Concertos UFRJ: o Renascimento na música

A produção musical renascentista é a atração desta semana de Concertos UFRJ ? programa radiofônico resultado de uma parceria da Escola de Música (EM) com a Roquette Pinto. Em destaque obras dos mais importantes compositores italianos, franceses e ingleses do período. Com produção e apresentação de André Cardoso, docente da EM, a série vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94,1 FM.

 

Marcado por transformações culturais, sociais e econômicas profundas, o chamado renascimento rompe com o pensamento teocrático da Idade Média e encaminha as artes para ideais humanistas e racionalistas. Tendo por base modelos e ideais estéticos da Antiguidade Clássica, os esforços de pensadores, artistas e escritores redimensionarão o entendimento do mundo, através da revalorização do homem e de suas capacidades intelectuais,

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Ouça aqui o programa: 

Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.
      

Surge a imprensa em tipos móveis, inventada por Johannes Gutemberg (1398-1468), em 1439, acontece a expansão marítima com as grandes navegações, que culminam com a descoberta das Américas, em 1492, o alargamento sem precedentes do conhecimento através da valorização da ciência, e se plasma a sociedade europeia. Época de artistas extraordinários, do quilate de Leonardo Da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-1564) e William Shakespeare (1564-1616), para lembrar em alguns poucos.

 

Renascença Italiana

 

A música, predominantemente vocal e sacra, também sofreu o impacto dessas transformações. O compositor que melhor representa a produção sacra do período, Giovani Pierluigi da Palestrina, viveu entre 1526 e 1594, e é o maior representante da chamada Escola Romana, tendo sido maestro de capela da Capela Papal de São Pedro. De Palestrina, o programa apresentou dois motetos: “Pecantem me quotidie” e “Exultate Deo”, na interpretação do Coro da Abadia de Westminster e a direção de Stephen Cleobury.

 

Outro compositor italiano importante Carlo Gesualdo, nasceu na região de Nápoles, já no final da Renascença, e se caracteriza por uma música intensamente expressiva e cromática. De Gesualdo “Concertos UFRJ” destacaram o moteto “Ave Dulcissima Maria” com o Coro Monteverdi e a direção de John Elliot Gardiner.

 

Além do repertório sacro, diferentes formas musicais profanas ganharam relevo como reflexo desta nova visão de mundo. O moteto abriu espaço para a frottola e o madrigal, de origens italianas, a chanson francesa, o villancico espanhol e o lied alemão. O compositor Orlando de Lassus foi um dos mais importantes expoentes da escola franco-flamenga de seu tempo. Nascido nos Países-Baixos, em região hoje pertencente à Bélgica, em 1532 Lassus passou a viver na Itália, nas cidades de Nápoles e Roma. Após um breve retorno à terra natal, Lassus se estabeleceu definitivamente na cidade de Munique, onde impulsionou a cena musical da corte do Duque Albrecht V, tornando-a uma das mais pujantes da Europa.

 

Seu estilo era absolutamente eclético e deixou obras sacras e profanas onde constam missas, motetos, madrigais, chansons e lieder, com textos em latim, italiano, francês e alemão. De Orlando de Lassus, o programa pinçou o conhecido madrigal “Bem Convenne” com o Conjunto Vocal Alsfelder e a direção de Wolfgang Helbich.

 

Renascença Francesa

 

A França também foi palco das transformações que impactaram o perído. Compositores como Clement Janequin e Claudin de Sermisy influenciaram profundamente a escrita da época. Janequin viveu entre 1485 e 1558 e escreveu chansons que se caracterizan pelo humor, sensualidade e a imitação da natureza. Sermisy que nasceu na região da Borgonha e viveu entre 1490 e 1562, criou tanto música sacra quanto secular. Suas chansons se caracterizam pela influência italiana e por uma composição básica a quatro vozes sobre textos de poetas contemporâneos que falam sobre o amor e a natureza. De Janequin foi apresentada “Qu'est-ce d'amour” e de Sermisy a chanson “Le content est riche”, as duas com o Ensemble Clement Janequin.

 

Um clássico da chanson francesa interpretada por inúmeros coros ao redor do mundo “Il est bel et bom” é obra do compositor Pierre Passereau, que viveu entre 1509 e 1547, e evidencia um caráter popular marcado por onomatopeias e repetição de sílabas. A versão, mais uma vez, foi a do Ensemble Clement Janequin.

 

Por fim, uma peça de Guillaume Costeley, já do final do período. A chanson “La prise de Calais” se enquadra na categoria das canções de batalha, no estilo de Janequin, com a alternância das métricas binárias e ternárias, o que dá a obra uma grande vivacidade rítmica. Novamente a criação foi a do Ensemble Clement Janequin.

 

Renascença Inglesa

 

Em 1601, Thomas Morley organizou uma coletânea em honra a Rainha Elizabeth I, que recebeu o título de “Os Triunfos de Oriana”. São madrigais de 23 compositores, todos terminados com os mesmos versos “Depois cantaram os pastores e as ninfas de Diana / Longa vida para a bela Oriana”. Oriana, ou mais frequentemente Gloriana, era como os ingleses chamavam a rainha. Desta importante coleção, foram ao ar os madrigais de Thomas Morley, John Farmer, John Wilbye e Thomas Hunt com o conjunto Pro Cantione Antiqua.

 

Música Instrumental

 

A Renascença também assinalou um crescente interesse pela música instrumental. Boa parte deste repertório original, porém, não sobreviveu. Praticado de memória ou improvisado, carecia de registro.

 

No entanto, era comum a transcrição do repertório vocal para os alaúdes e demais instrumentos de cordas dedilhadas como a guitarra, a cítara e a vihuela. A escrita para conjuntos maiores acabou facilitada pelo desenvolvimento de famílias de instrumentos abrangendo diferentes tessituras, conhecidas pela denominação inglesa “consorts”.

 

Desta interessante produção, o programa destacou o “Ricercare”, do compositor italiano Anibale Padovano, o Kanon sobre “Christe der du bist Tag und Licht” para conjunto de violas e flautas, do alemão Mártin Agricola, e a “Canzona in setimi toni”, obra característica da Escola Veneziana e de seu mais importante representante, o compositor Giovani Gabrielli que viveu entre 1556 e 1613, já no alvorecer do barroco. A interpretação ficou a cargo do Ensemble Musica Antiqua de Viena.

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As edições dde Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast, audio sob demanda, da rádio Roquette Pinto. Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..