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Palestra de Xavier Vatin discute gravações de Lorenzo Tuner na Bahia

Xavier Vatin, doutor em Antropologia Social pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, professor-associado na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e pesquisador associado do CNRS e da Université Lumière Lyon 2, na França, fala nesta sexta-feira (8) na Escola de Música. Sob o tema "Memórias Diaspóricas", aborda as gravações que o linguista afro-americano Lorenzo Turner (1890-1972) fez nos anos 1940 na Bahia. 

 Fotos: Reprodução
 
 
 Acima, Vatin tendo ao fundo foto tirada por Turner. Abaixo. Mãe Menininha (em destaque) e suas sacerdotisas no templo Ilé Axé Yá Masse, Salvador, Bahia, 1940-1941. Áudio, performace Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Mãe Menininha)

Marcada para as 18h, a palestra acontece na Sala 2114 do Prédio III (Edifício Ventura) e integra a série Música em Debate. O evento é uma iniciativa conjunta do Laboratório de Etnomusicologia, do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRJ (PPGM) e da Escola de Música. 

Xavier Vatin nasceu na França, mas está radicado na Bahia desde 1992,onde conviveu com o antropólogo Pierre Verger, de quem foi discípulo. O pesquisador tem mais de 20 anos de estudos de cultura africana; no entanto, tomou contato com as 52 horas de gravações feitas pelo linguista norte-americano Lorenzo Turner entre 1940 e 1941, em sua passagem pela Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e Mato Grosso, quando consultava o acervo de gravações antropológicas da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Na época fazia pós-doutorado naquela instituição e desconhecia o trabalho de Tuner – neto de escravos e o primeiro linguista negro a se formar em Harvard. 

Turner acompanhou de perto o povo gullah, grupo de descendentes de escravos africanos, que por décadas permaneceu isolado entre a Carolina do Sul e a Geórgia. Ao contrário da maioria dos negros americanos, eles haviam conservado traços culturais africanos significativos na língua, culinária, medicina tradicional e religião. 

Outros pesquisadores viam no dialeto gullah um mero "baby talk" — um inglês mal falado e modificado —, mas o levantamento de Turner, no entanto, identificou cinco mil palavras africanas no vocabulário. Uma prova, segundo ele, de que ainda se falava creole nos Estados Unidos. No entanto, o que despertou mais o interesse do etnomusicólogo foi o acervo coletado por Turner na Bahia sob condições bastante difíceis. A tecnologia usada era cara e literalmente pesada: os equipamentos e discos de alumínio que guardavam as gravações totalizavam cerca de 250 quilos, um obstáculo a mais para quem viajava em navio a vapor.

Bahia

 
Foto: Reprodução
 
 Retrato do linguista Lorenzo Turner em 1929.

Tuner desembarcou a Salvador em sete de setembro de 1940, após ter sido ciceroneado no Rio de Janeiro por ninguém menos que Mário de Andrade - poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista e um do expoentes dos modernismo brasileiro. Seu projeto consiste em gravar e estudar as línguas africanas faladas e cantadas nos candomblés da Bahia (yoruba, fon, kikongo, kimbundu, entre outras) no intuito de compará-las com aquilo que registrou na década de 1930 entre os gullah. O objetivo do linguista era comprovar a preservação de um fundo linguístico oeste-africano em locais e comunidades peculiares da diáspora africana nas Américas.

 

Dois anos antes das gravações do antropólogo Melville J. Herskovits e seis anos antes da chegada de Pierre Verger na Bahia, Lorenzo Turner, ao longo de sete meses de pesquisas intensivas realizadas em Salvador e no Recôncavo, grava, registra e fotografa os mais eminentes sacerdotes e sacerdotisas dos candomblés da época: Martiniano do Bonfim, Menininha do Gantois, Joãozinho da Goméia, Manoel Falefá, entre outros. O acervo extraordinário e inédito coletado por Lorenzo Turner na Bahia representa um total de 17 horas (350 discos, quase todos realizados no estúdio de uma rádio da Bahia) de gravações linguísticas e musicais, além de fotografias, anotações de campo, correspondências e transcrições linguísticas.

Martiniano do Bonfim, que tinha vivido cerca de uma década em Lagos, na Nigéria, e, mais surpreendentemente, Mãe Menininha do Gantois, que nunca tinha ido à África, falam e conversam fluentemente em yoruba nas gravações de Turner. Quanto ao conteúdo musical, Turner gravou centenas de cantigas assim como todos os toques percussivos do candomblé, com os iniciados e alabês mais respeitados da época. As gravações de Lorenzo Turner constituem a única prova material de que línguas africanas ainda eram faladas no dia-a-dia do povo-de-santo da Bahia até a década de 1940 além de manter intactas cantigas e rezas antigas do candomblé, nas vozes de figuras históricas da cultura afro-brasileira, ilustres representantes daquilo que a diáspora africana nas Américas tem produzido de mais belo e fascinante. 

SERVIÇO
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Correspondência

Escola de Música da UFRJ
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21o andar, Torre Leste
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