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José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) é, sem dúvida, a personalidade mais importante da música brasileira no período colonial e, com ‘Aleijadinho’ e Mestre Valentim, forma a tríade dos mais geniais representantes daquele período. Sua importância não se restringe, porém, ao campo da composição, abrange também a figura do intérprete e do pedagogo.
A impressionante obra deste músico é tema da sexta edição de “Concertos UFRJ”, programa produzido pela Escola de Música da UFRJ (EM) em parceria com a Rádio Roquete Pinto (FM 94,1), que vai ao ar toda segunda-feira às 22h com apresentação de André Cardoso, regente e docente da EM.
Descendente de escravos e mulato, José Maurício cedo revelou talento, tendo tido uma sólida formação, que incluiria estudos com Salvador José de Almeida e Faria, “o pardo”, músico mineiro e amigo da família.
Aos 25 anos foi ordenado sacerdote e, em 1798, nomeado Maestro de Capela da Sé e Catedral do Rio de Janeiro, onde, no entanto, já trabalhava como músico e compositor. As atividades musicais nas igrejas, na época, eram intensas. José Maurício atua como organista, compositor e regente, não apenas na Catedral, mas em outros templos.
Ao mesmo tempo desenvolve atividades de professor, estabelecendo um curso gratuito de música, que atendia jovens pobres. Celeiro de músicos para a Sé, depois Capela Real e Imperial, bem como para as atividades operísticas da cidade, lá se formaram cantores, instrumentistas e compositores, bem como modinheiros, já que o Padre Mestre era um deles. Foi a "aula gratuita" que inspirou um dos seus discípulos, Francisco Manuel da Silva, a fundar em 1848 “O Imperial Conservatório de Música”, origem da Escola de Música da UFRJ.
Em 1808, a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro redefine o panorama artístico da cidade. Nunes Garcia cai nas graças do Príncipe-Regente, grande admirador de música, que o nomeia mestre e arquivista da Real Capela, recém-criada nos moldes da que existia em Lisboa, o que lhe permitiu acesso à importante biblioteca musical da Casa de Bragança que Dom João trouxe consigo. O impacto dessa nomeação sobre a obra de José Maurício será significativo - se, antes, escrevia para grupos pequenos e possivelmente com sérias limitações técnicas, vê-se obrigado, a partir de então, a escrever uma música mais brilhante e virtuosística, de agrado da corte.
Durante a permanência de João VI no Brasil, viveu a fase mais frutífera de sua vida, apesar de, com a vinda de Marcos Portugal em 1811, o mais afamado compositor português de sua época, ter sido afastado da direção da Real Capela, ocupada pelo rival. Contribui para isso os embaraços causados pela sua relação com uma certa Severina, com quem chegou a ter seis filhos, apesar dos votos de celibato, e ser negro numa sociedade escravocrata e fortemente preconceituosa. Entretanto, continuaria a compor ocasionalmente para a instituição atendendo pedidos de D. João.
Foi nessa época também que chegou ao Brasil o compositor austríaco Sigismund Neukomm, discípulo de Haydn, que impressionado com a qualidade artística de José Mauricio escreveu um artigo publicado na Europa onde chamava a atenção para o Mestre brasileiro.
A volta do rei para Portugal e os acontecimentos seguintes levaram à decadência da atividade artística no Rio de Janeiro. José Maurício doente e empobrecido ainda sobreviveu quase nove anos, compondo e atuando segundo suas possibilidades.
O catálogo do compositor está constituído fundamentalmente por obras sacras e inclui mais de duas dezenas de peças, grande parte delas redescobertas ou restauradas em meados do século passado por Cleofe Person de Mattos, musicóloga e regente que teve papel fundamental na revalorização da música do período colonial brasileiro, em especial da obra de José Maurício Nunes Garcia.
O programa "Concertos UFRJ" pode ser acompanhado on line ou no podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto. Contato através do e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Programa 6 – Dia 6 de setembro – O Padre Mestre Se hoje muitos reconhecem o "Aleijadinho" e Mestre Valentim como os mais geniais representantes do barroco brasileiro com certeza ignoram os nomes dos músicos que foram os compositores contemporâneos aos dois mestres escultores. Dentre os compositores brasileiros do período destaca-se o nome do Padre José Maurício Nunes Garcia, que deve ser colocado ao lado do "Aleijadinho" e de Mestre Valentim como um dos mais brilhantes artistas do período colonial e cuja obra é uma das mais importantes do patrimônio cultural brasileiro. • Gradual de Nossa Senhora "Virgo Dei Genitrix" com o Coral dos Canarinhos de Petrópolis, a Orquestra Sinfônica da UFRJ e a regência de Marco Aurélio Lischt. Programa 7 – Dia 13 de setembro – Ciclo Bach – Programa produzido pelo professor Paulo Peloso. Bach é um dos pilares da música de concerto universal e em 2010 é homenageado pelos 260 anos de sua morte. O programa apresenta uma visão eclética da obra de Bach, inclusive com algumas reinterpretações modernas, na semana do Ciclo Bach promovido pela Escola de Música em parceria com a Sala Cecília Meireles em concertos na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro. • Concerto em ré menor para dois violinos BWV 1043 (1º movimento) com a Academia de Música Antiga, Andrew Manze (regente e 1º violino) e Rachel Podger (2º violino). Programa 8 – Dia 20 de setembro – Representações da Primavera O mês de setembro nos traz uma nova estação do ano. Para alguns aquela mais diretamente ligada à natureza. Diversos compositores em diferentes épocas procuraram representar em música as belezas e a força da natureza e seus elementos. Uma das estações do ano que mais inspirou os compositores foi a Primavera e hoje, faltando poucos dias para seu início, traremos a você obras nela inspiradas. • Antonio VIVALDI – Primavera de As Quatro Estações. Programa 9 – Dia 27 de setembro – Panorama das Orquestras Brasileiras Sendo uma das mais representativas manifestações musicais da cultura ocidental, a orquestra sinfônica espalhou-se pelos quatro cantos do planeta como guardiã do grande repertório sinfônico de todos os tempos e como dínamo da vida musical contemporânea. Neste programa vamos conhecer um pouco do trabalho das principais orquestras brasileiras de diversas regiões. • José de ARAÚJO VIANNA – Prelúdio da ópera "Carmela" com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e a regência de Ion Bressan. |