Jocy de Oliveira recebe título de Doutor Honoris Causa da UFRJ

Em sessão solene do Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o reitor, Roberto Leher, fará a entrega do título de Doutor Honoris Causa à compositora, escritora, concertista e membro da Academia Brasileira de Música, Jocy de Oliveira. A solenidade realizar-se-á no Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música, às 17h do dia 5 de abril. Durante a cerimônia, com regência de Maria José Chevitarese, o Coro Brasil Ensemble, com participação especial da soprano Gabriela Geluda, que faz parte do trabalho que o Ensemble Jocy de Oliveira desenvolve, será responsável pela estréia mundial da obra Memória, de autoria da homenageada.

 Foto: Fernanda Estevam
 
  
 Outorga do título. Sessão solene do Conselho Universitário da UFRJ, dia 5 de abril, 17h, Salão Leopoldo Miguez. 

 

O proponente da entrega deste título a Jocy de Oliveira foi Rodrigo Cicchelli, professor do Departamento de Composição da Escola de Música, de quem ela faz questão de dizer que foi aluna, no curso Composição Musical e Novas Tecnologias, ministrado na UNIRIO em 1997. Na entrevista, Jocy disse da emoção que tem vivenciado, desde o momento em que lhe foi dada a notícia da entrega do título, pois ele representa uma aspiração pessoal que se viu obrigada a abandonar, quando, ao ser aceita na Columbia University, se deu conta que para cursar o doutorado teria que subtrair muitas horas do tempo necessário à criação de suas composições musicais e literárias, assim como teria que tornar muito reduzida a atuação de solista. Ou seja, teria que deixar de cumprir seu destino, porque entende que ser músico é ser um predestinado. Além do patrimônio cultural construído com a composição de peças para as mais diferentes formações musicais e cênicas apresentadas no Brasil, Alemanha, Estados Unidos, México, Argentina, pode-se, também, lembrar os prêmios e apoio que recebeu das mais importantes associações de críticos de arte e renomadas fundações de fomento à cultura e humanidades do Brasil e dos Estados Unidos. Jocy de Oliveira atuou como solista à frente de grandes orquestras não só do Brasil, mas também da Europa e dos Estados Unidos. Executou primeiras audições dos compositores John Cage, Luciano Berio, I Xenakis, Claudio Santoro, Lukas Foss e foi solista sob a batuta de Stravinsky, Robert Craft, Eleazar de Carvalho, Lukas Foss, SixtenEhrling e outros, além de ter gravado a obra pianística de Olivier Messiaen. Dentre seus 6 livros publicados, o recente volume -Diálogo com Cartas, foi contemplado em 2015, com o Prêmio Jabuti, fato inédito no mundo musical. Sobre seu processo de criação musical disse que nunca procurou seguir fases, correntes ou tendências da música. A ela é crível que tal processo nasceu com ela, o que justifica o fato de ter, por conta própria, começado a tocar de ouvido aos quatro anos de idade os consagrados compositores clássicos, além da necessidade orgânica de estar sempre desenvolvendo um processo criativo ou estar refazendo com outra visão de mundo um processo que já tenha sido realizado. Sobre sua singular trajetória, sem nenhum vestígio de arrogância, expressou a certeza de que se tivesse nascido homem, teria feito mais. Para além dos fatos de ter nascido mulher e no hemisfério sul, dois outros fatores foram, com serenidade, expostos e classificados por ela como dificuldades que contribuem para impedir que toda potencialidade do talento feminino se desenvolva de modo pleno. Um, não pertencente apenas à sua subjetividade e não restrito ao universo musical, diz respeito à beleza física e as dificuldade que a mulher ainda encontra para ser ouvida e respeitada e não ser considerada apenas como uma mulher bonita. Do outro fator, os espaços profissionais da música envolvidos por uma educação que valoriza os hábitos e costumes oriundos de um passado, onde determinadas atividades eram desenvolvidas por homens, ela observou que neles a solista e a soprano são aceitas, mas que quando se trata de compositoras e regentes femininas é conferido um grau bem menor ao trabalho desenvolvido por elas, porque ao compor e reger a mulher está impondo a sua estética e a sua maneira de pensar. Talvez por estes fatores, a sua trilogia de óperas Inoris, Illud Tempus, e As Malibrans carregam consigo os valores femininos e apontam para a necessidade de a mulher se posicionar. Não de modo panfletário ou objetivando uma percepção de igualdade entre os gêneros, mas de se situar na defesa e na exigência do respeito à diferença. Contudo e por tudo deixou às jovens alunas dos Cursos de Música o seguinte incentivo: Eu fiz o que pude. Agora, cabem a vocês darem passos maiores dos que dei. Alcançem um lugar situado para além deste que eu consegui alcançar. Lutem!. No momento, em residência na Fundação Boliasco, na Itália, Jocy irá finalizar uma ópera multimídia já iniciada há algum tempo. Neste trabalho é a água e seu valor idílico para diferentes culturas, o núcleo gerador das ações.