176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Da Bienal de Música Contemporânea para as salas de aula

Foram sessenta e seis as obras apresentadas na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea, realizada entre os dias 10 e 19 de outubro de 2015. No repertório, das obras selecionadas, premiadas e exibidas ao público, parte delas apresentou estilos tradicionais, já conhecidos do público. Outras expuseram ao público novas propostas estéticas e algumas fizeram com que o ato da escuta levasse parte do público à contemplação ou mesmo despertaram um alto grau de perplexidade.

 

  Foto: Rafael Reigoto
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  Da esq. para dir, professores Pauxy Gentil-Nunes e  Marcos Vinicio Nogueira.
Em uma época na qual a interatividade se tornou uma exigência, é curioso notar que grande parte das obras apresentadas na Bienal mantém um distanciamento entre o que ocorre no palco e na plateia. Talvez isso se deva ao fato de que, como salientado pelo professor Marcos Nogueira, o público desses eventos é, “normalmente, composto, em quase sua totalidade, por músicos intérpretes e compositores, além de pessoas relacionadas ao meio musical, que estão habituados com os padrões expressivos desse tipo de mostra musical”. O que parece corroborar este fato é a relação direta que esse repertório tem com a pesquisa acadêmica das universidades brasileiras, que tem dado mais ênfase a questões estéticas e desenvolvimentos técnicos.

 

Por entender a importância do debate sobre as questões suscitadas pela produção apresentada na Bienal de Música Brasileira Contemporânea, a Linha de Pesquisa Poéticas da Criação Musical, coordenada pelo professor Liduíno Pitombeira, ofereceu, neste semestre aos alunos do curso de doutorado da Escola de Música da UFRJ, a disciplina Gesto, Imagem e Sonoridade, para transmissão e compreensão das técnicas e teorias empregadas por parte significativa daquela produção. E para efetivação desta proposta, foi estabelecida uma parceria entre docentes-pesquisadores que fazem parte de departamentos de composição de três diferentes universidades federais, a UFRJ (Rio de Janeiro), a UFBA (Bahia) e a UFPB (Paraíba): Didier Guigue, Marcos Nogueira, Paulo Costa Lima, Pauxy Gentil Nunes e Rodolfo Caeser.

 

A ementa trata “da apreensão de vários estudos e investigações sobre a análise musical para além da nota”, explica Pauxy Gentil Nunes, Coordenador do Programa de Pós-Graduação da Escola de Música e criador da disciplina. Diferente das análises musicais tradicionais que trabalham com o conceito de nota como elemento básico da harmonia e melodia, o gesto, a imagem e a sonoridade são conceitos criados para formação de um campo de estudos e pesquisas ainda em desenvolvimento em centros de estudos no mundo todo. Neste campo são submetidos à observação as propostas analíticasque não fazem da nota o seu elemento primordial ou que não usam notas em suas estruturas. É o que acontece, por exemplo, em parte do repertório eletroacústicoou ainda em músicas que, mesmo utilizando“notas”, estas não se destacam como elemento organizador global, compondo “texturas” e “gestos”

 

Em termos gerais, a maior parte da música de concerto advinda destas técnicas é, evidentemente, composta atualmente e, como tal, ela é, nas palavras do Professor Pauxy, “uma música que fala de algo que ainda não é consenso, sobre questões que não estão fechadas”. Diferente da música tradicional, ela expõe ao publico uma série de novas propostas, como que convidando parte do público a travar contato com algo que ainda desconhece. Daí, talvez, a justificativa de que para algumas pessoas a música inserida nas técnicas e teorias “para além da nota” provoque um estranhamento. A esta elucidação pode também se acrescentar a observação

 

No que se relaciona à representação artística do gesto, nos processos criativos da área de composição musical, o gesto é uma metáfora. E assim sendo, o gesto musical é uma unidade que provém do movimento, seja este movimento vocal, corporal ou qualquer forma de gesto que se configure como sinal de expressão na música. E isso faz com que o gesto musical seja utilizado nas situações concernentes ao movimento, que, às vezes, é realizado musicalmente por recursos sonoros tradicionais, com “notas musicais”, e outras vezes composto por sons menos apreensíveis e memorizáveis.

 

Quanto à ligação da imagem com a experiência musical, o marco desses estudos situa-se na metade do século XX, quando houve o entendimento de que era possível conhecer com precisão as características do som ou ruído, e a este entendimento somou-se o de que seria possível reproduzi- los sinteticamente, sem necessidade de representações gráficas para mediações, como a partitura. A partir disso, a música eletroacústica desenvolveu-se e as pessoas passaram a ouvir uma música que não dependia mais da imagem e do gesto em performance. Então, quando as pessoas perceberam que a música se realizava sem a ação do corpo foi que, ironicamente, surgiu um novo interesse pela imagem e pelo gesto, reconhecendo-se o truísmo: a música sempre foi muito visual, sempre também se ouviu com os olhos.

 

Mas não se pode perder de vista, nem deixar de destacar, que a produção da Bienal de Música Brasileira Contemporânea não diz respeito apenas à produção de pósgraduação da Escola de Música da UFRJ e de programas de outras universidades. Alexandre Schubert, coordenador dos cursos de graduação em Composição e Regência da Escola, juntou-se a Liduino Pitombeira e Pauxy Gentil Nunes no quadro de compositores que receberam o Prêmio FUNARTE de Composição Clássica 2014 e tiveram suas obras apresentadas no evento deste ano. Além disso, registra- -se a atuação como intérpretes de muitos outros docentes, alunos e ex-alunos da Escola, o que representa uma notável participação da Instituição neste que é o principal evento nacional dedicado à música de concerto brasileira contemporânea. Enfim, a Bienal é um vasto panorama de tudo aquilo que se discute e se transmite conceitualmente na Escola de Música da UFRJ.

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