176 ANOS FORMANDO MÚSICOS DE EXCELÊNCIA

Concertos UFRJ em ritmo de carnaval

O carnaval, a festa popular que arrasta corações e corpos de milhões de foliões pelo mundo afora, serviu também de fonte de inspiração para compositores de outros universos musicais, como mostra esta semana Concertos UFRJ – programa radiofônico, resultado de um convênio da UFRJ com a Roquette Pinto, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, docente da Escola de Música e regente titular da Orquetsra Sinfônica da UFRJ (OSUFRJ), a edição destacou obras de Berlioz, Dvorak, Saint-Saëns e Villa-Lobos.

 

O carnaval tem origem no estabelecimento, no século XI, da Semana Santa como um importante evento no calendário litúrgico da Igreja Católica. Ele antecipa os quarenta dias de jejum da Quaresma. Etimologicamente o termo deriva da expressão latina carnis valles: “carnis” significa carne e “valles” prazeres. Assim, “carnis vales” acabou por formar a palavra “carnaval”, que literalmente quer dizer prazeres da carne. O carnaval marca assim o período em que os prazeres da carne imperam, e que será suplantado, logo a seguir, pelo tempo da penitência, da meditação e do espírito, que se inicia com a Quarta-Feira de Cinzas.

podcast

Ouça aqui o programa: 

Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.

 

Apesar de marcado pelo imaginário cristão, o carnaval mergulha raízes numa longa tradição pagã que remonta aos cultos gregos de fertilidade do solo e às saturnais romanas, comemorações em honra do deus Saturno. No Renascimento, acabou ganhando também certo caráter aristocrático com bailes de máscaras, ricas fantasias e carros alegóricos. Mas o carnaval moderno toma forma no século XIX, tendo Paris como centro difusor. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam, em grande parte, no carnaval parisiense e veneziano, ao mesmo tempo que deram a ele contornos nacionais.

 

Ao longo dos séculos vários compositores escreveram obras inspiradas no carnaval. A primeira destacada pelo programa foi a célebre a Abertura Carnaval Romano op. 9, de Hector Berlioz (1803 -1869) - escrita em 1844 para servir de abertura à ópera Benvenuto Cellini e que acabou se tornando uma peça independente. O compositor utiliza materiais da ópera para estruturar a abertura. Após uma brilhante introdução, uma segunda parte apresenta o tema de amor entre Cellini e Teresa que desemboca na dança final: um saltarelo que sugere a alegria do Carvaval. A Abertura teve sucesso imediato e se tornou, desde então, uma das mais populares do compositor. A interpretação que foi ao ar é a da Orquestra de Montreal sob a regência de Charles Dutoit.

 

O compositor tcheco Antonin Dvorak (1841 – 1904) foi outro que criou uma abertura com base no carnaval. Com o título original de “Carnaval na Boêmia”, foi escrita em 1892 como parte de uma trilogia que celebraria a natureza, a vida e o amor. A Abertura Carnaval, como passou a ser conhecida, ilustra o turbilhão alegre da festa que explode numa espécie de apoteose com toda a orquestra brilhando em uma das obras mais executadas de Dvorak. A versão veiculada foi a da Orquestra Filarmonia com direção de Carlo Maria Giulini.

 

O compositor francês Camille Saint-Saëns (1836 – 1921) desenvolveu uma dupla carreira de concertista e compositor. Como pianista percorreu diversos países, inclusive o Brasil, em recitais onde incluía, além do repertório já consagrado, suas próprias composições. O Carnaval dos Animais é uma de suas obras mais populares e se insere no terreno das paródias musicais.

 

Saint-Saëns criou a obra em 1886 e a ela deu o subtítulo de “Grande fantasia zoológica”. Os sucessivos números representam diferentes animais e, beirando o pasticcio, fazem alusão ou tomam emprestado matéria musical de compositores como Offenbach (Orfeu no Inferno), Berlioz (a “Dança das Sílfides” de “A Danação de Fausto”), Mendelssohn (o Sherzo de “Sonho de uma noite de verão”) e Rossini (a ária de Rosina de “O barbeiro de Sevilha”).

 

O número mais famoso da série, e que ganhou independência, é “O cisne”, um solo de violoncelo que se desenvolve languidamente sobre o acompanhamento arpejado dos pianos e que o compositor alcunhou de uma “nobre bobagem”. O Finale encerra a obra como uma espécie de grande desfile carnavalesco de toda a bicharada.

 

Uma curiosidade. Com exceção desta parte, Saint-Saëns não permitiu que o resto da partitura fosse publicada em vida temendo que comprometesse sua carreira. A edição apresentou a interpretação da Orquestra Sinfônica da Rádio e TV de São Petersburgo sob a direção de Stanislav Gorkovenko.

 

Por fim, não podia faltar uma pitada de tempero brasileiro nesta edição de Concertos UFRJ dedicada ao carnaval. A obra escolhida, Momoprecoce, é uma peça de fôlego escrita para piano orquestra em 1929 por Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) – ele mesmo um folião contumaz - e dedicada à grande pianista Magdalena Tagliaferro, então radicada na França. Baseada em reaproveitamento de materiais de “Carnaval das Crianças”, também de Villa-Lobos, os vários movimentos são encadeados por ligações da orquestra. Um deles utiliza o famoso tema do Zé Pereira (E viva o Zé Pereira./ Pois a ninguém faz mal / E viva a bebedeira / Nos dias de Carnaval), versão para o português de um música burlesca francesa que se transformaria no final do séc. XIX em um dos nossos mais famosos hinos carnavalescos. A obra encerra com o movimento intitulado “Folia de um bloco infantil”. A interpretação é da pianista brasileira Cristina Ortiz acompanhada pela New Philharmonia Orchestra sob a regência de Vladimir Ashchenazy.

 

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As edições do programa Concertos UFRJ podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1). Contatos através do endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

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