Em sua quarta edição, o Festival de Música Antiga da UFRJ celebra os 300 anos de nascimento dos compositores Carl Philipp Emanuel Bach e Christoph Willibald Gluck, ao mesmo tempo que presta homenagem a Jean-Philippe Rameau, falecido há 250 anos. O evento, que acontece de 12 a 16 de maio na Escola de Música da UFRJ e no Palácio São Clemente do Consulado Geral de Portugal, oferece concertos, oficinas, workshop e mesa-redonda.
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788) e Christoph Willibald Gluck (1714-1787) escreveram suas obras mais importantes em meados do séc. XVIII. Momento de transição entre o Barroco, que já dava mostra de esgotamento, e o Classicismo nascente. Marcadas ainda pelas características estilísticas da escritura barroca alemã e italiana, elas apresentam inovações no tratamento da melodia e da harmonia, bem como recursos novos de instrumentação. "Dinâmicas poderosas e ornamentações limpas e elegantes", como destaca Patrícia Michelini, docente da Escola de Música e organizadora do evento.
Foto: Ana Liao | |
Patrícia Michelini, coordenadora do Festival. | |
Como participar?
Para se inscrever na Oficina de Dança Barroca (Profª Raquel Aranha), na Oficina de Regência Coral aplicada ao repertório histórico (Profº Carlos Eduardo Vieira) e no Workshop Realização de baixo contínuo ao violão, alaúde e teorba (Profª Silvana Scarinci) preencha a ficha disponível no link respectivo e envie para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Inscritos na Oficina de Regência Coral podem baixar as partituras das obras que serão trabalhadas. | |
Se Philipp Emanuel, o segundo filho de J. S. Bach, se destacou por sua produção instrumental, Gluck acabou mais conhecido pela movimento de reforma da ópera que encabeçou. Uma concepção que privilegia a ação e a construção psicológica das personagens. Danças irrelevantes, música de diversão e a ornamentação das árias são sacrificadas, ao mesmo tempo que a abertura ganha um sentido dramático mais forte e mais integrado ao conjunto da trama.
Concertos
O público poderá apreciar uma boa amostra da obra de Gluck e Emanuel logo no concerto de abertura do Festival, no dia 12 de maio. Sob a batuta do maestro Tobias Volkman, solistas, a OSUFRJ e o Coro Sinfônico da UFRJ apresentam no Salão Leopoldo Miguez da UFRJ o Magnificat WQ 215, peça marcante de Emanuel Bach, embora pouco executada entre nós. Ainda no programa, entre outras atrações, a famosa Abertura e Dança dos Espíritos, de Orfeo e Euridice – ópera de Gluck que, ao lado das últimas obras-primas de Mozart, é uma das mais importantes produções do gênero no séc. XVIII.
Segundo Michelini, no Magnificat é possível reconhecer a influência de J. S. Bach, sobretudo nas partes contrapontistas, assim como de Vivaldi. No entanto, como observa a docente, uma audição mais atenta percebe tensões inovadoras e uma preocupação em expressar de forma mais enfática mudanças de humor e sentimentos. "Essa representação não será, afirma, dos sentimentos comuns, convencionalmente identificados, como no Barroco, e sim daqueles próprios do compositor, que deverá espelhar a si mesmo na música".
Fotos: Ana Liao/Divulgação | |
ACima, Clara Albuquerque e Eduardo Monteiro. Abaixo, Raquel Aranha e Silvana Scarinci. |
Apaixonado pela música e aluno de Quantz, Frederico foi flautista e compositor amador. Os embates militares em que se viu envolvido, entre eles a devastadora Guerra dos Sete Anos contra as principais potencias europeias do seu tempo, não o impediram de devolver a Berlim o lugar de destaque que havia perdido no cenário musical.
Já o terceiro concerto, no dia 15, aborda a obra de Rameau e sua época. Jean-Philippe Rameau (1682-1764) foi o último grande compositor do barroco francês e deu continuidade à tradição inaugurada por Jean-Baptiste Lully. Entretanto, como faz questão de lembrar Patricia Michelini, escreveu também importantes tratados sobre harmonia, que exerceram enorme influência.
No programa, duas cantatas para baixo acompanhadas de violinos, pouco apresentadas no Brasil, dão uma amostragem da sua música vocal. O concerto segue com uma suíte de danças de Marin Marais, gambista e discípulo de Lully de quem frequentemente regia as óperas. "As danças são presença obrigatória nas óperas de Rameau e de seus predecessores", chama atenção a professora. Completa o programa uma breve seleção de obras de compositores portugueses do Barroco, demonstrando que a nova harmonia de Rameau foi absorvida e cultivada por lá.
Encerrando a série, o dia 16 será dedicado à música de câmara do período galante. Laura Rónai (flauta), Felipe Prazeres (violino), Gretel Paganini (violoncelo) e Eduardo Antonello (cravo) apresentam obras deGluck, Quantz, Emanuel e Johann Christian Bach, permitindo ao público conhecer obras de dois filhos do mestre alemão e de compositores que atuaram no mesmo período.
Oficinas, workshop e mesa redonda
Se os concertos são, para o público em geral, a grande atração, outras atividades marcam a dimensão acadêmica do evento.
Oficinas. Raquel Aranha, violinista e especialista em dança Barroca, oferece oficina sobre a linguagem escrita e textual da dança do período barroco, com ênfase no Minuto. Ao contrário das danças medievais e renascentistas, mais populares e democráticas, a dança francesa do período acabaria por informar o balé de corte. Já Carlos Eduardo Vieira, professor da Universidade do Alabama (EUA), ministra curso sobre o repertório dos séculos XVI a XVIII. Seja como membro do madrigal, seja como regente, o propósito é fazer com que o estudante conheça aspectos chaves de performance coral, como tempo, fraseado, pronúncia, dicção e compreensão da escrita.
Workshop. A professora da UFPR, Slvana Scarinci realiza workshop que dá a oportunidade, a estudantes de violão e alaúde, de aperfeiçoar a realização do baixo cifrado em acompanhamento a cantores e instrumentistas. Uma abordagem eminentemente prática que pretende estabelecer um caminho funcional para a compreensão desta prática.
Mesa-Redonda. Composta por Paulo Peloso (UFRJ), Slvana Scarinci (UFPR), Veruschka Mainhard (UFRJ) e mediada por Clara Fernandes Albuquerque (UFRJ), mesa-redonda discute, no dia 14, aspectos do estilo e da performance da ópera barroca. "Do maior interesse aos cantores, afirma Patrícia Michelini, já que inúmeras questões de interpretação surgem ao se deparar com este repertório, a mesa é oportuna a todos que se interessam por ópera e pelas correntes nacionalistas presentes na música barroca".
SERVIÇO
Salão Leopoldo Miguez da UFRJ, Rua do Passeio 98 – Centro. Palácio São Clemente do Consulado Geral de Portugal, Rua São Clemente 424 – Botafogo.
Programação do IV Festival de Música Antiga
Celebrando Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788), Christoph Willibald Gluck (1714-1787)
e Jean-Philippe Rameau (1682-1764)
DIA | HORA | EVENTO | LOCAL |
2ª feira 12/05 | 13h30 às 15h | Oficina: Dança Barroca Raquel Aranha | Sala da Congregação |
15h30 às 17h | Oficina: Regência Coral aplicada ao repertório histórico Carlos Eduardo Vieira | Sala da Congregação | |
19h | Concerto de abertura Obras de Ch. W. Gluck, N. Jommelli e C. Ph. E. Bach
Solistas, Coro e Orquestra Sinfônica da UFRJ Regente: Tobias Volkmann | Salão Leopoldo Miguez | |
3ª feira 13/05 | 13h30 às 15h | Oficina: Dança Barroca Raquel Aranha | Salão Leopoldo Miguez |
15h30 às 17h | Oficina: Regência Coral aplicada ao repertório histórico Carlos Eduardo Vieira | Salão Leopoldo Miguez | |
19h | Concerto Entre flautas e canhões - Os Bach na Corte de Frederico, o Grande, Rei da Prússia (1712-1786)
Eduardo Monteiro (flauta) e Clara Albuquerque (cravo) | Salão Leopoldo Miguez | |
4ª feira 14/05 | 13h30 às 15h | Oficina: Dança Barroca Raquel Aranha | Salão Leopoldo Miguez |
15h30 às 17h | Oficina: Regência Coral aplicada ao repertório histórico Carlos Eduardo Vieira | Salão Leopoldo Miguez | |
18h | Workshop: Realização de baixo contínuo ao violão, alaúde e teorba Silvana Scarinci | Sala da Congregação | |
5ª feira 15/05 | 14h | Mesa: Estilo e performance em árias e óperas barrocas Palestrantes: Paulo Peloso (UFRJ), Silvana Scarinci (UFPR), Veruschka Mainhard (UFRJ) Mediadora: Clara Fernandes Albuquerque (UFRJ) | Sala da Congregação |
19h30 | Concerto Rameau e o Barroco Europeu
Carlos Eduardo Vieira (barítono), Raquel Aranha (violino), Roger Lagr (violino), Pedro Novaes (flauta doce), Patricia Michelini (flauta doce), Eduardo Antonello (cravo), Silvana Scarinci (teorba), Kristina Augustin (viola da gamba). | Palácio São Clemente | |
6ª feira 16/05 | 16h30 | Apresentação de Dança Barroca e Regência Coral | Salão Leopoldo Miguez |
19h | Concerto de Encerramento Música de Câmara do Período Galante
Felipe Prazeres (violino), Laura Rónai (flauta), Eduardo Antonello (cravo), Gretel Paganini (violoncelo) | Salão Leopoldo Miguez |
Oficinas e Workshop
Oficina: Dança Barroca, com Raquel Aranha
Dias 12, 13 e 14/05 (13h30 às 15h)
Pretende-se fazer uma introdução à linguagem escrita e gestual das danças que compõem as suítes francesas. A oficina abordará o Minueto, uma das principais danças da corte e do repertório instrumental. Serão estudados passos e movimentos de mãos e braços que caracterizam o estilo barroco na dança, descritos em tratados e coreografias da época.
Oficina: Regência Coral aplicada ao repertório histórico, com Carlos Eduardo Vieira
Dias 12, 13 e 14 (15h30 às 17h)
Esta oficina pretende discutir características inerentes à regência do repertório coral de música antiga. Um madrigal interpretará peças importantes do repertório da renascença e do barroco sob a regência de alunos. O ambiente de ensaio se transformará em um laboratório no qual técnicas de ensaio e didática, técnicas de regência, linguagem facial e corporal, interpretação, fraseado, articulação, tempo, métrica, técnica vocal e dicção serão discutidos a partir das particularidades de cada partitura e das necessidades dos alunos de regência e do coro. Ao final do curso, o grupo apresentará o repertório trabalhado com o objetivo de alcançar um resultado que dialogue com as tendências interpretativas da música historicamente informada.
Workshop: Realização de baixo contínuo ao violão, alaúde e teorba. Com Silvana Scarinci
Dia 14 (18h às 20h)
Neste workshop estudantes de violão, alaúde e teorba terão a oportunidade de vivenciar a realização do baixo cifrado para o acompanhamento de cantores e instrumentistas. Em uma abordagem essencialmente prática, os seguintes aspectos serão trabalhados: compreensão da notação de cifras, realização da linha do baixo, criação e condução da harmonia, princípios básicos para um bom acompanhamento. Cantores e instrumentistas com repertório do período barroco são bem vindos. |
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