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Gianni Schicchi, de Puccini

A última edição de maio de Concertos UFRJ apresentou a integral de "Gianni Schicchi" - ópera cômica de Giacomo Puccini. Parceria da EM com a rádio Roquette Pinto, a série Concertos UFRJ é veiculada toda segunda-feira, às 22h, pela emissora, na sintonia 94,1 FM, e conta com a produção e apresentação de André Cardoso, docente da Escola de Música (EM) e regente titular da Orquestra Sinfônica da UFRJ (OSUFRJ).

 

podcast

Ouça aqui o programa: 

Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.
«Quel folletto è Gianni Schicchi,
e va rabbioso altrui così conciando».
(....)

Ed elli a me: «Quell'è l'anima antica
di Mirra scellerata, che divenne
al padre fuor del dritto amore amica.

Questa a peccar con esso così venne,
falsificando sé in altrui forma,
come l'altro che là sen va, sostenne,

per guadagnar la donna de la torma,
falsificare in sé Buoso Donati,
testando e dando al testamento norma».

 

La Divina Commedia – Inferno – Canto XXX
Dante Alighieri

Gianni Schicchi é uma ópera em um ato, com duração de pouco mais que meia hora,  escrita por Puccini a partir de libreto de Giovacchino Forzano e baseada numa pasagem do Canto XXX do Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri. É, na verdade, a única ópera cômica do compositor que a escreveu como parte de um Triptico,  um conjunto de três óperas em um ato concebidas para serem apresentadas em seqüência. Schicchi é precedida pela tragédia Il Tabarro (O Capote) e pelo drama Suor Angelica. A não ser pelo tema da morte – abordado de maneira muito diferente em cada uma delas –, não não parece haver ponto mais forte de união entre as obras. Gianni Schicchi estreiou no Metropolitan Opera House de Nova Yorque, assim como as demais do triptico, em 14 de dezembro de 1919.

 

Dante Alighieri, o autor da Divina Comédia, colocou os seus inimigos políticos e pessoais no Inferno. Entre os maiores desafetos do poeta estava Gianni Schicchi, cidadão de Florença, que teria falsificado o testamento de Buoso Donati (Dante era casado com Gemma Donati, um membro dessa família), deixando a maior parte dos bens de Buoso, que morreu a 1o de setembro de 1299, dia em que se passa a ação da ópera, para a família Schicchi. Lançado pelo poeta na última vala do Oitavo Círculo do Inferno, local confinado aos falsificadores, seiscentos anos depois, Puccini foi buscá-lo. Sua irônica proposta: provar que, afinal de contas, Gianni Schicchi não merecia o destino que Dante lhe havia reservado.

 

Há duas versões para os acontecimentos que acabaram por conduzir Schicchi ao Inferno. A primeira delas é que, tendo morrido Buoso Donati, um rico patrício florentino, seu primo Simone, muito preocupado porque o falecido havia deixado muito mais para a Igreja do que para os parentes, escondeu o acontecido e contratou o finório Schicchi para substituir o morto na cama e ditar novo testamento. Em reconhecimento, Simone Donati, que muitos dizem ter sido não primo, mas filho do falecido, teria dado ao impostor a melhor égua do estábulo que herdara. A segunda versão – adotada integralmente na ópera de Puccini – é que, uma vez tendo escondido o cadáver, Schicchi entrou no leito, fingiu-se de moribundo, mandou chamar o testamenteiro e legou a maior parte dos bens de Buoso Donati para si mesmo, incluindo a égua, que alguns afirmam que era, na verdade, uma mula. Simone nada pode reclamar, uma vez que era cúmplice do crime – gravíssimo – de falsificação.

 

Gianni Schicchi é prova da profunda capacidade criativa de Puccini. Apesar de ter forjado seu estilo, ao longo dos anos, nas óperas trágicas, o compositor não encontra dificuldades em transitar para a comédia. A obra rende tributo ao melhor tradição italiana, mas sua roupagem é nova. A música de Schicchi é a do século XX, com sua própria personalidade, denunciada na energia dos ritmos incisivos e dos tempos quase sempre rápidos.

 

Grande parte do mérito pertence a Forzano.  Muito culto, cônscio da herança teatral italiana, o libretista forjou seus personagens nos antigos arquétipos da Commedia dell’Arte. Um dos aspectos mais divertidos é o da exposição dos antagonismos de classes. Os Donati, membros da antiga nobreza florentina, tratam Schicchi com desprezo, por ele ser um burguês oriundo do campo – “la gente nuova” –   em processo de ascensão econômica e social.  Aliás, nascido no seio de uma das mais tradicionais famílias florentinas, essa foi provavelmente uma razão adicional para Dante odiar o falsário.

 

A gravação do programa traz nos papéis principais um elenco de grandes cantores. O barítono Fernando Corena, como Gianni Schicchi, a soprano Renata Tebaldi, no papel de Lauretta, o tenor Agostino Lazzari, como Rinuccio e Lucia Danieli, como Zita. O coro e a Orquestra do Maggio Musicale Fiorentino são dirigidos por Lamberto Gardelli.

 

As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

Sinopse de Gianni Schicchi

 

Giacomo Puccini

Giovacchino Forzano, libreto

Personagens

CDGianniSchicchi

Gianni Schicchi , barítono
Lauretta, sua filha , soprano
Buoso Donati , morto, não canta
A velha Zita, prima de Buoso , contralto
Rinuccio, neto de Zita, noivo de Lauretta , tenor
Gherardo, sobrinho de Buoso , tenor
Nella, esposa de Gherardo , soprano
Gherardino, filho de Gherardo e de Nella , contralto
Betto di Segna , baixo
Simone , baixo
Marco , barítono
La Ciesca , mezzo-soprano
Mestre Spinelloccio, médico , baixo
Pinellino, sapateiro , baixo
Guccio, pintor de paredes , baixo

 

A ação se passa na casa do morto, em 1o de setembro de 1299.

 

Ato único

 

Florença, 1o de setembro de 1299. Buoso Donati acaba de morrer. Seus parentes, reunidos no quarto em torno do leito do defunto, choram lágrimas fingidas, cada um deles de olho na herança. O falecido é membro da alta burguesia, dono de moinhos e distribuidoras de farinha, fábricas de macarrão e panetone, padarias, etc., sendo as Indústrias Donati uma das empresas mais bem sucedidas de toda a Toscana. Em meio às preces fúnebres e aos prantos, cochicham nos ouvidos uns dos outros: "Ouviste o que dizem em Signa (onde estão situados os moinhos)? " "Parece que ele deixou todos os bens para os frades do convento de Santa Reparata." Este rumor causa alarme entre os membros da família. "Se o testamento já está no cartório," diz o velho Simone, "nada resta a fazer. Mas pode ser que ainda esteja neste quarto." Rebuliço, abrem gavetas, fuçam aqui, fuçam ali, até que Rinuccio, excitado, anuncia: "Achei! O testamento de Buoso Donati!" Fantasia que o tio pode tê-lo deixado rico, permitindo assim seu casamento com Lauretta, a filha de Gianni Schicchi. A leitura do testamento, porém, causa grande decepção entre os Donati. O falecido deixou quase tudo para os frades, e praticamente nada para eles, que começam a chorar - agora sim, lágrimas de verdade. Mas nem tudo está perdido, diz Rinuccio; há uma pessoa que pode nos ajudar. Quem? Gianni Schicchi. Mas ao ouvir tal nome, a velha Zita se enfurece - Nunca! Nunca vou permitir que meu neto se case com a filha desse cidadão, sem eira nem beira, sem dote nem nada, esse forasteiro que chega aqui em Florença e pensa que pode... Mas Rinuccio defende seu futuro sogro, dizendo que ele é um grande jurista, além de muito esperto, e que ele é um desses talentos que, vindos de outras partes, assim como Giotto, Arnolfo, ou os Medici, enriquecem a vida de Florença (Firenze è come un albero fiorito).

 

Chega Gianni Schicchi com sua filha Lauretta, e se põe a par da situação. Ele sabe que é detestado naquela casa, mas isto não quer dizer que tenham qualquer pejo em recorrer a ele, agora que estão em apuros. Lauretta, que está perdidamente apaixonada por Rinuccio, pede ao pai que faça algo pelos Donati. "Por essa gente?" diz ele. "Nada! Não faço absolutamente nada!" É então que Lauretta, canta sua célebre ária O mio babbino caro e consegue amolecer o coração do pai. Gianni expõe seu plano: já que ninguém fora daquela casa sabe que Buoso Donati morreu, que alguém vá à cidade avisar ao tabelião que a saúde do Sr. Donati piorou muito, e que este quer fazer seu testamento. Enquanto isto, o cadáver é escondido, e Gianni Schicchi, cuja semelhança física com o falecido é marcante, além de poder imitá-lo com perfeição com sua voz de falsetto, se põe no leito para a farsa. Assiste-se então a um espetáculo de ganância, sordidez e mesquinharia, quando cada um dos Donati tenta subornar Gianni Schicchi para poder ficar com a maior parte dos bens. Gianni adverte-os, porém, do risco que estão correndo: a pena para a falsificação de documentos na República de Florença é a amputação da mão e banimento perpétuo da cidade, tanto para o perpetrador do crime quanto para seus cúmplices. Addio Firenze, addio cielo divino, io ti saluto con questo moncherino... (Adeus, Florença, adeus céu divino, eu te saúdo com este toco de braço) canta ele, fazendo troça dos parentes.

 

Chega o notário, com as testemunhas do cartório. O farsante começa a ditar seu testamento. Alguns trocados para os frades, tudo bem. O dinheiro vivo que se encontra na casa, em partes iguais para os membros da família, tudo bem. Mas os Donati ficam estarrecidos quando ele deixa a mula, a casa, os moinhos e as empresas Donati para... "seu devoto amigo... Gianni Schicchi!" Após a retirada dos representantes da lei, há alvoroço na casa dos Donati - que agora é, legalmente, a casa de Gianni Schicchi. A casa é saqueada; roubam tudo que podem: as roupas de seda fina, as jóias, os objetos de arte, a prataria, até mesmo a mobília. Só os dois amantes, Rinuccio e Lauretta, alheios a tudo que se passa em torno deles, cantam seu pequeno dueto de amor.

 

Gianni Schicchi se levanta da cama, então, e pergunta ao auditório se o dinheiro de Buoso Donati poderia ter tido um fim melhor. "Se é opinião de Dante que eu deva ir parar no inferno, se vocês se divertiram, espero que tenham uma opinião melhor..."

Pro­gra­mação de Maio

 

Pro­grama 39 – Dia 02 de Maio – Es­pe­cial com o vio­lo­nista Jorge Ca­bal­lero (gra­vação ao vivo do con­certo rea­li­zado no Salão Leo­poldo Mi­guez em 12 de de­zembro de 2010)

 

Pro­grama 40 – Dia 9 de maio – Don Quixote na mú­sica (obras de Bois­mor­tier, Te­le­mann, Mas­senet e Ravel)


Pro­grama 41 – Dia 16 de maio – Grandes mes­tres da EM: obras do com­po­sitor Hen­rique Os­wald (1852-1931)

 

Pro­grama 42 – Dia 23 de maio – Mú­sica de câ­mara 2: obras de câ­mara para di­fe­rentes for­ma­ções

 

Pro­grama 43  – Dia 23 de maio – Ópera "Gianni Schicchi" de Puc­cini

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