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Trilhas sonoras brasileiras em Concertos UFRJ

A edição passada de Concertos UFRJ abordou a música para o cinema, com destaque para peças Gershwin e Prokofiev incluídas em trilhas sonoras de obras famosas. Nesta semana a atração é a música de concerto brasileira composta para as telas. No programa, duas suítes construídas a partir de trilhas anteriores: "Descobrimento do Brasil", de Heitor Villa-Lobos, escrita para o filme homônimo de Humberto Mauro; e "Villa-Rica", de Camargo Guarnieri.

 

podcast

Ouça aqui o programa: 

Toda segunda-feira, às 22h, tem "Concertos UFRJ" na Roquette Pinto FM. Sintonize 94,1 ou acompanhe pela internet!

Programas anteriores podem ser encontrados na seção Concertos UFRJ.

Descobrimento do Brasil

 

“Descobrimento do Brasil”, produzido em 1936, é um filme de Humberto Mauro (1897-1983), pioneiro do cinema brasileiro que influenciará a geração do chamado Cinema Novo, nos anos 1960. Em forma de documentário ficcional, narrado a partir de textos extraídos da Carta de Pero Vaz de Caminha, conta a chegada da frota portuguesa às costas brasileiras, em 1500. Para a cena da primeira missa, o cineasta reproduziu o conhecido quadro de Victor Meirelles. “Descobrimento do Brasil” representou o Brasil no Festival de Veneza de 1938.

 

O filme foi patrocinado pelo Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince), a primeira instituição voltada para esta área criada no país. A proposta, transformar o cinema em instrumento avançado de educação. O órgão foi fundado em 1936 e estava subordinado ao Ministério da Educação e Saúde Pública, cujo ministro era Gustavo Capanema. Seu primeiro diretor foi Edgard Roquette-Pinto, antropólogo e positivista identificado com o Estado Novo, que o dirigiu até 1947. Subjacente, o projeto da construção de um país "extraordinário", forjado de cima para baixo, a partir do Estado, onde a natureza seria, mais uma vez, signo da nossa grandiosidade.

 

“Descobrimento do Brasil” é, portanto, um épico que conta uma história oficial, bem a gosto da ditadura varguista, embora tenha sido elogiado por ninguém menos que Graciliano Ramos, escritor que de forma alguma pode ser associado a esta matriz política. "Temos enfim um trabalho sério, um trabalho decente: a carta de Pero Vaz reproduzida em figuras, com admiráveis cenas, especialmente as que exibem multidão", afirmou. A produção alacançou um grande êxito sendo largamente exibida.

 

A trilha sonora de Heitor Vila-Lobos (1887-1059), por sua vez, ressalta o caráter grandioso do filme. Da obra original, com duração de 90 minutos, o compositor extraiu mais tarde quatro suítes, sendo a última delas a mais comumente executada de forma independente nas salas de concertos.

Imagens: Reprodução
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O épico de Humberto Mauro foi restaurado em 1997 e está novamente disponível para os cinéfilos e estudiosos do cinema.

Dividida em duas partes; a primeira, “Procissão da Cruz”, remete ao momento em que os portugueses, após o desembarque, caminham pela nova terra. O coro masculino, que canta em latim, contrasta com o misto que entoa melodias originais indígenas recolhidas por Roquette Pinto. Na segunda, denominada “Primeira Missa no Brasil”, textos tradicionais eclesiásticos, como o “Tantum Ergo”, hino medieval atribuído a Tomás de Aquino, e “Kyrie”, uma das partes da missa, são sobrepostos às vozes femininas, que figuram as índias. Elas entoam sons onomatopaicos, à maneira de vocábulos tupis. Recurso, aliás, que Villa-Lobos adotará outras vezes, como no seu “Noneto” e no Choros no 10, “Rasga o Coração”.

 

A interpretação veiculada foi a do maestro Roberto Duarte à frente do Coro Filarmônico Eslovaco e da Orquestra Sinfônica da Rádio Eslovaca da Bratislava.

 

Suíte Villa-Rica

 

A Suíte Villa-Rica, do paulista Camargo Guarnieri, foi estruturada a partir de trechos da trilha sonora do filme “Rebelião em Villa-Rica”, produzido em 1957 pelos irmãos José Geraldo e José Renato Pereira, que desenvolveram carreira voltada para as tradições culturais de seu estado natal, Minas Gerais.

 

Foto: Reprodução
CamargoGuarnieri
Villa-Rica teria sido o único trabalho de Guarnieri para um longa-metragem.

O enredo conta a história (ficcional, mas baseada em fatos reais) de uma revolta de estudantes mineiros nos anos 1940, durante o Estado Novo, fazendo analogia desses acontecimentos com os da Inconfidência Mineira. Decorridos quase dois séculos, na mesma cidade e nos mesmos logradouros e edifícios históricos, um grupo de estudantes da Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, a antiga Villa-Rica, rebela-se contra a tentativa de transferência da faculdade para outra cidade e passa a conspirar contra os atos arbitrários da instituição. O líder estudantil é conhecido como Xavier e são seus companheiros o poeta Gonzaga, estudante, noivo de Marília, a musa inspiradora dos novos inconfidentes. O diretor da faculdade, Furtado, decreta o aumento das anuidades e a cobrança dos atrasados devidos pelos estudantes. Seus atos provocam uma onda de revoltas, que resulta na tentativa de ocupação da faculdade pelos universitários.

 

Da trilha original, Guarnieri (1907-1993) aproveitou dez números para a organização de sua suíte, mas reestruturou a ordem dos movimentos de modo a adequá-los a uma sala de concerto. A linguagem nacionalista típica do compositor é evidente. Estão presentes a seresta, a valsa e até um baião, com destaque para os solos de flauta, oboé e clarineta. A peça é instrumentada para grande orquestra, com a adição de instrumentos rítmicos brasileiros na seção da percussão. Todo o material temático é original, com exceção do quinto movimento, que aproveita uma melodia folclórica mineira. A estreia aconteceu no Rio de Janeiro em 1958, executada pela Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), com regência do próprio Guarnieri.

 

Já no programa, foi interpretada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), sob a batuta de John Neschling.

 

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Concertos UFRJ resultam de um convênio da UFRJ com a rádio Roquette Pinto, indo ao ar toda segunda-feira, às 22h, na sintonia 94.1 FM. Apresentado por André Cardoso, regente titular da OSUFRJ, as edições podem ser acompanhadas on line ou por meio do podcast (áudio sob demanda) da Roquette Pinto (FM 94,1).

 

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