Excelência no caos

Matéria publicada na edição de 12/10/2014 do Jornal da Adufrj, órgão do Sindicato dos Docentes da UFRJ, sobre a situação dos prédios da Escola de Música.

 

 

 

 

 

 

 

Excelência no caos

 

A fachada portentosa do prédio da Escola de Música da UFRJ abriga duas realidades. Esforço virtuoso de docentes e estudantes envolvidos com a produção artística convive com o sufoco cotidiano da infraestrutura precária. Agora a situação se agrava mais ainda com a ameaça de despejo de um prédio alugado pela unidade na Lapa.

 
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Parte da Escola de Música está ameaçada de despejo Empresa pede devolução de imóvel alugado pela universidade, na Lapa. No local, funcionam salas de aula e outras atividades administrativas da Unidade que não cabem mais no deteriorado prédio-sede do curso. No centro da crise, o Parque Tecnológico da UFRJ Elisa Monteiro
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. O diretor da Escola de Música da UFRJ, André Cardoso, recebeu, em 17 de setembro, a notícia de que (boa) parte das atividades da Unidade não poderá mais ser realizada em um prédio nas imediações da histórica sede da rua do Passeio. A empresa Superpesa, que alugava o espaço à universidade, há 14 anos, pediu o imóvel, localizado no Largo da Lapa no 51. Pior: o prazo para se retirar das instalações é o próximo dia 17 de outubro. André explica a origem do problema: "Inicialmente, havia um contrato no qual a universidade cedia espaço para a empresa Superpesa no Parque Tecnológico. Em troca, a Música ocupou esse prédio dela na Lapa". Em 2013, a direção do Parque Tecnológico informou que não manteria mais o contato, segundo o professor. "O argumento foi que simplesmente não haveria sinergia entre o Parque e a empresa", disse, indignado. Ou seja, por uma decisão unilateral do Parque, uma das unidades mais antigas da UFRJ está ameaçada". Segundo o diretor, a administração central se comprometeu a (re)mediar o conflito, promovendo uma chamada pública para alugar outro prédio, também próximo à Escola de Música. "Enquanto isso, estamos tentando junto à Procuradora uma extensão do prazo para dezembro de 2015", informou o diretor. "Não podemos dizer aos alunos que voltem depois, quando tudo estiver resolvido". A Congregação da Música deve encaminhar ao Conselho Universitário, nos próximos dias, um pedido de intervenção sobre a decisão do Parque Tecnológico. E a perspectiva não é nada animadora, "caso essa situação não se reverta", disse o diretor. "O Centro da cidade está um canteiro de obras para todos os lados. Qualquer novo contrato que a universidade venha a assumir implicará em um ônus financeiro bem maior que o antigo contrato", avaliou André. "E se tivermos de sair de lá, o que temos simplesmente não caberá aqui", resumiu. O que funciona no imóvel alugado Em termos práticos, o desalojamento inviabiliza os cursos de Música. No prédio principal da Escola, patrimônio tombado da UFRJ na Rua do Passeio no 98, funcionam salas administrativas e de concerto. O grosso das aulas acontece em um prédio anexo nos fundos da Escola e no imóvel alugado. A estrutura de três andares na Lapa abriga 17 salas de aulas. "Por ser um prédio moderno, da década de 1980 talvez, nele temos mais estrutura. A parte elétrica suporta aparelhos de ar-condicionado, por exemplo", observa André. Opera neste local, ainda, o setor da Escola de Música da UFRJ "onde todos os compositores do Rio de Janeiro registram suas obras". De acordo com o diretor, equipamentos de vários cursos, como "praticamente tudo de sopro, violino, viola, harpa e bandolim", estão lá. André lamenta a perda do ponto, se confirmada. "A Escola está em um lugar privilegiado para os músicos, ao lado da sala Cecilia Meireles, do (Teatro) Municipal e do Circo Voador". Crédito das fotos: Elisa Monteiro Legenda das fotos: Fachada ao lado da Sala Cecília Meireles (acima) "esconde instalações mãos novas (abaixo) alugadas para a EM, nos fundos. Prédio-sede, tombado, está em condições ruins Unidade que realizou sua expansão acadêmica depois da reforma curricular ("muito antes do reuni", observa André), a Música mantém seu funcionamento no sufoco. "Quando temos apresentações, pedimos aos funcionários que vão embora mais cedo e saímos apagando todas as luzes possíveis", conta André, mostrando o gerador alugado para dias de espetáculos. A rede e rede elétrica, antiga, não suporta além de 200 amperes. A precariedade das estruturas fez o diretor interditar parte dos fundos da Escola. No ano passado, a caixa d'água simplesmente descolou do prédio. As infiltrações castigam o patrimônio histórico e a comunidade acadêmica. Mas, sobretudo, a falta de espaço incomoda: "Não temos sequer lugares para os professores guardarem suas coisas". Todo material docente fica em um gaveteiro centenário. Antigas salas de aula são repartidas em três, quatro e até cinco peças, por divisórias. Não há isolamento acústico. Nova estrutura Fora do Reuni e do Plano Diretor, a Música tem planejada sua expansão a partir da construção de uma nova estrutura nos fundos do prédio-sede. O projeto, elaborado por uma professora da FAU, Andrea Borde, já tem recursos para começar a primeira parte: a derrubada da parte condenada do edifício. A construção de uma subestação elétrica, no local, também fqaz parte dos planos Legenda da foto:Falta de espaço. Salas são repartidas em vários pedações. Reitoria dá sua versão A Adufrj-SSind levou o problema da Música ao Consuni no último dia 9. Na ocasião, o reitor Carlos Levi disse a matéria "é de preocupação da universidade há anos". Segundo Levi, a Superpesa estaria ocupando "uma área grande no Parque, causando prejuízos pecuniários a UFRJ": haveria uma relação "desequilibrada" em termos de valorização imobiliária entre os terrenos do Fundão e do imóvel no Centro. A pró-reitora de Gestão e Governança (PR6), Aracéli Ferreira, afirmou estar "particularmente tranquila" com a situação. Segundo a dirigente: "Não há nenhum risco de a Escola de Música ser desinstalada ou ser despejada. Isso está totalmente afastado". Aracéli confirmou o pedido de desocupação do imóvel onde está a Música pela empresa Superpresa, mas contemporizou com a afirmação de que "já entramos na Justiça e temos toda condição de manter a escola lá". "Nós estamos atuando de forma bastante presente nessa questão", disse. De acordo com a pró-reitora, a universidade "está fazendo uma licitação para o aluguel de um espaço" para a Escola, "até porque a Música precisa sair (do prédio onde está) para que a reforma lá possa acontecer".