176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Concertos UFRJ: 150 anos de Ernesto Nazareth

A edição desta semana de Concertos UFRJ comemora os 150 anos de nascimento de Ernesto Nazareth - um dos músicos brasileiros mais importantes. Definido por Mário de Andrade, expoente do nosso modernismo, como “dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace”, o compositor é figura fundamental na efervescente cena cultural da chamada Belle Époque carioca, como ficaram conhecidas os primeiros anos do século XX.

 

Filho de Vasco Lourenço da Silva Nazareth, despachante aduaneiro, e Carolina Augusta da Cunha, Ernesto Júlio de Nazareth nasceu na cidade do Rio de Janeiro, aos 20 de março de 1863 na Rua do Bom Jardim, atual Marques de Sapucaí, que ficava no Morro do Pinto, entre os bairros de Santo Cristo e Cidade Nova. Em 1874, após o falecimento de sua mãe e primeira professora de piano, passou a receber lições de Eduardo Rodolpho de Andrade Madeira, amigo da família, e, mais tarde, de Charles Lucièn Lambert, afamado professor negro, de New Orleans, radicado no Rio.

podcast

Ouça aqui o programa: 

Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.

 

Ernesto Nazareth viveu em um momento de grande efervescência política, de afirmação nacional e de incorporação criativa de formas musicais de curso internacional. Não por acaso seu nome está ligado ao chamado “tango brasileiro” de batidas diferentes do tradicional, e ao choro, que ganhara os primeiros adeptos ainda nas últimas décadas do Império. Suas inovações musicais refletem este clima de mudança e contribuíram para levar a música brasileira a extratos sociais que privilegiavam até então gêneros europeus, como a polca e a mazurca.

 

Em 1877, com apenas 14 anos, compôs sua primeira música, a polca-lundu “Você bem sabe”, editada no ano seguinte. Em 1881, a polca “Não caio n’outra!!!”, seu primeiro grande sucesso, que teve diversas reedições. Em 1893, o tango “Brejeiro” foi publicado pela Casa Vieira Machado e despertou enorme interesse, sendo republicado mais tarde na França e nos Estados Unidos. As primeiras gravações datam de 1902 com a Banda do Corpo de Bombeiros que, sob a regência de Anacleto de Medeiros, registrou o tango “Está Chumbado” ? considerado por Mário de Andrade uma obra prima “cuja rítmica é um pileque de expressividade impagável”. Outra gravação pioneira foi a de 1905 do cantor Marcos Pinheiro para “Brejeiro”, que com letra de Catulo da Paixão Cearense foi rebatizado com o título “O sertanejo enamorado”.

 

O piano foi, sem dúvida, o grande meio de expressão de Nazareth. O termo pejorativo “pianeiro”, pelo qual passou a ser conhecido, não faz justiça a um criador que soube conciliar as danças típicas de salão com ecos de Chopin, compositor admirado por ele, e que produziu uma obra absolutamente original e, em muitos casos, de grande dificuldade técnica.

 

Nazareth fez fama tocando nas salas de cinema da cidade, em bailes e cerimônias sociais. Como pianista do Odeon, atraiu personalidades ilustres que iam ao cinema apenas para ouvi-lo. Entre elas, Villa-Lobos, que dedicou a Nazareth o Choros nº 1, Arthur Rubinstein, e Darius Milhaud, secretário da embaixada francesa no Brasil durante 1ª Guerra Mundial, que encantado com sua música usou alguns temas de Nazareth no ballet “O Boi no Telhado” e na suíte “Saudades do Brasil”. Foi em homenagem à esta sala de exibição que o compositor escreveu sua obra mais famosa o conhecido tango “Odeon”.

 

Foto: Reprodução
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Nazareth no piano Sanzin que foi presenteado ao compositor por admiradores paulistas.
A influência do repertório para piano do romantismo europeu pode ser percebido em obras como “Adieu”, que Nazareth chamou de um romance sem palavras. Já as conexões com a música popular são evidentes pelo conteúdo musical, pelos títulos das suas obras e, como no caso de “Ameno Resedá”, que escreveu em 1913 em homenagem ao famoso rancho carnavalesco carioca, pelas referências culturais implícitas.

 

Em duas ocasiões Nazareth se apresentou no Instituto Nacional de Música, hoje Escola de Música da UFRJ. A primeira, em 1908, a convite do então diretor Alberto Nepomuceno. A segunda, em 1922, convidado pelo compositor Luciano Gallet, que no programa destacou que sua participação era uma forma de “conhecer o que é nosso”.

 

Em 1926 o compositor embarcou em uma turnê pelo estado de São Paulo que devido ao sucesso acabou se prolongando por onze meses.  Na capital, foi homenageado na Sociedade de Cultura Artística e no Teatro Municipal de São Paulo, com uma conferência de Mário de Andrade. Nela, Mário afirma que “muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações magistrais em que a força conceptiva, a boniteza da invenção melódica, a qualidade expressiva estão dignificadas por uma perfeição de forma e equilíbrio surpreendente”.

 

Nazareth realizou em 1932outra turnê de concertos, agora pelo Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. Em Montevidéu sofreu séria crise nervosa, que o obrigou a retornar. A gravidade do seu quadro neurológico em decorrência da sífilis fez com que fosse internado no Hospício D. Pedro II, onde funciona hoje o campus da Praia Vermelha da UFRJ, e, oito meses mais tarde, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. De lá fugiu em 1º de fevereiro de 1934, vindo a falecer, possivelmente no mesmo dia, afogado nas águas da represa que ainda existe na floresta que circundava o manicômio. Seu corpo foi encontrado no dia 4 e sepultado no dia seguinte, no Cemitério de São Francisco Xavier. O compositor tinha 70 anos.

 

Repertório da Edição

 

O programa apresentou a obra do compositor em quatro blocos. No primeiro, Artur Moreira Lima, um dos mais destacados interpretes de Nazareth, executa os tangos “Escovado”, “Carioca” e “Escorregando” e a valsa “Expansiva”. No segundo, o pianista interpreta os tangos “Odeon” e “Brejeiro” e a mazurca “Mercedes”. Em seguida Moreira Lima interpretou “Adieu” e Marcelo Prates, o “Ameno Resedá”.

 

Por último, a versão de Radamés Gnattali para “Fon-fon”, “Improviso”, “Pairando”, “Elegantíssima” e o famoso “Apanhei-te, cavaquinho”. A interpretação é do próprio Radamés e de Aida Gnattali em gravação original feita para a Rádio MEC em 1960.

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Parceria da Escola de Música (EM) com a rádio Roquette Pinto, a série Concertos UFRJ conta com a produção e apresentação de André Cardoso, docente da EM, e vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94,1 FM. As edições do programa podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast, audio sob demanda, da rádio Roquette Pinto. Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

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