Concertos UFRJ. Em destaque, peças de Gershwin, Barber, Bernstein e Copland.

A música dos compositores norte-americanos é assunto desta semana de Concertos UFRJ. Em destaque, peças de Gershwin, Barber, Bernstein e Copland. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

A música norter-americana é, sem dúvida, uma das mais ricas em termos de diversidade, sendo o jazz, o pop e o musical os gêneros internacionalmente mais difundidos. No plano da música de concerto, os EUA fomentam hoje uma das mais importantes cenas artísticas, com grandes casas de óperas, salas de concerto e algumas das melhores orquestras do planeta. No terreno da criação, entretanto, contribuem de maneira relevante somente a partir do século passado.

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Gershwin

George Gershwin (1898-1937), nascido Jacob Gershowitz, formou com seu irmão mais velho Ira, letrista da maioria de suas obras vocais e teatrais, uma dupla que renovou os musicais da Broadway. Gershwin teve também pretensões na música de concerto, tendo escrito uma das mais conhecidas obras do reportório para piano e orquestra – a Rhapsody in Blue, que foi orquestrada por Ferde Grofé para a jazz band de Paul Whiteman. Grofé faria dela mais duas versões: uma em 1926, outra em 1942.

Na primeira apresentação pública no Aeolian Hall, Nova Iorque, o próprio compositor atuou como solista e estiveram presentes a audição nomes como Stravinsky, Rachmaninov e Leopold Stokowski. A versão veiculada trouxe a Orquestra Sinfônica de Chicago e James Levine como pianista e regente.

Barber

Outro compositor norte-americano relevante foi Samuel Barber, que viveu entre 1910 e 1891. Em 1936, com apenas 26 anos, escreveu um quarteto de cordas, cujo segundo movimento transcreveu para orquestra de cordas e intitulou “Adaggio para Cordas”. Em 1938, o grande maestro Arturo Toscanini estreou a nova versão com a orquestra da NBC, e a peça se tornou uma das mais conhecidas de Barber, tendo sido incluída trilha sonora de Platoon, filme de Oliver Stone.

A edição de Concertos UFRJ apresentou a versão da Filarmônica de Los Angeles, tendo a frente Leonard Bernstein.
 

Bernstein

Além de grande maestro, Leonard Bernstein (1918-1990) foi também um dos mais importantes compositores dos EUA e deixou obras fundamentais como os musicais West Side Story (1957) e On the Town (1944), três sinfonias, e os Chichester Psalms (1965), entre outras.

O programa destaca uma de suas obras sinfônicas mais executadas, a abertura do musical Candide (1956), baseado na obra homônima do filósofo ilustrado Voltaire. Na versão veiculada, o próprio compositor dirige a Filarmônica de Los Angeles.

Copland

O último compositor abordado foi Aaron Copland (1900-1990), contemporâneo de Barber e Bernstein. Copland nasceu no Brooklyn, Nova Iorque, descendente de judeus lituanos, e deixou uma obra vigorosa em que sobressaem as brilhantes composições sinfônicas, especialmente os ballets.

Na década de 1940, que foi, sem dúvida, a mais produtiva e que lhe rendeu granjeou fama mundial, Copland recebeu uma encomenda do Ballet Russo de Monte Carlo, para o qual escreveu o ballet Rodeo. Coreografado por Agnes de Mille s obra é composto por cinco números de grande força rítmica e orquestração brilhante em que são elaborados vários temas folclóricos norte-americanos.  

Na versão sinfônica, cuja interpretação da Orquestra Sinfônica de Saint Louis sob a regência de Leonard Slatkin o programa apresentou, um dos números é omitido e os outros desenvolvidos na forma de suíte: “Buckaroo Holiday”, “Corral Nocturne”, “Piano Interlude & Saturday Night Waltz” e “Hoe-Down”.

 

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Peças para múltiplos solistas em Concertos UFRJ

Imagem: Reprodução
Geraldine Farrar
Concerto “In due Cori”, para 11 solistas, de Vivaldi, é destaque da edição.

Peças escritas para dois ou mais solistas são a atração de Concertos UFRJ desta semana. Em destaque, composições de Bach, Mozart e Vivaldi.

Peças escritas para dois ou mais solistas são a atração de Concertos UFRJ desta semana. Em destaque, composições de Bach, Mozart e Vivaldi. Resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, o programa vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM, sob o comando de André Cardoso, regente titular da OSUFRJ.

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Bach

J. S. Bach (1685-1750), um dos maiores compositores da música do Ocidente, escreveu várias partituras para mais de um solista. Entre elas, o Concerto para Dois Violinos em Ré Menor, BWV 1043, considerado uma de suas maiores obras instrumentais e modelo do barroco tardio. Escrito em Cöthen, entre 1717 e 1723, os movimentos são Vivace, Largo ma non tanto e Allegro. Além dos solistas, o concerto exige cordas e baixo contínuo, e há uma versão para dois cravos, com transposição para dó menor (BWV 1062).

A interpretação veiculada foi a dos violinistas Henryk Szeryng e Maurice Hasson, acompanhados da Academy of St. Martin in the Fields, conduzida por Sir Neville Marriner.

Mozart

W. A. Mozart (1756-1791) foi outro gênio musical que escreveu com frequência para vários solistas. Entre suas obras encontramos, entre outras, peças para dois violinos, para violino e viola, para dois ou três pianos e para flauta e harpa. O programa destacou a Sinfonia Concertante em Mi Bemol, K 297, para quatro solistas, oboé, clarineta, trompa, fagote, e orquestra, nos movimentos Allegro, Adagio e Andantino con variazio.

A interpretação, a de Stephen Taylor, David Singer, William Purvis Steven Dibner, acompanhados pela Orquestra de Câmara Orpheus.

Vivaldi

Encerrando o programa, um exemplo de criatividade e domínio técnico: o Concerto “In due Cori” em Lá Maior RV 585, do compositor italiano Antonio Vivaldi (1678 – 1741), para nada menos que 11 solistas. São quatro flautas, quatro violinos, dois violoncelos e órgão, acompanhados por uma orquestra de cordas e baixo contínuo. Os solistas são divididos em dois grupos, os “due Cori” de instrumentos do título. O primeiro é formado por duas flautas, dois violinos e um violoncelo; o segundo inclui duas flautas, dois violinos, um violoncelo e o órgão. Ao longo da partitura, estes grupos se alternam como solistas, tocam juntos ou dialogam com a orquestra, o que cria um inusitado efeito estereofônico, ainda mais interessante quando apreciado ao vivo.

A peça é dividida em três movimentos – Allegro, Adagio e Allegro – e os solistas da versão apresentada são integrantes da orquestra Concerto Köln, conjunto alemão dedicado ao repertório barroco.

 

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Música Antiga em Concertos UFRJ

Foto: Marco Fernandes/SGCOMS
Geraldine Farrar
Anthony Flint e João Ferreira são  solistas do concerto.

O primeiro programa Da temporada 2012 de Concertos UFRJ aborda a chamada música antiga com peças de compositores dos séculos XVII e XVIII dos períodos barroco e clássico.

O primeiro programa Da temporada 2012 de Concertos UFRJ aborda a chamada música antiga com peças de compositores dos séculos XVII e XVIII dos períodos barroco e clássico. Os destaques são obras de Corelli e Mozart executadas pela Orquestra Sinfônica da UFRJ (OSUFRJ) sob a direção de Felipe Prazeres. As gravações foram feitas ao vivo no Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música no dia 17 de novembro de 2011 durante o I Festival de Música Antiga da UFRJ.

 

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Corelli

 

A primeira peça do programa foi uma obra de Arcangello Corelli, violinista e compositor italiano do período barroco que viveu entre 1653 e 1713. Sua carreira se desenvolveu na cidade de Roma, onde atuou, sobretudo, como violinista virtuose e professor. Entre seus alunos, expoentes da música barroca italiana como Geminiani e Vivaldi.

A obra de Corelli engloba seis antologias de peças de grande brilho instrumental e de refinado tratamento harmônico. Suas contribuições mais relevantes são, porém, seus 12 concerti grossi – forma que se caracteriza pelo contraste entre o grupo de instrumentos solistas e o tutti orquestral.

Nos concertos de Corelli, o primeiro violino se destaca e sugere em muitas passagens a textura do concerto solista, assim como o contraste entre os grupos se caracteriza pelas respostas em eco. Seus 12 Concertos Grossos, op. 6, podem ser divididos em dois grupos.  Os oito primeiros são escritos em forma de sonata da chiesa, em geral numa sequência de quatro movimentos em que se alteram andamentos lentos e rápidos, sendo o último deles, o op. 6 no 8, o mais célebre e conhecido como “Concerto de Natal” por incluir uma pastoral. Os demais seguem o estilo da sonata da câmera, movimentos de dança em forma de suíte precedidos por um prelúdio.

O concerto veiculado no programa foi o no 4, op. 6, composto por quatro movimentos: Adagio – Allegro; Adagio; Vivace; e Allegro – Giga: Presto. Os solistas: Felipe Prazeres e Adonhiran Reis, nos violinos, e Mateus Ceccato, no violoncelo.


Mozart

Mozart forma com Joseph Haydn e Ludwig van Beethoven a trinca de compositores mais representativos do classicismo musical e suas obras praticamente definem o estilo.

Mozart nasceu na cidade de Salzburgo em 1756 e durante a infância percorreu a Europa em turnês intermináveis organizadas por seu pai Leopold Mozart, que exibia o filho como criança prodígio. Com o passar dos anos, o virtuose deu origem ao compositor que, em pouco mais de 36 anos de vida, escreveu mais de seiscentas composições, que marcaram a tradição musical do ocidente.

Foto: Thamiris Tavares
Apresentação da OSUFRJ no Salão Leopoldo Miguez, durante o I Festival de Música Antiga da UFRJ.

A Sinfonia Concertante em Mi bemol para violino e viola K 364, a primeira obra do compositor apresentada na edição de Concertos UFRJ, foi uma das últimas escritas por Mozart antes de deixar Salzburgo e tentar a sorte como criador autônomo em Viena. Composta em 1779, não se sabe em quais circunstâncias, a escolha de uma forma em voga em Paris, denota influências francesas. Já a opção pelo violino e, especialmente, pela viola como instrumentos solistas sugerem ideias da Escola de Manheim. A obra funciona como uma espécie de concerto duplo, onde os dois instrumentos exibem o mesmo nível de dificuldade e protagonismo. O gênio de Mozart, entretanto, supera as influências mencionadas e os limites do gênero, criando uma obra onde a riqueza da escrita instrumental é reforçada pela beleza melódica.

Anthony Flint, violino, e João Carlos Ferreira, viola, são os solistas da versão veiculada.

A Sinfonia Haffner, que encerrou o programa, possui uma história curiosa. Em 1776, contando apenas 20 anos, Mozart recebeu uma encomenda para escrever uma serenata para o casamento de Maria Elisabeth Haffner, filha de um nobre de Salzburgo, amigo do seu pai. A obra composta para a ocasião foi a Serenata em ré maior, K 250, em oito movimentos, que passou a ser conhecida pelo nome da família homenageada.

Alguns anos mais tarde, em 1782, Leopold Mozart intermediou a encomenda de uma nova peça para a mesma família. Dessa vez, destinada a comemorar o título de nobreza de Sigmund Haffner, irmão de Maria Elisabeth. Mozart, a essa altura, já residia em Viena e, na ocasião, estava sobrecarregado, às voltas com a produção da ópera “O rapto do serralho”. Mesmo assim aceitou o pedido e, em carta de 20 de julho, informa ao pai sobre o andamento dos trabalhos: “Enfim escreverei à noite, pois de outro modo não o conseguirei; e que tal sacrifício seja por vós, meu muito querido pai”. Após concluir o trabalho Mozart encaminhou a partitura para ser executada em Salzburgo. Em dezembro de 1782, entretanto, pediu ao pai que a reenviasse para ser executada em um concerto Viena. Mozart decidiu reescrever a obra sob a forma de sinfonia, descartando um dos dois minuetos originais e elaborando uma nova orquestração, na qual incluiu duas flautas e duas clarinetas.

Em fevereiro de 1783 Mozart escreveu ao pai: “Minha nova sinfonia Haffner me assombrou completamente, pois tinha esquecido cada uma das notas dela. Certamente deve fazer um ótimo efeito”. Nesse novo formato ganhou sua primeira audição em Viena no dia 23 de março de 1783. Desde então a Sinfonia Haffner tornou-se uma das mais apreciadas e executadas peças do compositor.

 

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: concertosufrj@musica.ufrj.br.

 

Peças da Edição

OSUFRJ – Orquestra Sinfônica da UFRJ
ANTHONY FLINT, violino
JOÃO CARLOS FERREIRA, viola
FELIPE PRAZERES, regente

A. CORELLI

Concerto Grosso em Re Maior op. VI no 4
Adagio – Allegro
Adagio
Vivace
Allegro – Giga: Presto

W. A. MOZART

Sinfonia Concertante em Mi bemol Maior para violino, viola e orquestra K. 364
Allegro maestoso
Andante
Presto

Sinfonia Nº 35 em Ré Maior K. 385, Haffner
Allegro con spirito
Andante
Menuetto
Presto