Mesa-redonda: “Francisco Mignone, o homem e o músico”

Na Semana de Aniversário da EM as diferentes atividades terão Francisco Mignone como homenageado. O Leopoldo conversa com o professor João Vidal que será, no dia 3 de agosto, o moderador da mesa-redonda em tributo ao compositor.

 

 Foto: Fernanda Estevaml
 josmignonex600
 A pianista Maria Josephina Mignone.
A mesa que tem você como moderador tem como título "Francisco Mignone, o homem e o músico", e como convidados Maria Josephina Mignone, Roberto Duarte, Aloysio Fagerlande e Flávio Silva. De que maneiras o Maestro Duarte, o fagotistae professor Aloysio Fagerlande e o pesquisador Flávio Silva se relacionaram com o compositor Francisco Mignone? De diversas maneiras, e em alguns casos de forma coincidente. Foi aliás o que motivou os convites, em primeiro lugar: creio que assim teremos exposições variadas e uma imagem mais abrangente do compositor. Maria Josephina, como dedicada companheira de Mignone, pode ser considerada não apenas uma guardiã e divulgadora da obra do marido, mas também uma fonte única de informações sobre sua vida e atividades profissionais. O paralelo com Mindinha, viúva de Villa-Lobos, vem à mente, embora a relação de Maria Josephina com Mignone seja ainda mais forte, visto que ela se destacou também como intéprete da obra, como pianista. Roberto Duarte por sua vez foi aluno do Mignone, o que naturalmente impactou sua relação com sua obra como regente. Também ele deve ser ouvido como alguém capaz de fornecer uma imagem "real" do compositor, coisa que nenhum livro de história da música, por mais bem escrito que seja, poderia fazer. Já Aloysio Fagerlande, outro renomado intéprete de Mignone, se destaca como pesquisador da obra, mas também se liga ao compositor através de NoëlDevos, seu professor e grande amigo de Mignone, a quem foram dedicadas as 16 valsas para fagote solo. Com Flávio Silva, por fim, temos o ponto de vista de um profundo estudioso da música brasileira, sobretudo da do século XX em sua vinculação com o movimento modernista e seus reflexos posteriores. De antemão já está estabelecido sobre que tópico do tema da mesa cada um deles irá abordar? Sim e não. Alguns expressaram a intenção em abordar temas particulares. Por exemplo Aloysio Fagerlande, que irá falar sobre a fase "experimental" de Mignone pouco conhecida, mas bastante significativa na sua imensa produção para fagote – inclusive com a participação de seu aluno Carlos Bertão, que irá ilustrar a exposição tocando a Sonatina para fagote solo – e Flávio Silva, que deverá tecer comentários sobre o alter egode Mignone, "Chico Bororó", além de aspectos pouco lembrados de sua relação com Mário de Andrade. Creio que os demais planejem um testemunho mais espontâneo, o que nos deixa ainda mais curiosos. O convite para que você desempenhe o papel de moderador surgiu por alguma razão particular? Em sua carreira profissional, existe ou existiu uma relação com Francisco Mignone? Bom, talvez por me dedicar intensamente à pesquisa sobre a música brasileira, ou por ter atuado nos últimos anos como Coordenador da Linha de Pesquisa "História e Documentação da Música Brasileira e Ibero-americana" do nosso Programa de Pós-Graduação. De fato encarei a organização desta mesa como um trabalho musicológico, no sentido de reunir e fazer dialogar importantes "fontes primárias" sobre o compositor, felizmente também colegas de profissão que muito gentilmente acederam ao nosso convite. Não poderia deixar de mencionar, porém, que Mignone teve um papel muito importante na minha formação como pianista, embora não o tenha conhecido pessoalmente. É que meu professor Heitor Alimonda sempre insistiu para que tocássemos muita música brasileira, Villa-Lobos, Guarnieri, Santoro e, talvez até um pouco mais que todos esses, Mignone. Se orgulhava muito da Sonatinan.o 3 ter sido dedicada a ele, essa todos tínhamos de tocar. Estudei com ele também a Sonata de 1941, que cheguei a tocar em um dos Festivais Mignone organizados pela Maria Josephina. A relação é dupla então, como musicólogo e como pianista. Que outro aspecto importante você destaca nesta mesa-redonda? O mais importante, acredito, é homenagear este grande compositor brasileiro, que aliás foi também um notável professor da nossa Escola, apresentando sua obra às novas gerações e reafirmando assim seu lugar na história da música brasileira. Não tenho dúvidas que nossa mesa, ao lado dos concertos comemorativos dos 168 anos da Escola de Música, é um passo exatamente nesse sentido.